Para entender um pouco mais sobre a importância e o trabalho dos atletas-guia no mundo do esporte paralímpico, o Olimpíada Todo Dia realizou duas lives com a participação de oito parceiros dos melhores velocistas cegos do Brasil e que integram o Time Naurú.
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Na primeira, no mês passado, Newton Junior, Jonas Silva, David Lincoln, Jackson Silva detalharam a importância e o trabalho da função que exercem.
Nesta quinta (3), Lutimar Abreu Paes, Anderson Machado, Renato Ben-Hur e Rodrigo Chieregatto, mostraram como o mundo dos atletas-guia se entrelaça e a importância de uma mão lavar a outra em busca do sucesso. Confira o papo!
Álbum esportivo completo
O primeiro a falar na live foi Lutimar Abreu Paes, guia de Julio Cesar Agripino, atual campeão mundial nos 1500m rasos. Fundista da classe T11, o medalhista de ouro no Mundial de Dubai é forte candidato para ser subir ao atletismo em Tóquio no ano que vem. Uma das razões do sucesso de Agripino é a estrelada carreira de Lutimar, que já foi atleta olímpico de alto rendimento e teve a honra de participar do maior evento esportivo do mundo.
“Quando a gente ingressa no esporte, o sonho é chegar nos Jogos Olímpicos. E eu pude realizar esse sonho no meu país há quatro anos, nos 800 m rasos. Foi uma coisa maravilhosa,” relembrou Lutimar.
Lutimar deixou o esporte olímpico para ser atleta-guia. Classificado ao lado de Agripino para disputar os Jogos Paralímpicos de Tóquio, terá a honra de “completar o álbum” das grandes competições esportivas no Japão.
“Já disputei Jogos Pan e Paran-Pan Americanos, Jogos Sul-Americanos, Campeonato Brasilero, mundiais olímpicos e paralímpicos… A única competição que falta para o meu currículo é a Paralimpíada. Se Deus quiser, vou participar e fechar com chave de ouro.”
Calouro aprendendo com veteranos
Na sequência, entrou o mais jovem dentre os atletas-guia. Anderson Machado, guia de Lucas Prado, medalhista de ouro nos 100 m rasos, contou que uma de susas inspirações no esporte é justamente Lutimar.
“Conheci-o na minha transição de atleta júnior para adulto. Com certeza ele foi uma vitrine para mim. Aprendi muito vendo-o treinar. Extremamente esforçado. E hoje os resultados dele junto ao Júlio falam por si só,” comentou Anderson.
Anderson foi outro que começou no esporte olímpico, algo extremamente importante em sua carreira no mundo paralímpico. O atleta-guia, entretanto, não era especialista nos 100 metros rasos.
“Eu tive uma breve carreira no mundo olímpico. Não cheguei a disputar Mundial, nem nada. Mas eu era especialista nos 400 metros. A transição para os 100 m foi bem complicada, mas eu fui me adaptando. Os guias mais experientes me ajudaram. E com essa adaptação, o Lucas atingiu os objetivos dele”, comentou Anderson.
Um corredor guia que não corria
Tal qual Anderson, quem também chegou ao esporte paralímpico vindo do atletismo olímpico mas também teve que se adaptar a uma nova realidade nas provas mais rápidas foi Renato Ben Hur, guia de Lorena Spoladore nos 100 e 200 metros rasos. Praticante da modalidade desde pequeno, sua especialidade não era nenhuma prova de velocidade.
“Eu era do salto em altura. Mas aí os treinos não estavam encaixando, o joelho estava doendo e eu comecei a correr e deu certo. Mas os 100 e os 200 metros foram uma consequência de quando eu entrei no mundo paralímpico, nunca tinha feito antes não,” comentou Renato.
A transição entre o mundo paralímpico e olímpico de Renato só aconteceu a convite de Rodrigo Chieregatto, de quem falaremos na sequência. Com os conselhos de Rodrigo aliado a sua velocidade, Renato foi medalhista de prata ao lado de Lorena nos Jogos Paralímpicos Rio-2016.
“Eu entrei meio que de paraquedas. Foi a convite do Rodrigo. Eu não conhecia nada. Surgiu uma história para estudar e participar de um programa de inclusão social. Eu aprendi a lidar com cegos lá,” contou o atleta-guia.
O atleta-guia coach
Renato Ben Hur é conhecido por ser um atleta-guia não apenas dos cegos, mas também de todos os outros atletas paralímpicos. Essa qualidade ele aprendeu com o Rodrigo Chieregatto, fundamental em sua adaptação no esporte, como dito.
Atualmente guia de Ketila Teodoro, o experiente atleta é famoso por seus inúmeros conselhos. Segundo Rodrigo, essa virtude é algo que sempre lhe despertou interesse.
“Eu tenho uma formação em coach. Mas antes mesmo de saber o que era coach, eu já procurava motivar de forma direta e indireta as pessoas. Às vezes a gente pega um atleta, mesmo que ele não seja deficiente visual, em um dia triste. Eu gosto de ir lá e ‘clicar na tomada’ pra ascender a luz dele de novo,” comentou Rodrigo.
Rodrigo foi um dos responsáveis pelo enorme sucesso da carreira da velocista Teresinha de Jesus no atletismo paralímpico. Ele também já aconselhou e motivou diversos atletas de ponta, como Verônica Hipólito. O segredo, segundo ele, é a atitude para se lidar com um atleta
“Desde que eu trabalho no ramo do atletismo paralímpico, há oito anos eu nunca tive aquela sensação de dó. Eu quebrava esse paradigma de que pela deficiência o atleta não consegue praticar o esporte. Eu tenho muito disso pra mim. O cansaço vem pra todos, mas o que vai diferenciar é o esforço,” contou Rodrigo.