Como melhorar o melhor time do mundo? Essa foi a pergunta que Fábio Vasconcelos, atual técnico da seleção brasileira de futebol de cinco se fez quando assumiu o cargo. Em cerca de 20 anos de existência, a equipe nacional entrou em campo 197 vezes e perdeu apenas 12. Além disso, conquistou todos os ouros paralímpicos e é a equipe a ser batida no mundo.
Após quase uma década sendo um dos goleiros da seleção, Fábio Vasconcelos recebeu o convite da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), para assumir a equipe em 2013. Na época, o Brasil já era o tricampeão paralímpico e Fábio não esconde o pensamento que teve quando aceitou.
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“Meu medo no começo era a amizade com os atletas. Eu sai da quadra e virei o treinador, então tinha esse medo. Eu decido as coisas em conjunto, sou parceiro, sou amigo, mas na hora do trabalho tem que ser sério. Os atletas entenderam isso e, apesar das dificuldades no começo, as coisas se encaixaram”.
Estrutura deficiente
Porém a questão ainda se seguia, como melhorar um time que ganhou tudo e se mantém na excelência a tantos anos? Fábio Vasconcelos sabia por onde poderia ir: o profissionalismo. Durante sua passagem pela seleção brasileira, o ex-goleiro entendeu que, muitas vezes por falta de estrutura, os treinamentos e as preparações eram feitas da forma que dava e isso teria que mudar.
Em uma pequena comparação com o futebol convencional, a modalidade paralímpica brasileira também tem jogadores de ataque extremamente talentosos e que estão entre os melhores do mundo. Mas para Fábio Vasconcelos, “só” talento não ganha mais campeonatos. É preciso mais.
“Na minha época, os períodos de treinamentos eram menores e mais raros. Com isso o talento que nós tínhamos resolvia para o Brasil e nos colocou entre os melhores. Hoje, graças a Confederação e ao Comitê Paralímpico Brasileiro, temos uma estrutura maior e treinamos mais. Conseguimos também colocar na cabeça dos atletas que eles precisam ser profissionais, precisam treinar e se manter bem quando não estão na seleção brasileira e que eles tem que estar bem quando forem convocados. Hoje no futebol de cinco todos precisam defender e atacar, o jogo é mais intenso e todos participam. Não importa se é o melhor do mundo ou não, tem que estar pronto fisicamente e tecnicamente para tudo”.
Todos contra o Brasil
No começo dos anos 2000 uma coisa preocupava as pessoas do futebol de cinco. Nas principais competições do mundo, normalmente, as finais eram disputadas entre Brasil e Argentina. Com isso, o receio das pessoas ligadas a modalidade era que os demais países deixassem de ligar para o futebol de cinco e o esporte em si perdesse força.
Contudo, com o passar dos anos, o que se viu foi o contrário. Apesar da seleção brasileira seguir em alto nível e chegar às finais da maior parte das decisões – e consequentemente conquistar os títulos -, os adversários foram se alternando.
Nos Jogos Paralímpicos, por exemplo, em cada uma das decisões o adversário foi um país diferente: Argentina, Irã, França e China. Porém, não são só eles que o Brasil deve se preocupar atualmente. “Em cada edição de Jogos Paralímpicos nós fizemos final contra um país diferente. Somadas a elas temos a Inglaterra, a Espanha, o Japão, a Colômbia que devemos prestar atenção”, comentou Fábio Vasconcelos.
Futuro é logo ali
Tetracampeão paralímpico, pentacampeão mundial e há anos sendo a seleção que todos os países se espelham e querem vencer, como pensar em renovação? Durante muitos tempo, o pensamento de “time que está ganhando não se mexe” vigorou no futebol de cinco e isso nunca foi visto como um erro.
No período em que grande parte das conquistas de nível mundial, a base da equipe era mantida e os títulos seguiam vindo. Contudo, quando assumiu a seleção brasileira, Fábio Vasconcelos viu que precisava pensar alguns anos para a frente e faltavam peças. A saída foi pegar o telefone e usar os contatos.
“Durante alguns anos o pensamento foi manter a base e seguir o trabalho e não estava errado, os títulos estavam vindo e o Brasil estava bem. Mas quando eu cheguei, precisei pensar no futuro, mas olhei para a seleção e não tinha muitos novos jogadores. A saída foi ligar para os técnicos de clubes, amigos, perguntar para os atletas que estavam sendo convocados, se eles conheciam, jogavam ou treinavam jogadores mais jovens. Assim eu fui fazendo, conseguimos fazer uma seleção de novos que hoje facilita essa transição”.
Com esse pensamento de projetar o futuro, Fábio Vasconcelos divide os torneios que o Brasil participa em duas classes e trabalha para que os atletas novos já saibam o que é representar o país. “Torneio preparatório é uma coisa, Paralimpíada e Mundial é outra. Em torneios como o Grand Prix, eu sempre levo 2, 3 atletas mais novos para que eles joguem e quando tiverem a chance em competições maiores vão estar prontos”, finalizou o técnico.