A divulgação da nova relação de contemplados do programa Bolsa Atleta, que ocorreu no último dia útil do governo Michel Temer, fechou da pior forma possível o ano do esporte olímpico e paralímpico do Brasil.
Um ano que começou sofrendo com os reflexos do fim dos investimentos em várias modalidades. Ou alguém aí já se esqueceu que na primeira quinzena deste 2018 houve o fim do patrocínio da principal equipe de atletismo do país, a B3 (antiga BM&F)?
Foi o ano em que o governo Temer editou uma MP (Medida Provisória) atabalhoada, que retiraria um montante considerável de recursos, especialmente para o esporte de base, a tal MP 841.
Uma união de vários entes do setor, raramente vista, pressionou o governo, a ponto de recuar no corte dos recursos. Houve quem, ingenuamente, pensasse que nascia ali um movimento que poderia ajudar a mudar os rumos da política esportiva do país.
A impressão não sobreviveu à eleição do novo presidente, Jair Bolsonaro.
Primeiro, pelo fato de que, ainda em campanha, sua plataforma de governo ignorava completamente o tema esporte. Depois, já eleito, o novo governo anunciou a intenção de reduzir vários ministérios.
Em entrevista ao blog antes do segundo turno da eleição presidencial, o ex-judoca Flavio Canto, um dos integrantes da Atletas pelo Brasil, se mostrava preocupado com os rumos do esporte brasileiro. Ele disse que a entidade irá atuar de maneira firma para impedir que exista um retrocesso e que direitos duramente conquistados sejam retirados.
Cá entre nós, acredito que trabalho não faltará para eles nos próximos quatro anos.
Fim do Ministério do Esporte
Primeiro, com a decisão do novo governo em extinguir o Ministério do Esporte e transformá-lo em uma secretaria, vinculada ao futuro Ministério da Cidadania, que englobará também Desenvolvimento Social e Cultura.
Efeito prático da medida? Acabar com a representatividade do esporte junto ao governo. Afinal, um secretário poderá, no máximo, fazer gestões por recursos junto ao ministro, jamais com o presidente.
A paulada final veio nesta sexta-feira (28). Embora tenha sido assinado por Temer, não tenho a menor dúvida de que o presidente eleito Bolsonaro não achou ruim o novo edital do Bolsa Atleta.
De R$ 70 milhões disponíveis para 2018, os recursos cairão para R$ 53,6 milhões no próximo ano. O edital foi publicado na edição do Diário Oficial.
Talvez a parte mais cruel do novo edital é que ele atingiu exatamente quem mais precisa destes recursos.
Foram cortadas 698 bolsas nas categorias “estudantis”, que são voltadas para destaques em competições escolares, e “base”. Justamente para aquela parcela que mais necessita do programa. Já atletas que contam com outros recursos, incluindo patrocinadores pessoais ou de programas de incentivo militares, seguem contemplados.
É difícil não imaginar o tamanho do retrocesso que o esporte brasileiro viverá nos próximos anos. O corte no Bolsa Atleta foi apenas o primeiro passo.
Feliz ano novo?