Já não causa espanto a ninguém ouvir notícias sobre os problemas de organização dos grandes eventos esportivos mundiais. A Olimpíada Rio-2016, por exemplo, ainda convive com alguns fantasmas desagradáveis. O mais recente deles, a crise envolvendo o Maracanã, com o lamentável embate entre o comitê organizador e a construtora Odebrecht sobre as condições em que o estádio foi entregue (antes e depois dos Jogos).
Da mesma forma, são conhecidos os problemas nas Olimpíadas de Tóquio-2020, com uma primeira versão do orçamento apresentada bem acima daquela prevista quando da escolha da cidade pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), em 2013. O alto custo da aventura olímpica também foi a justificativa apresentada para cidades como Boston (EUA), Hamburgo (ALE) e Roma (ITA) abrirem mão de concorrer aos Jogos de 2024.
Nesta semana, ficamos sabendo que uma outra competição poliesportiva, menos grandiosa, está sofrendo para cumprir suas obrigações. Reportagem do site Inside the Games mostrou que o comitê organizador dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 não pagou uma dívida de US$ 3,3 milhões (R$ 10,6 milhões) para a Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana).
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O valor, referente a taxas de compras de direitos, deveria ter sido quitada originalmente em 2014. Na Assembleia da Odepa realizada no último mês de novembro, acertou-se nova data, 31 dezembro de 2016. Novamente, não foi cumprido e no primeiro dia útil do ano, na última segunda-feira (2), José Quiñones, presidente do comitê olímpico peruano, disse que o pagamento não poderia ser feito. Motivo: não ter recebido os fundos necessários por parte do governo.
Se o ritmo lento das obras de construção da Vila Pan-Americana e das arenas já era preocupante, este calote acendeu o sinal amarelo dentro da Odepa. A ponto do presidente da entidade, Julio Maglione, ser obrigado a entrar no circuito e declarar apoio aos dirigentes peruanos, mas prometer uma solução para o caso nos próximos dias. Ele descarta, ao menos por enquanto, tirar a sede do Pan 2019 de Lima.
Caos político
Os problemas que envolvem a organização dos próximos Jogos Pan-Americanos não são apenas econômicos. Uma forte crise política nos últimos meses no país também tem ajudado a tornar ainda mais difícil o trabalho dos peruanos em deixar tudo pronto para 2019.
Em primeiro lugar, houve uma mudança no governo em julho do ano passado, quando assumiu a presidência do país Pedro Pablo Kuczynski, que venceu por pouca margem a candidata Keiko Fujimori, filha do antigo presidente Alberto Fujimori e que tem ampla força no congresso.
Kuczynski formou seu novo ministério mantendo apenas um nome do antigo governo: Jaime Saavedra, ministro da educação e designado para ser o responsável do governo para ser um dos nomes ligados à organização do Pan-2019. Só que a oposição resolveu usar os péssimos números da educação do país e das acusações de corrupção envolvendo Saavedra no mandato anterior, de Ollanta Humala, para tentar tirá-lo do cargo.
A pressão acabou dando resultado no final do ano passado, quando apareceram irregularidades em compras de laptops e sobre os atrasos cada vez maiores nas obras referentes ao Pan-2019. Em dezembro, Saavedra acabou sendo demitidos. Em seu discurso de despedida, acusou José Quiñones por boa parte dos problemas na organização dos Jogos.
Ainda é arriscado dizer que Lima está ameaçada de perder o Pan. O próprio Maglione, que deverá tentar a reeleição na Odepa enfrentando o brasileiro Carlos Arthur Nuzman, não defende este tipo de ação. Mas é certo dizer que as cidades interessadas em receber os grandes eventos esportivos precisam ter claro que as vantagens compensam os problemas.