Com o desafio cumprido de organizar as Olimpíadas e Paralimpíadas Rio-2016 – embora ainda com dívidas junto a prestadores de serviço e torcedores que não receberam o reembolso de ingressos revendidos – Carlos Nuzman tem como foco em 2017 mais do que seguir na presidência do COB: conseguir vencer a eleição para comandar a Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana).
Depois de anunciar publicamente o desejo de concorrer ao cargo no último mês de novembro, após reunião realizada durante o congresso da Anoc (Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais), em Doha (QAT), Nuzman manteve um silêncio estratégico neste final de ano, evitando até mesmo falar sobre seus projetos para a Odepa, caso fosse eleito.
A Assembleia Geral da entidade, que irá determinar seu novo presidente, está marcada para ocorrer nos dias 27 e 28 de abril, na cidade de Montevideo (URU). A Odepa é responsável pela organização dos Jogos Pan-Americanos, cuja próxima edição acontecerá em Lima, no Peru, em 2019.
Além de Nuzman, sabe-se que outros quatro candidatos manifestaram intenção de disputar o cargo. São eles Keith Joseh (secretário-geral do comitê de São Vicente e Granadinas), Richard Peterkin (representante no COI de Santa Lúcia), José Joaquín Puello (República Dominicana) e Neven Ilic (presidente do comitê olímpico do Chile).
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A princípio, até pelo seu papel recente no movimento olímpico internacional, Nuzman não teria maiores problemas em vencer uma eleição com estes rivais. O problema é que pode aparecer um candidato com peso político no mínimo equivalente: o atual presidente da Odepa, o uruguaio Julio Maglione. Ele assumiu o cargo de forma interina, após a morte do mexicano Mario Vazquez Raña, em fevereiro de 2015.
A notícia da possível candidatura de Maglione foi dada na edição de domingo do jornal “Folha de S. Paulo”. Nos últimos tempos, o uruguaio estaria mostrando interesse em tentar seguir no cargo.
Além da dificuldade natural em enfrentar alguém que já está no poder e conta com a “máquina política” a favor, Nuzman teria um outro fator para se preocupar neste possível embate com o uruguaio. Durante a preparação para a Rio-2016, Maglione, que também ocupa a presidência da Fina (Federação Internacional de Natação) fez críticas duríssimas à organização da Olimpíada brasileira.
Em setembro de 2015, Maglione enviou carta ao comitê Rio-2016 (que era presidido por Nuzman, é bom lembrar) e ao então prefeito Eduardo Paes, sem aliviar nas palavras.
“As recentes decisões do Senhor Eduardo Paes estão denegrindo seriamente a imagem e os valores da Fina e suas modalidades. A situação é um claro desrespeito aos requerimentos da Fina sobre as arenas aquáticas e vão afetar negativamente as condições de segurança e o nível das performances dos atletas. As condições da água em Copacabana podem colocar em risco não apenas o desempenho dos atletas, como também sua saúde”, dizia parte da carta da Fina, assinada por Maglione.
O maior alvo das críticas era a capacidade do Estádio Aquático, instalação provisória localizada no Parque Olímpico e que teve capacidade de 12.500 lugares. A Fina argumentava na época que foi uma queda no padrão olímpico, pois em Londres-2012 o centro aquático tinha condições de receber 17.500 pessoas.
Caso confirme mesmo a intenção de tentar permanecer no poder, Julio Maglione certamente será uma pedra no sapato e tanto nos planos de Carlos Nuzman em conseguir o poder no esporte das Américas.