O rúgbi brasileiro vive um de seus melhores momentos da história. Além do notório crescimento dos Tupis e, especialmente, das Yaras, que estão entre as 12 melhores seleções do mundo, as perspectivas para o futuro também não poderiam ser melhores. A nova gestão da CBRu (Confederação Brasileira de Rúgbi), liderada pela CEO da entidade, Mariana Miné, aposta alto na criação do rúgbi XV feminino, focando na construção da base.
Desde que assumiu o cargo na CBRu há nove meses, Mariana Miné vem investindo na expansão e maior visibilidade do rúgbi feminino em geral, buscando inspirar mais meninas a conhecer e entrar na modalidade, seja dentro ou fora de campo. E faz isso liderando por exemplo.
“A gente vem fazendo um trabalho muito grande para dar mais visibilidade para todas as conquistas e sucessos das meninas. Acho que pelo fato de o rúgbi ser um esporte tão associado à força física, contato, masculinidade, se a gente mostra o sucesso das Yaras, a gente inspira mais mulheres e meninas a irem além do universo feminino estereotipado. E com certeza, a CBRu está puxando essa fila. CEO da Confederação Brasileira mulher… Gera uma estranheza, mas a gente está liderando essa agenda dentro do esporte nacional. A realidade que a gente tem aqui é uma exceção das exceções entre as entidades esportivas, mas precisa virar exemplo”, destacou Miné em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.
Rúgbi XV Feminino
Seguindo o sucesso das Yaras no sevens, o rúgbi XV feminino já é uma realidade. A modalidade é tida como a nova “jóia” da CBRu. Mas nem só de alto rendimento vive o esporte. Pelo contrário. Para chegar ao alto nível, tudo começa pelas categorias de base. E é exatamente esse o foco da entidade para o próximo ciclo olímpico.
“A primeira coisa que mudou [desde sua entrada na CBRu] é o entendimento de que o que nos trouxe até aqui não vai nos levar para um próximo nível de crescimento do rúgbi nacional. Gestões anteriores fizeram um trabalho muito legal de estruturar o rúgbi no Brasil, puxar a profissionalização do esporte, crescendo muito no alto rendimento. Mas nosso entendimento agora é que a gente precisa construir com muita força a base”, explicou a CEO.
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“A gente entra agora em uma nova fase do rúgbi nacional feminino com a construção do projeto de XV. É uma grande jóia e conquista para nós. E diferente dos outros projetos de alto rendimento do rúgbi nacional, que nasceram do alto rendimento, o rúgbi feminino de XV vai nascer justamente da construção da base. Isso é muito importante”, completou.
Primeiros passos
Para dar o pontapé inicial nessa trejetória, algumas ações já foram feitas. No ano passado, foi escrito e captado o projeto do Campeonato Brasileiro juvenil e adulto de rúgbi XV feminino, que não aconteceu em 2021 por causa da pandemia, mas será realizado no ano que vem. Além disso, estão sendo feitas peneiras para jogadoras entre 16 e 23 anos e foi criado o Projeto Nina, focado diretamente na base, como explica Mariana Miné.
“O Projeto Nina é encantador. É para o desenvolvimento da base do rúgbi feminino brasileiro, para impactar crianças de sete a 19 anos. É para impactar o jogo das meninas e reforçar as lideranças femininas. A gente abriu inscrição para os clubes e vieram 19 interessados e não só do eixo sul-sudeste. Escolhemos oito, alguns do centro-oeste, nordeste, o que traz para a gente um super orgulho de estar conseguindo abrir a base do rúgbi nacional”.
E as ações vão também além do rúgbi XV feminino, englobando a modalidade de maneira geral. “A gente não tinha um campeonato nacional juvenil e hoje a gente tem. Vai ser um divisor de águas, até porque ele não é um campeonato de clubes, é de seleções. Antes a gente tinha uma estratégia centralizada de ter toda a equipe de alto rendimento aqui no Brasil. Porque era uma estratégia para a classificação no quali para a Copa do Mundo. Agora a gente entende que tudo começa na base e que, depois, eles precisam continuar o pathway de carreira no exterior, como está começando a acontecer com os Tupis”.
Assim, serão sete competições da modalidade nacional em 2022 : Rugby XV – Super 12 (masculino) e Torneios de seleções regionais (masculino, feminino e juvenil); Rugby Sevens – Super 7s (feminino), Brasileiro de 7s (masculino) e Copa Cultura Inglesa (juvenil masculino e feminino). E a partir de 2023, serão, então, sete torneios femininos e 11 masculinos.
Além dos resultados
O objetivo da nova gestão da CBRu, no entanto, não é apenas no rúgbi competitivo, mas sim em espalhar os valores da modalidade. E uma das iniciativas que tem feito isso é Projeto Sesi, que prega pelo ensino dos valores cidadãos e da prática do rúgbi em sete unidades de São Paulo, com planos de expansão.
“A parceria com o Sesi é também um divisor de águas. A gente firmou parceria com eles em junho desse ano e está indo de vento em popa. A primeira clínica feita em Osasco foi um sucesso. Eu fiquei muito emocionada, porque estou há nove meses aqui, mas tiveram poucos eventos esportivos. Então aquele momento para mim e para os atletas foi muito emocionante. Porque a gente vê o quanto pode impactar crianças e o quão relevante é isso na vida delas”.
“Está muito claro para nós e para os clubes que estão participando que o objetivo ali não é pura e simplesmente apresentar a bola oval e treinar rúgbi. Então tem várias ações para apresentar os valores do rúgbi, o que tem por trás do nosso esporte, o que faz dele um esporte formador de cidadãos na essência. O esporte não está ali só para formar quem vai para o alto rendimento, para os Jogos Olímpicos… O esporte está ali para formar pessoas melhores. Então, eu entendo o esporte como uma ferramenta para uma sociedade melhor”, concluiu Mariana Miné.