Em junho do ano passado, foi criado o Comitê Feminino da Natação Brasileira. O objetivo da iniciativa é proporcionar o crescimento da modalidade, desde as categorias de base até o alto rendimento, construindo um ambiente seguro, saudável e igualitário para as mulheres. Desde então, o grupo cresceu e hoje já conta com 220 mulheres, entre atletas, ex-atletas e treinadoras. E ninguém melhor do que Joanna Maranhão e Giovanna Diamante, membros do Comitê, para explicar a importância dessa rede na série de lives realizadas pelo OTD nesta semana, para comentar sobre a seletiva para Tóquio-2020 e o cenário da natação brasileira.
“Para mim, é uma esperança e um alívio ver essas meninas se mobilizando. Eu assisti essas mulheres se empoderando, fazendo conteudo incríveis, contando a história de quem veio antes, o que eu acho muito importante. A natação feminina do Brasil sempre viveu de ‘bola da vez’ e eu falo com propriedade, porque eu fui uma delas. Só que a gente não pode viver assim. A gente tem que ser respeitada enquanto mulher e enquanto atleta”, destacou Joanna Maranhão.
“O Comitê vem unindo gerações. Aacho que o contato com as meninas mais novas faz muita diferença, a gente podendo passar experiência… E ele também abriu mais as portas da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), porque eles prontamente quiseram vir falar com a gente, o que é muito bom”, completou Giovana Diamante.
Rede de acolhimento
Um dos focos de atuação do Comitê Feminino da Natação Brasileira é ser um canal de denúncia de todos os tipos de assédios. Mas sobretudo, o principal é proporcionar uma rede de acolhimento para essas meninas, mostrando que elas não estão sozinhas.
“Nosso canal é anônimo e a gente direciona para a CBDA para eles entrarem com o processo legal. A nossa parte é mais de conscientização sobre o que acontece e o que não pode ser feito. Às vezes quem está começando não sabe quando estão passando dos limites com elas… Então é fazer elas entenderem onde está o erro e até onde podem aceitar as situações”, explicou Giovanna Diamante.
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“A denúncia não é o fim, é só o começo. Então além do canal de denúncia, você precisa ter o apoio e o acolhimento, um espaço onde você possa compartilhar sua história e se identificar… Isso é muito importante e um passo gigantesco. A gente precisa de uma educação constante para saber o que pode e o que não pode”, completou Joanna.
Perspectivas para o futuro
Com menos de um ano, a criação do Comitê Feminino já vem surtindo efeito, especialmente na nova geração de nadadoras. O projeto, no entanto, é pensano especialmente a longo prazo, na construação de uma natação feminina sólida, que tenha continuidade e ser devido valor. É o que esperam Joanna e Giovanna.
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“Eu entrei na seleção em 2002 e só fui ouvir falar em ginecologia do esporte em 2013. Eu tinha que treinar que nem homem, não podia chorar… Então a gente falar sobre a experiência da mulher na natação está longe de se resumir ao tempo das provas. É toda uma estrutura… E é perturbador pensar em quantas mulheres deixaram de seguir na natação, porque é um ambiente muito cruel. O sistema é tão patriarcal que a gente tem treinadora na base, mas quando a coisa fica séria, no alto rendimento, só tem homem. Então independente de ter chance ou não, as meninas tem que estar lá [nas competições]. Não dá para parar e esperar que de quatro em quatro anos elas tenham resultados ótimos sem apoio”, destacou Joanna Maranhão.
“De agora em diante, pensando que começa mais um ciclo, espero que a gente possa ver mais projetos na natação feminina desde a base. Espero que comecem a olhar com outros olhos, que seja valorizada. E a gente, no Comitê, está aberto para essas menina. Para tudo, porque a gente quer ver elas evoluirem”, concluiu Giovanna Diamante.