*Texto de Etiene Medeiros, da natação do Brasil, sobre a relação com o corpo mulher
“Habito um corpo mulher”. Essa é a frase e tema que eu venho me aprofundando mais. O corpo da mulher é muito visto como um produto sexual e de atração para a sociedade de uma forma sexualizada. Desde pequena isso é muito refletido na sociedade. Quando era adolescente, eu sofria um pouco com a aceitação do meu corpo, pelo sentido de que a nadadora vai crescer com os ombros largos. Nadadora vai ficar com braço forte. Vai ter definição no corpo. Isso foi uma das coisas que tive de lidar quando adolescente. De aceitar. Assista ao vídeo acima!
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Fui criada numa família e numa sociedade que olha e olhava o padrão. E o padrão era o que? Cabelo liso, corpo chapado. E, não, no esporte cada um tem um corpo. Cada modalidade tem um biotipo de corpo para atleta. E, hoje, em 2020, está mudando muito.
Passei no processo de aceitação e, logo depois, quando saí de casa, com 20 anos, vi que não era isso que eu queria. O que eu buscava na natação era uma excelência. Eram valores de representatividade, de foco e responsabilidade, e não valores de estética. E no esporte tem muito disso. De você entrar para um esporte e querer estética, queima de gordura para ter uma barriga chapada. E não é isso.
Aos 20 anos, eu realmente aceitei algumas coisas no meu corpo e não foi fácil. Foi um processo de auto-conhecimento e aceitação. De empoderamento. De encarar que eu estou em uma vida, em um processo. E a vida é minha. Tenho que me aceitar da forma que eu sou, e as pessoas me aceitarem como sou e estou.
Isso venho falando há pouco mais de um ano e meio para cá, sobre o corpo, como está sendo minha relação. Já passei por várias fases de dietas mirabolantes. De emagrecimento. Mirabolante que eu digo, de sair completamente dos meus valores. De ter que comer uma coisa, mas não comer feliz. E buscar um peso ideal, que muitas vezes é um peso que a sociedade, ou então que alguns profissionais colocam como foco, mas nem sempre aquilo pode ser o melhor para você.
Hoje, com 29 anos, eu busco algo que realmente seja o ideal para mim. Um equilíbrio de felicidade com prazer e excelência. E isso me dá um corpo suficiente para eu poder dar meu resultado bacana, que seja meu sonho. A relação do corpo com Etiene Medeiros é uma relação muito amorosa. Meu corpo é movido a ciclos. De 21 a 28 dias eu reconheço um novo corpo. A mulher passa por processos que o homem não passa, que é o processo menstrual. Processo único da mulher. Quando o tempo está nublado, ela vai responder de uma forma. A mulher é muito ligada à natureza. A gente sabe disso.
E isso, com 29 anos, eu falo que me sinto muito responsável por estar me olhando profundamente e me identificando como uma mulher feliz com o meu corpo. Tive fases da minha vida, com 15 anos, 20 anos. Vou ter a dos 30, que estou caminhando e tenho que respeitá-lo. Ele vai estar respondendo para mim, que isso eu posso e isso eu não consigo, que não me fará feliz.
Tenho que ter a responsabilidade de escutar o meu corpo. Vejo que a minha relação com ele é muito amorosa. Amo todas as minhas partes do corpo. Tenho minhas partes que eu me acho muito sensual, super elegante. E tem algumas que eu tenho um cuidado maior, para não deixar que ela “resseque”, vamos dizer assim entre parênteses.
Que meu corpo esteja sempre florindo e me alegrando, porque sem esse corpo, que eu habito, eu não sou nada. Tenho que primeiro amá-lo e depois pensar em qualquer outra situação que seja envolvida ao meu bem estar.