*Texto de Babi Arenhart, goleira da seleção feminina de handebol para o dia do orgulho LGBTQIA+
Eu venho de uma família grande. Tenho duas irmãs, a mais velha de nós com Síndrome de Down, e um irmão. Nossa infância foi muito feliz! Sempre fomos de brincar muito, jogar bola na rua… sempre todos juntos e muito unidos.
Somos do tempo em que tudo virava brinquedo, em que televisão era coisa de adultos e isso nos fez crianças muito livres. Crescemos num entorno de muito amor, respeito e união, e assim é até hoje. Inclusive, quando o handebol entrou na minha vida, ele entrou também na vida da minha família toda. Começamos a jogar juntos, com pais na arquibancada sempre e minha mãe também fazia parte do grupo de mães que acompanhava a gente nas viagens mais longas.
Minha adolescência foi respirar handebol. Eu passava horas na escola. Quando não estava treinando com o time, estava brincando de jogar handebol no pátio ou em qualquer lugar que isso fosse possível. Nós sempre tivemos muitos amigos, casa cheia, e o amigo de um logo se tornava amigo de todos.
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Tive o privilégio de viver e conviver com as mais variadas realidades, e isso, somado ao fato de a nossa educação em casa sempre ter sido baseada em amor incondicional, fez com que tudo fosse menos complicado na hora de entender o que estava acontecendo comigo. Eu digo que sou uma pessoa livre, sem rótulos. Não sinto a necessidade de ter uma sexualidade definida. Então essa parte de “descoberta” da sexualidade aconteceu de uma forma natural.
Na minha família, num primeiro momento foi tudo novo e uma surpresa pra todos. Meu pai foi quem levou mais tempo para assimilar, por conta do medo que ele tinha do que eu pudesse vir a sofrer. Mas eu tive muito apoio dos meus irmãos desde sempre, e com os meus pais tudo foi se tornando mais natural com o passar do tempo. E o que eles entenderam e sempre disseram é que a minha felicidade é o que mais importa.
No meio esportivo eu nunca tive problemas com preconceito, bem pelo contrário. Entendo isso como um privilégio, sempre fui muito bem aceita por onde passei. Acredito que o fato de a homossexualidade, na época, ser mais “normal” no meu meio do que na vida fora do esporte, eu nunca tive que falar nada para ninguém, e nunca senti essa necessidade de expor a minha vida, assim como é nos dias de hoje.
O que mais me marca, na verdade, é como, ainda atualmente, existe preconceito. Todos nascemos e vivemos da maneira que escolhemos. Não entendo como as escolhas de outros podem ser um problema da sociedade. A liberdade faz parte de tudo o que a gente faz na vida, das coisas mais simples às mais complexas. Cada um deveria ter o direito de ser livre e fazer as suas escolhas sem que isso tivesse que ter consequências, muitas vezes muito dolorosas.
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O esporte ensina e muito. E não só a como sermos competidores de elite, a brigar por títulos, mas também a nos tornarmos seres humanos melhores para viver em comunidade. A questão LGBTQIA+ não deveria nem ser citada como uma exceção ou ter uma discussão especial. A liberdade da qual tanto falo diz respeito a isso também. Se o mundo fosse mais justo, a luta LGBTQIA+ não precisaria existir.
Tanto no esporte quanto na vida como cidadãos, buscamos pessoas com as quais nos identificamos, que sejam referências e que nos ajudem a ver que somos todos iguais. A representatividade importa e muito! Nem todos têm o privilégio que eu tive de ser amada e respeitada acima de tudo, começando dentro de casa. Acredito que demonstrar isso seja uma maneira de ajudar as pessoas a verem que todo mundo merece ser tratado com amor, justiça e compreensão. O respeito às diferenças mora dentro de cada um e se a gente abrir um pouquinho a mente, vai perceber que é muito mais fácil praticar a tolerância do que parece.
A razão da semana LGBTQIA+
Este texto dá sequência à série de matérias do Olimpíada Todo Dia sobre o tema LGBTQIA+. O período foi escolhido por ser a semana do dia 28 de junho, reconhecido como dia do orgulho LGBTQIA+.
Vale ressaltar que o respeito e a visibilidade à comunidade devem prevalecer sempre, assim como a luta pela diversidade no esporte, e não apenas no mês do orgulho LGBTQIA+.