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A escancarada diferença no patrocínio de homens e mulheres

A multicampeã Erika trouxe o tema a tona, como já fez Marta e tantas outras. E ainda assim, passado o tempo, a discussão continua

Erika - Marta - Patrocínio - Diferenças de patrocínio
Marta e Erika trouxeram a discussão sobre diferenças nos patrocínios (Instagram/goequal e erikasouza14)

Marta, seis vezes melhor jogadora do mundo e maior artilheira de todas as Copas. Jogou o Mundial do ano passado sem patrocínio. Erika de Souza, campeã da WNBA e oito vezes campeã do Campeonato Espanhol de basquete. Nunca teve patrocínio. Dois dentre milhares de exemplos que escancaram a diferença de patrocínio entre homens e mulheres no meio esportivo e necessidade da luta por igualdade.

A discussão foi trazida a tona esta semana justamente pela pivô da seleção brasileira. “Eu quero entender qual é o critério para escolha de quem vai ser apoiado. Eu tenho um título da WNBA, oito do Espanhol, uma Euroliga, uma LBF, além de quatro (participações em) Olimpíadas. Sabe quantas marcas quiseram fechar contrato comigo? Nenhuma. Por que será? Talvez por eu ser mulher ou ser negra”, questionou em suas redes sociais. 

O assunto, no entanto, não é propriamente novo. Mas vira e mexe volta ao centro das atenções. Uma pesquisa da empresa de tecnologias Visua de 2018 apontou que “o esporte feminino atrai apenas 1% do mercado de patrocínios”. O que, claramente, se reflete dentro das modalidades.

Já imaginou chegar em uma competição e não ter uniforme? Ou ter que reutilizar uniforme usado por outra pessoa? Pois é. “Muitas vezes fomos para a seleção com os uniformes do masculino e não tinha nem como colocar o nome, porque outros já tinham usado. No Mundial da Turquia em 2014 foi um sacrifício porque a gente não tinha uniforme”, disse a pivô em live com Glenda Kozlowski.

Além disso, Erika destacou os kits dados pelas marcas aos jogadores, que muitas vezes são maiores, inclusive, do que os salários das mulheres. “O valor de um kit desse enviado aos jogadores é muito mais que o salário mensal de muitas meninas. Dinheiro que ela precisa colocar em casa pra ajudar a família”.

O caso Marta e futebol

Ser eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo não é para qualquer um. Mas o feito parece não ser reconhecido o suficiente quando se trata de Marta. Assim como Erika, na Copa do Mundo do ano passado, a camisa 10 do Brasil usou sua voz e optou por jogar sem patrocínio, porque não houve uma proposta que fosse considerada à altura do que ela representa para o futebol mundial. Por isso, deu início à campanha Go Equal (pagamento igual em tradução livre), que exige justamente igualdade entre atletas homens e mulheres.

No ano passado, a tradicional revista France Football revelou que Marta recebe o quinto maior salário do futebol feminino: cerca de R$1,5 milhões por temporada. Pois sabe quanto ganha Lionel Messi? Mais de RS650 milhões. 

Marta - Erika - Patrocínio - Igualdade
Chuteira sem patrocínio com as cores representando igualdade (Instagram/goequal)

A situação se agrava, no entanto, se a gente pensar em dois pontos. Primeiro é que, mesmo a realidade de Marta sendo inferior a dos astros do futebol masculino, ela ainda é absurdamente superior à da maioria das jogadoras brasileiras.

Recentemente, as atletas do time amador do Vitória denunciaram um descaso do clube, que recebeu um repasse de R$120 mil da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) para ajudar a manter a modalidade feminina, mas nenhum valor chegou à elas, que não recebem desde abril. Isso sem falar no fato de elas nem se quer terem contrato firmado com o clube, mais uma realidade, infelizmente, ainda frequente no Brasil.

Além disso, em termos de patrocínio, no Campeonato Brasileiro, a extensão dos acordos do masculino para o feminino tem sido a solução encontrada pelos clubes para conseguirem alguma receita para as equipes. Isso porque são poucos os que conseguem patrocinadores exclusivos para as mulheres.

E o segundo ponto é que o futebol, mesmo o feminino, atrai mais atenção do que tantos outros esportes. Então se a realidade é essa no futebol, imagina em outros esportes, que têm menos visibilidade e apoio? Ou que só têm visibilidade e apoio – e cobrança – quando chega a Olimpíada? 

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Visibilidade e o valor de mercado

Há, no entanto, quem questione a luta dessas mulheres por igualdade sob alegação de que como querem mais dinheiro, se não atraem metade do público que tem o esporte masculino? “Ué, para gerar renda, tem que ter visibilidade!”

Entramos, assim, em um ciclo vicioso. Como gerar visibilidade, se não há apoio e investimento suficiente para gerar igualmente qualidade? Uma coisa puxa a outra. Sem investimento, não tem qualidade. Sem qualidade, não tem visibilidade. Mas e aí? Como quebrar o ciclo? 

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Sempre gosto de citar o caso da NFL. A liga de futebol americano foi uma aposta da ESPN, que a trouxe ao Brasil em uma época que a modalidade não era assim tão conhecida. Hoje, o Super Bowl bate recordes de audiência. E por que? Porque apesar da qualidade indiscutível do campeonato, alguém acreditou e apostou nela. Pois então, por que não acreditar e apostar em algum campeonato feminino, e de preferência local? 

O problema, portanto, não é necessariamente o fato de que o esporte feminino simplesmente não gera o mesmo público que o esporte masculino. Ou que o esporte feminino não é “legal de assistir”. O problema é que as atitudes das marcas em relação ao patrocínio do esporte feminino precisam mudar. Afinal de contas, a bola é redonda para todos.

“Não quero que o masculino não tenha apoio. Respeito todos os meninos e eles merecem. Mas quero que o feminino também seja apoiado e patrocinado. Isso chama-se igualdade. Então, se uma empresa quer realmente fazer a diferença, apoie quem realmente precisa. O mundo mudou, vocês não entenderam ainda?”, finalizou Erika.

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