Foi um Jogos Pan-Americanos de recordes para o Brasil. Muitos recordes. Maior número de medalhas (205 contra 169 de Lima-2019), maior número de ouros (66 contra 54 de Lima-2019), maior número de pratas (73 contra 45 de Lima-2019), dia com mais medalhas (35, no sábado 4 de novembro, contra 27 da sexta-feira final do Rio-2007), maior número de modalidades com medalha (41, contra 38 do Rio-2007 e Lima-2019), maior número de modalidades com ouro (26, contra 23 do Rio-2007 e Lima-2019), maior número de atletas com medalha (377, contra 307 do Rio-2007), entre outros.
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Foi lindo, emocionante, histórias incríveis, atletas que entram definitivamente para a história do esporte brasileiro, novos nomes que nos dão muita esperança, mas o foco total a partir desta segunda-feira é um só: Paris-2024. Vou tentar destrinchar cada esporte deste Pan e o que isso significa para os Jogos Olímpicos do ano que vem.
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- Conegliano bate Milano e Gabi põe Brasil em decisão do Mundial
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- Praia ensaia reação, mas é derrotado pela sensação do Mundial
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Natação
Medalhas em Santiago: 27 (7-8-12)
Foi um ótimo Jogos Pan-Americanos da nossa natação, mesmo com a presença de uma boa equipe dos Estados Unidos, com alguns medalhistas olímpicos, e da equipe canadense quase completa, tendo como grande ausência Summer McIntosh.
Dois Guilhermes destaques no masculino
No masculino, foram dois destaques: Guilherme Caribé, na velocidade, e Guilherme Costa, nas provas de fundo. Caribé venceu os 100m livre (48.06) com boa marca e fez parte de 3 revezamentos, com grande destaque para o 4x100m medley, onde ele fechou para excelentes 46.94. Com apenas 20 anos, já mostrou que pode ser um dos destaques em Paris. Já o Cachorrão conquistou a tríplice coroa do fundo (400m, 800m e 1.500m) além de fechar o revezamento 4x200m livre. Medalhista no Mundial de 2022, ele bateu na trave nas finais do Mundial deste ano, mas tem tudo para pegar uma medalha em Paris. Os revezamentos 4x100m livre e 4x200m livre devem brigar por um top-6 em Paris.
Já no feminino, não veio nenhum ouro, mas os destaques foram vários. Maria Fernanda Costa perdeu 3 ouros por centésimos e está mordida. Nesta semana brilhou mais uma vez no Troféu José Finkel com índices para o Mundial e para Paris. MaFe mostrou enorme evolução e dá para pensar em finais olímpicas nos 200m e 400m livre. Stephanie Balduccini foi o nome do revezamento 4x100m livre misto. Ela fechou para 53.43 para buscar o ouro pro Brasil. Teté começou há pouco tempo seu tempo nos Estados Unidos na forte equipe da Universidade de Michigan e deve evoluir demais até os Jogos.
Outro nome que chamou grande atenção foi o de Gabrielle Assis, nos 200m peito. Ela pegou a medalha de bronze, mas tem evoluído demais e está firme em busca do índice olímpico. Não me surpreenderia uma final olímpica para ela. A prata da Ana Marcella Cunha não é nem um pouco preocupante. Ainda a mantenho como um dos principais nomes pro pódio em Paris.
Atletismo
Medalhas em Santiago: 23 (7-10-6)
Foi um Pan bem fraco no atletismo. Fim de temporada, muitas desistências, muito frio, chuva, mas dá para tirar algumas coisas boas.
A principal delas se chama Renan Gallina. Uma joia do atletismo brasileiro de apenas 19 anos, Gallina já nos havia surpreendido com os 20.12 nos 200m em setembro/22 e com os 10.01 nos 100m em maio deste ano. Uma lesão o tirou do Troféu Brasil, mas fez um bom Mundial, chegando na semifinal. Agora no Pan, brilhou demais na última quinta-feira correndo 3 vezes em pouco mais de 2 horas. Fechou muito bem nas eliminatórias do revezamento 4x100m, venceu os 200m com 20.37 e, uma hora depois, voou para fechar o revezamento mais uma vez e dar o ouro com 38.68. Ainda muito jovem, mas já com excelentes marcas. Já dá para vê-lo em finais olímpicas.
Com dois ouros e uma prata, Lucas Vilar fez ótimas parciais dos 400m, vencendo a prova individual com 45.77 e ajudou muito bem os revezamentos 4x400m misto e masculino. Este último, aliás, se bem trabalhado, briga por final olímpica ou até por uma medalha, principalmente com a presença do Piu. Quem fez parte desse revezamento foi Matheus Lima da Silva, que também pegou prata nos 400m com barreiras. Com 20 anos, ele começou no atletismo há muito pouco tempo e treinava em condições muito ruins. Com novo técnico e nova pista, já foi campeão sul-americano este ano e tudo para ser o sucessor do Piu, apesar deste também ser muito jovem.
Ginástica Artística
Medalhas em Santiago: 14 (3-9-2)
A equipe feminina chegou já credenciada após a prata por equipes no Mundial e, mesmo sem Rebeca Andrade fazendo solo e individual geral, fez muito. Acho que nem preciso falar aqui o que a Rebeca pode fazer em Paris, mesmo com uma Simone Biles na concorrência. E também na força de Flávia Saraiva e na importância da Jade Barbosa e da Júlia Soares para a equipe.
No masculino, Arthur Nory não conseguiu a vaga olímpica ainda, mas ela deve vir na Copa do Mundo. Sua prova de barra fixa vai sim brigar por medalha olímpica. Diogo Soares tinha feito uma bela final do individual geral no Mundial e também brilhou nos Jogos Pan-Americanos. Briga por um top-8 em Paris.
Ginástica Rítmica
Medalhas em Santiago: 13 (8-4-1)
Foi com certeza a queridinha desse Pan. Bárbara Domingos mostrou que vai sim brigar muito em Paris, com apresentações seguras, sem erros e com muita dificuldade. E o que falar de Maria Eduarda Alexandre, de 16 anos? Com sua elegância, leveza e perfeição, deu show e vai ser um dos grandes nomes da modalidade no mundo nos próximos anos.
O conjunto foi muito, muito bem na apresentação dos 5 arcos, com notas espetaculares. Já no conjunto misto, não foi bem no 1º dia, mas cravaram tudo na final por aparelhos. Já tinham feito um Mundial espetacular, mesmo com alterações entre as integrantes. É um conjunto que chega muito cotado para Paris, podendo fazer história.
Boxe
Medalhas em Santiago: 12 (4-5-3)
Foi uma campanha absurda da equipe brasileira, com espetaculares 9 finais e 9 vagas olímpicas em 13 categorias possíveis. Só um boxeador não levou medalha. Quatro ouros femininos, mas duas lesões e uma derrota questionável do Keno Machado para o cubano Julio Cesar La Cruz nos 92kg nos impediram de ouros no masculino.
Equipe chegará muito bem em Paris, cotada para várias medalhas entre homens e mulheres. Será também uma campanha histórica.
Judô
Medalhas em Santiago: 16 (7-3-6)
Campanha excelente, a melhor da história em ouros e em medalhas. Apesar disso, nos mostrou a grande deficiência brasileira: a categoria 70kg feminina. Mesmo com duas atletas, ficamos sem medalha e perigamos ficar de fora dos Jogos Olímpicos. A lesão de Daniel Cargnin também preocupa, mas não deve tirá-lo de Paris.
Ao todo, foram 59 vitórias e 20 derrotas, destas, 8 para cubanos (4 na final por equipes), que ainda se mostram uma enorme pedra no sapato dos brasileiros. A derrota na final da prova por equipes, aliás, foi uma das mais duras deste Jogos Pan-Americanos.
Canoagem
Medalhas em Santiago: 8 (3-5-0)
A canoagem slalom foi de um nível bem abaixo e o fato de ter apenas um por país por prova fez provas curtas e de nível técnico muito díspare. Ana Sátila foi o destaque com dois ouros e segue como grande nome para Paris.
Já na velocidade, a falta de renovação segue preocupando. Isaquias Queiroz competiu numa fase ainda inicial de treinamento após um ano quase sabático. Pegou a prata no C-1 1.000m atrás de cubano, mas tudo indica que chegará em Paris no seu auge. A prata da dupla do C-2 500m foi muito interessante, ainda mais com nomes novos, ambos com 21 anos. Já a canoa feminina e o caiaque em geral são uma enorme preocupação.
Tênis
Medalhas em Santiago: 5 (3-1-1)
Numa programação complicada, o Brasil conseguiu um dos principais objetivos, que era a vaga olímpica da Laura Pigossi. Medalhista olímpica, mostrou mais uma vez uma garra incrível para virar na semifinal e vencer o ouro na decisão. Novamente ao lado de Luisa Stefani, foi ouro nas duplas. Ainda não dá para saber quais serão as duplas, mas a força do tênis feminino brasileiro vem forte.
Tênis de Mesa
Medalhas em Santiago: 7 (2-4-1)
Hugo Calderano está num outro patamar nas Américas. 4º melhor do mundo, ele foi pouco ameaçado em Santiago e faturou um inédito tricampeonato pan-americano, além de retomar o ouro por equipes perdido em 2019. Hugo se mantém como um dos únicos fora chineses que pode medalhar em Paris.
Apesar de 3 derrotas em finais, Bruna Takahashi evoluiu demais este ano, fazendo frente à porto-riquenha Adriana Díaz e às americanas. Crescendo no ranking, pode fugir das principais atletas do mundo nas rodadas iniciais e até chegar numa oitava ou quarta de final.
Triatlo
Medalhas em Santiago: 2 (2-0-0)
Miguel Hidalgo deu show na prova individual. Ele já está entre os melhores do mundo e vem se credenciando para um excelente resultado em Paris. O revezamento também vem com ótima formação, com destaque principalmente para a corrida de Manoel Messias e a natação da Vittoria Lopes. A equipe brigará por um top-8 nos Jogos.
Wrestling
Medalhas em Santiago: 4 (2-1-1)
O Brasil só tinha um ouro na história da luta e faturou mais dois nos Jogos Pan-Americanos do Chile. Laís Nunes e Giullia Penalber conquistaram ótimas vitórias, com destaque para a semifinal de Laís contra a americana Kayla Miracle. As duas podem surpreender em Paris, principalmente se conseguirem uma boa chave no sorteio.
Hipismo
Medalhas em Santiago: 6 (1-3-2)
Pela 1ª vez na história, o Brasil conquistou medalha nas 6 provas do hipismo. Resultado excepcional principalmente no adestramento, com a incrível performance de João Victor Marcari, prata no individual e na equipe. Indo para sua 3ª Olimpíada, João e seu espetacular cavalo Feel Good VO podem surpreender e conquistar um resultado histórico em Paris. Brigar por medalha será duro, por conta da força de alemães, holandeses e britânicos, mas um top-8 começa a parecer realidade. Nos saltos, Stephan Barcha foi extremamente consistente para vencer o ouro individual. A equipe também tem ótimos conjuntos e vai brigar por medalha em Paris, onde não há espaço para erros, já que não há descarte.
Taekwondo
Medalhas em Santiago: 5 (1-1-3)
Talvez este tenha sido a grande decepção dos Jogos Pan-Americanos. O ouro veio na não-olímpica prova por equipes, mas isso não é o fim do mundo. Apesar de derrotas precoces nas provas individuais, os brasileiros fizeram um grande mundial e teremos uma equipe competitiva e que novamente brigará por medalhas em Paris.
Esgrima
Medalhas em Santiago: 5 (1-0-4)
Foi um ouro feminino inédito na espada por equipes, mas o Brasil só deve ter chance em Paris com Nathalie Moellhausen, que sofreu com uma lesão em Santiago, mas ajudou muito a equipe na final. A espada é a arma mais imprevisível da esgrima, então tudo pode acontecer.
Coletivos
A única vaga olímpica coletiva conquistada nos Jogos Pan-Americanos foi a do handebol feminino. O Brasil simplesmente passou por cima nas 5 partidas, com 164 gols, e sofrendo apenas 63. Sem adversários no continente, o Brasil já não terá a mesma facilidade em Paris, com duelos duríssimos contra europeus. A equipe tem o Mundial ainda este ano, que servirá de medida para os Jogos.
Handebol e pólo aquático masculinos perderam suas finais e ficaram sem vaga olímpica. Terão um trabalho dificílimo pra conquistar a classificação em 2024. Handebol vai pros pré-olímpicos mundiais contra europeus e o pólo terá que brigar por apenas 4 vagas no Mundial de 2024.
Outros esportes
Foram três ouros e apenas duas vagas olímpicas na vela. Martina Grael e Kahena Kunze tem tudo para buscar o tricampeonato olímpico. Não foram bem no Mundial, mas velejaram bem demais no evento teste em Marselha, onde serão disputados os Jogos. Bruno Lobo no Kitesurf é a outra única chance de medalha pro Brasil.
O tiro com arco saiu dos Jogos Pan-Americanos de Santiago com três medalhas. Marcus D’Almeida foi eliminado cedo, ainda nas 8as, mas o ano espetacular do arqueiro é suficiente para ainda mantê-lo como um dos favoritos ao pódio olímpico. Muito bom ver a prata individual de Ana Machado, inclusive com uma belíssima vitória na semifinal sobre a número 2 do mundo Casey Kaufhold. Dá uma bela esperança também para as duplas mistas em Paris.
Quatro medalhas na ginástica de trampolim são animadoras. Mas o que mais chamou a atenção foram as excelentes notas nas finais de Camilla Gomes (53,840) e Rayan Dutra (58,720), ambos medalha de prata. Se repetirem, brigam por vaga na final olímpica e até por medalha.
O remo tem apenas um nome: Lucas Verthein. O esporte teve duas medalhas, mas o ouro do Lucas quebrando um jejum de 36 anos o coloca como favorito para uma final em Paris. Ele foi bem no Mundial e tem grandes chances de repetir a ótima atuação em Tóquio também em Paris.
Basquete 3×3 como destaque negativo
O basquete 3×3 foi um dos principais resultados negativos nos Jogos Pan-Americanos. A equipe masculina foi 4ª colocada no Mundial, mas a derrota nas 4as do Pan para a inexpressiva Trinidad & Tobago foi muito decepcionante. A vaga olímpica é muito dura, pois são muito poucas e há poucas oportunidades. E a performance no Pan não foi nada animadora.
Ciclismo, levantamento de peso, badminton, nado artístico, saltos ornamentais e tiro tiveram atuações coadjuvantes no Pan, todos irão levar atletas para Paris, mas novamente devem passar desapercebidos nos Jogos.
Os Jogos Pan-Americanos foram excelente para o Brasil? Lógico que foi, trouxe evidência, bateu recordes, vai levar muito dinheiro a várias confederações, mas ficou distante do público em geral com a falta de transmissão em TV aberta ou fechada.
O Brasil tem tudo para fazer uma campanha histórica em Paris, podendo chegar às 30 medalhas pela primeira vez. Mal posso esperar!