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Orgulho LGBTQIA+

Jornalistas LGBTQIA+ falam do desafio em buscar o ‘natural’

Maíra Nunes, Julia Belas e Alê Xavier comentam quais os desafios que enxergam na comunidade que fazem parte

“Temos que tratar de forma natural, porque é natural”. A frase é de Alê Xavier, apresentadora do canal Desimpedidos. Homossexual assumida, a jornalista foi uma das três profissionais entrevistadas de forma exclusiva pela reportagem do Olimpíada Todo Dia na busca para entender melhor como é ser da comunidade LGBTQIA+ e estar na cobertura esportiva.

Além de Alê Xavier, que é lésbica assumida, a reportagem conversou com Maíra Nunes, do Correio Brasiliense que é bissexual, e com Julia Belas, que também é bissexual. Apesar de estarem em momentos diferentes no processo de reconhecimento e entendimento da orientação sexual, segundo palavras das entrevistas, todas nunca sofreram algum tipo de discriminação ou preconceito por conta disso no trabalho.

Mesmo com esse lado positivo na história das três jornalistas, as profissionais, cada uma a sua maneira, vê que o grande desafio da cobertura do jornalismo esportivo é buscar tratar como algo natural e normal o que hoje é visto como estranho.

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“Acredito muito que por fazer parte da comunidade, eu tenho mais facilidade para reportar os assuntos relacionados a ela. Os LGBTQIAP+ estão no esporte, então por que não falar? Por que o preconceito? Por que só valorizar neste período específico?”, comentou Julia Belas.

Os desafios

Profissionais da comunicação, o trio concorda que o maior desafio no ato de reportar e falar sobre a comunidade LGBTQIAP+ está na dificuldade de naturalizar a questão. Apesar de cada letra da sigla significar um segmento que se diferencia, todos precisam e querem falar e ser respeitados.

“São pessoas normais e casais normais como qualquer outro. Falar hoje, essa semana, esse mês é lindo, mas e as outras semanas? E o restante do ano? O passo mais importante é respeitar, querer respeitar. As pessoas podem não concordar e respeitar. Querer entender como é a vida e o dia a dia LGBTQIA+, não se sentir confortável com a situação e mesmo assim respeitar. Vão criticar, as pessoas vão falar, mas eu não vou deixar de ser eu e falar sobre essa questão”, comentou Alê Xavier.

Para Maíra Nunes o processo é desafiador e lembra muito a questão de respeito e valorização da mulher nos ambientes do dia a dia. “Acredito que se assemelha bastante com a questão da mulher. É um desafio diário, mas é aquela história de ir conquistando e buscando repeito no dia a dia, nas pequenas coisas, até que tudo seja mais natural”.

Para Julia a pergunta que se tem que fazer é “porque?”. “Por que não falar, não conversar a repeito ou esconder? Eu sinto a necessidade e em alguns momento a obrigação de mostrar e falar da comunidade LGBTQIA+. Esconder ou deixar de falar também é uma forma de preconceito”.

LGBTQIA+
Julia Belas e amigos na Parada do Orgulho LGBTQIA+ em São Paulo
(reprodução Instagram @july_bt)

O processo de cada uma

Maíra Nunes, Julia Belas e Alê Xavier enxergam o processo da orientação sexual de forma diferente. Para a jornalista do Correiro Brasiliense, a definição ainda é recente e, apesar de não ter tido nenhum problema com discriminação, alguns passos ainda não foram dados.

“É recente essa questão comigo. Nunca fui discriminada por isso, mas poucas pessoas sabem. Sou bastante reservada com a minha vida pessoa e acredito que tem um pouco daquele receio natural. Mas o processo está caminhando”.

Julia Belas vê de forma um pouco diferente sua caminhada nesta questão. Há alguns anos se entendendo como bissexual, a jornalista consegue enxergar alguns problemas envolvendo o assunto.

“Eu costumo dizer que foi uma descoberta, porque era algo que já estava comigo e me fez entender muita coisa que já acontecia. Acredito que foi uma conjuntura de fatores. O fato de eu estar em um relacionamento com um homem há muitos anos e as pessoas simplesmente subentenderem que eu sou heterossexual ajuda, mas não deixa de ser uma forma de preconceito. No trabalho, eu tive e tenho chefes que sempre falei e deixei claro tudo, então é meio que mais tranquilo. Se a pessoa trabalha em algum lugar que te impede de colocar tudo que ela tem nele, já tem alguma coisa errada, não tem como se sentir seguro. As pessoas da comunidade LGBTQIAP+, muitas vezes, tem que esconder o que são. Por ser o que eu sou, jornalista esportiva, eu não vou conseguir ficar mais calada quando algumas coisas acontecem neste meio”.

Apreensão e sofrimento

Já Alê Xavier teve um apreensão e um “sofrimento” interno maior do que o externo. A apresentadora do canal Desimpedidos lembra de alguns momentos do processo e do dia que decidiu se posicionar sobre a sua orientação sexual.

“Eu me assumi. Lembro do dia exato em que fiz isso, foi em um momento que eu não aguentava mais segurar e me ajudou muito a entender o que estava acontecendo comigo em vários sentidos. Lembro que chamei minha mãe e minha irmã e contei, tem uns seis, sete anos isso e hoje eu consigo ver como isso foi importante para o que eu sou hoje”.

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Independente da letra que a pessoa se senti representada dentro da sigla LGBTQIA+ todos buscam e querem respeito. Falar de forma natural, que é o desafio relatado por Alê Xavier, Julia Belas e Maíra Nunes, faz parte do pensamento que é mostrar que o diferente não é errado, não é estranho. O diferente é apenas outra forma de ver a mesma coisa.

A razão da semana LGBTQIA+

Este texto dá sequência à série de matérias do Olimpíada Todo Dia sobre o tema LGBTQIA+. O período foi escolhido por ser a semana do dia 28 de junho, reconhecido como dia do orgulho LGBTQIA+.

A data ganhou este título por conta do que aconteceu no bar Stonewall Inn, em Nova York, em 28 de junho de 1969. Neste dia, as pessoas da comunidade gay que frequentavam o estabelecimento se revoltaram contra ações policiais que aconteciam com frequência. O levante contra a situação durou cerca de duas noites e, por conta disso, em de 1º de julho de 1970 aconteceu a primeira edição da Parada do LGBT.

Vale ressaltar que o respeito e a visibilidade à comunidade devem prevalecer sempre, assim como a luta pela diversidade no esporte, e não apenas no mês do orgulho LGBTQIA+.

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