Operação Unfair Play, que investiga corrupção na escolha do Rio como sede da Olimpíada, faz buscas na casa de Carlos Arthur Nuzman e na sede do COB
A operação Unfair Play (Jogo Sujo), nova fase da Lava Jato no Rio de Janeiro, apura compra de votos dos membros do COI na escolha da cidade como sede da Olimpíada de 2016. A ação é marcada por uma inédita cooperação internacional entre Brasil, França e Antígua e Barbuda. Segundo o Ministério Público Federal, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, foi o principal responsável pela intermediação do pagamento de propinas envolvendo duas figuras do alto escalão do esporte mundial.
“O esquema criminoso completa-se com a ponta faltante: a atuação do Comitê Olímpico Brasileiro, por atuação de Carlos Arthur Nuzman, figura central nas tratativas para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Sem a presença e negociação entabulada por ele, a engenhosa e complexa relação corrupta aqui narrada poderia não alcançar o sucesso que efetivamente alcançou. Nuzman foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito meio de Arthur Soares”, explicaram os procuradores.
Dois carros da PF, um do Ministério Público Federal e um da Receita chegaram à sede do COB por volta de 6h da manhã. No mesmo horário, agentes entraram na casa de Carlos Arthur Nuzman, que fica no luxuoso condomínio Jardim Pernambuco, no Leblon, zona sul do Rio, acompanhados do promotor Eduardo El Hage e de investigadores do Ministério Público francês. O dirigente teve seus bens bloqueados e terá que entregar o passaporte à Polícia Federal.
Durante a busca, Sergio Mazzillo, advogado de Nuzman, criticou a operação, que chamou de midiática e garantiu: “Meu cliente não cometeu nenhuma ilegalidade e vai prestar todos os esclarecimentos”.
Pouco depois das 9h da manhã, os investigadores deixaram a casa de Nuzman levando um computador e um malote. Pouco depois, o dirigente deixou sua residência para prestar depoimento à Polícia Federal. Durante toda a manhã, foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva e 11 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Sérgio Bretas, da 7ª. Vara Criminal do Rio de Janeiro, na cidade, em Nova Iguaçu e em Paris.
Durante a ação, foi presa Eliane Pereira Cavalcante, ex-sócia de Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, ex-dono da empresa Facility, que também é procurado pelos agentes. O empresário mora em Miami, nos Estados Unidos, e pode ser preso lá. Ele é considerado foragido e está na lista de procurados da Interpol.
Segundo a investigação, o dinheiro para o pagamento das propinas vinha do empresário, que chegou a ter contratos que somavam milhões de reais com o governo do Estado do Rio de Janeiro. Ele abastecia uma conta no Caribe, que era gerenciada por um operador financeiro do grupo do ex-governador Sérgio Cabral, atualmente preso por corrupção. O dinheiro depositado nesta conta era usado para pagar propina ao político para que o grupo conseguisse mais contratos com o Estado e também foi a fonte pagar a compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse sede da Olimpíada.
De acordo com as investigações, um dos votos foi comprado de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo (Iaaf) e membro do Comitê Olímpico Internacional na ocasião, que teria recebido US$ 2 milhões por meio de seu filho, Papa Massata Diack.
A investigação do Ministério Público Federal aponta também que diversas obras feitas para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro foram feitas com pagamento de propina ao governador Sérgio Cabral.