Se estivesse vivo, o sul-africano Nelson Mandela completaria 102 anos nesse sábado (18). Uma das figuras mais importantes do Século XX na luta contra o racismo e a injustiça social, o ex-presidente da África do Sul tem uma forte relação com o mundo do esporte. Vai além de seu famoso envolvimento com a seleção sul-africana de rúgbi, ação que acabou sendo fundamental para que país não apenas conquistasse o título da Copa do Mundo de de 1995, como também caminhasse para unir o país após o fim dos anos do apartheid.
Carinho pelo boxe
Quando pequeno, Mandela, carinhosamente chamado pelos sul-africanos como “Madiba”, o nome de seu clã na África do Sul, tinha bastante gosto pelos esportes, em especial pela corrida e pelo boxe. Em sua autobiografia “Longa Caminhada Até a Liberdade”, Nelson Mandela escreve:
“Eu não gosto da violência do boxe como a ciência por trás dele. Eu ficava intrigado como uma pessoa pode mover seu corpo para se proteger, atacar e recuar, o ritmo do lutador quando está em uma luta… O boxe é igualitário. No ringue, idade, cor e fortuna são irrelevantes… Eu nunca lutei depois que entrei para a política. Meu maior interesse era o treinamento. Eu acho o treinamento rigoroso uma excelente forma de aliviar o stress. Depois de um treino extenuante, eu me sentia mentalmente e fisicamente mais leve.”
Ativismo político e prisão
Nelson Mandela não teve a chance de tentar um caminho promissor no mundo esportivo devido ao seu importante papel como ativista político. Em 1948, quando Madiba completou 30 anos, foi aprovado na África do Sul o apartheid, regime segregacionista no qual os direitos dos habitantes negros foram cerceados pela minoria branca do país.
Lutando contra o regime e por direitos iguais entre brancos e negros, acabou sendo preso pelo governo em 1962 e ficou 28 anos encarcerado. Em 1988, ano que marcou seu aniversário de 70 anos, foi realizado um show em sua homenagem no Estádio de Wembley, em Londres, que foi transmitido pela televisão e assistido por cerca de 200 milhões de telespectadores. O show teve a presença de vários artistas famosos, como Sting, George Michael e Eric Clapton.
Após sua liberação, ocorrida em fevereiro de 1990, Mandela se encontrou com amigos, ativistas e imprensa e fez um discurso para cerca de 100 mil pessoas no Estádio Soccer City de Joanesburgo, o mesmo que recebeu a partida inicial da Copa do Mundo de 2010 entre África do Sul e México. Na ocasião, Mandela iria discursar novamente, dessa vez para o mundo todo, mas devido a uma tragédia familiar – sua bisneta faleceu em um acidente de carro dias antes – , acabou não comparecendo.
Reconstrução da África do Sul e a Copa de Rúgbi
Ao ser liberado da prisão, Mandela adotou um discurso pacifista e prometeu reunificar o país. Após a sua eleição em 1994, viu que a tarefa seria muito mais difícil do que podia imaginar. Foi aí que o sul-africano viu uma oportunidade no mundo do esporte que poderia ajudá-lo em sua luta.
O ano de 1995 marcou o primeiro do mandato presidencial de Nelson Mandela. O país passava por inúmeros problemas, como crime, pobreza e a divisão entre negros e brancos, mesmo com o apartheid extinto. Foi aí que Madiba teve uma ideia para tentar unir a África do Sul: um título da seleção na Copa do Mundo de Rúgbi daquele ano, que ocorreria em seu país.
À medida em que o campeonato avançava, o rúgbi, esporte mais popular entre os brancos, começou a ser apreciado também pelos negros, muito pela atitude do então presidente, que abraçou os chamados Springboks e deixou clara sua torcida pelo time. Aos poucos, o país inteiro passa a torcer junto.
Mandela contou também com dois grande aliados durante todo esse processo: o capitão doa seleção, Francois Pienaar, e o fullback Chester Williams, único do negro do elenco.
Com amplo apoio popular e um grande elenco, a África do Sul foi avançando e desbancou na final a poderosa seleção da Nova Zelândia, favorita ao título mundial (veja aqui). A história ficou eternizada no filme “Invictus”, dirigido por Clint Eastwood e protagonizado por Morgan Freeman.
Discurso no Prêmio Laureus
Nelson Mandela ainda teve participações em diversos eventos esportivos, como a já citada Copa do Mundo de 2010. Um dos seus discursos mais lembrados é o que fez no ano de 2000, em Mônaco, na inauguração do Prêmio Laureus, conhecido por muitos como o “Oscar do Esporte”.
“O esporte tem o poder de transformar o mundo. Tem o poder de inspirar. Tem o poder de unir as pessoas de um modo que poucas coisas podem fazer. Fala com a juventude em uma língua que eles conseguem entender. Esportes podem criar esperança onde antes só havia desespero. É mais poderoso que governos no que diz respeito a quebrar barreiras raciais. Ri na cara de todo o tipo de discriminação. Os herois que estão comigo são exemplos de seu poder. Eles são valentes, não só nos campos onde atuam, mas também na comunidade local e internacional. São campeões e merecem o reconhecimento mundial,”
Nelson Mandela, 2000
Em um mundo atual que passa por uma pandemia e que ainda vê inúmeros casos de racismo, é sempre buscar inspiração em figuras como Nelson Mandela. Parabéns ao líder sul-africano pelos seus 102 anos.