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Tóquio 2020

Olimpíada de verão no outono? O que pode mudar para os atletas?

A possibilidade de mudar a data dos Jogos de Tóquio ainda para este ano irá provocar sérias alterações na rotina dos competidores

Estádio Olímpico de Tóquio
Estádio Olímpico de Tóquio, que será a Olimpíada, ainda em data incerta, por causa da pandemia do coronavírus (Reprodução/COI)

Jogos Olímpicos de verão realizados no outono? Pode ser que sim. Por conta da pandemia do coronavírus, a edição programada para Tóquio neste ano pode “quebrar” a regra. A mudança de ano vai contra o que a Carta Olímpica permite. Cancelar a edição e já programar o mundo olímpico para Paris 2024 já está descartado, ao menos de acordo com o que divulgou o COI (Comitê Olímpico Internacional) neste domingo (22). Após reunião do comitê executivo da entidade, foi estabelecido um prazo de quatro semanas para definir a situação dos Jogos de 2020.

Em entrevista ao jornal “The New York Times”, o presidente do COI, Thomas Bach, disse pela primeira vez que estão considerando cenários diferentes, ao comentar sobre a realização da Olimpíada e o Coronavírus. Sabendo que o início dos Jogos Olímpicos está previsto para 24 de julho, ao afirmar isso o dirigente sinaliza uma alternativa.

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E esta seria a de mudar a data dos Jogos Olímpicos ainda dentro de 2020. Tal decisão tiraria a competição do verão e levaria, provavelmente, o evento para o outono ou para o início do inverno japonês, trazendo um novo problema para a organização.

O Japão é um país de clima dividido, com uma parte sendo subtropical, outra temperado e uma pequena parte subpolar. Com isso, o verão, época em que os Jogos Olímpicos foram programados, tem temperaturas que variam dentro da casa dos 30ºC.

Já o outono no país, que acontece entre os meses de setembro e dezembro, faz as temperaturas caírem, tendo média de temperatura em 15º a 22ºC. Contudo, fora os números, o que essa possível mudança pode impactar nos atletas e seu desempenho?

Impacto nas modalidades

Se realmente acontecer, a mudança de data vai atrapalhar todos os atletas e pessoas envolvidas. De maneira mais direta, os atletas que disputam as modalidades a céu aberto, como atletismo, maratona e maratona aquática. Apesar de toda preparação, uma queda de cerca de sete graus, somado a quantidade de ventos e pluviosidade, podem fazer com que o rendimento final de cada participante sofra interferência.

Preparação alterada

A pandemia do coronavírus já tem um impacto no mundo esportivo. Atletas de todas as modalidades tiveram que alterar ou realmente parar seu programa de treinamento por conta da situação mundial.

Um exemplo disse é Ana Marcela Cunha. Um dos maiores nomes da maratona aquática no mundo, a brasileira tinha se preparado para uma reta final de treinamentos e competições fora do país, priorizando as regiões de águas quentes, que era o que a atleta enfrentaria em Tóquio.

Contudo, com a possível alteração de data para a realização dos Jogos Olímpicos, a ideia de priorização já não surtiria tanto efeito, visto que Tóquio não teria mais águas tão quentes como antes, o que poderia interferir no rendimento da brasileira. Atualmente, Ana Marcela já está de volta ao Brasil e passa pelo período de quarentena.

Temperatura interfere

“Todo detalhe, no alto rendimento, vai trazer uma diferença”. A frase é da fisioterapeuta especializada em ortopedia e traumas Nágela Freitas. Apesar da diferença no termômetro ser, em média, cerca de sete graus, a troca de datas pode impactar ainda mais as Olimpíadas.

Questionada sobre no que a mudança de data, e consequentemente a estação do ano, pode mexer com o resultados dos atletas nos jogos, a profissional é cautelosa, mas clara.

“Cada atleta e cada organismo são únicos, mas temperaturas mais baixas aumentam o risco de lesões e podem alterar o rendimento do competidor. Os músculos precisam de uma temperatura corporal alta para produzir energia. Se a temperatura externa está mais baixa, o atleta gasta mais para deixar a musculatura pronta para produzir a energia necessária e, com isso, o rendimento pode cair”.

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Em relação à preparação dos atletas até os Jogos Olímpicos, o médico do esporte Guilherme Dilda vê uma série de fatores a serem analisados, não limitando a alteração somente a um anúncio de mudança de data.

“A mudança pode interferir em vários aspectos. Tem uma série de competições classificatórias que precisam ser definidas para o bem dos atletas. Olhando para eles, a questão principal é a periodização dos treinos que é preparada visando o que vai se ter no momento da disputa. Se mudar, precisa ser alterado. Também temos que ver a questão da vascularização muscular de cada um, que é única. Competidores que sofrem de doenças respiratórias, como asma, terão problemas em climas mais frios. Tudo tem que ser analisado e decidido, se possível rapidamente”, afirmou.

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