Neste sábado (13), o COB realizou o primeiro Congresso Olímpico Brasileiro, em São Paulo, que contou com cerca de 1.200 pessoas que trabalham com esporte. Exposições, áreas de vivência ao esporte e muitas palestras aconteceram durante o dia inteiro. Os focos: gestores, treinadores e cientistas do esporte. Atletas como Arthur Nory, Chico Barretto, Thais Makino, Bruna Takahashi, e etc, marcaram presença no evento.
Dentre os palestrantes, destaque para Chelsea Warr, Bernardinho, Christofer O’Brian e fechando o evento: Robert Bowman. O treinador, com mais de 25 medalhas olímpicas, falou da experiência em treinar Michael Phelps, trajetória, comentou sobre a natação brasileira, entre outros assuntos.
Acompanhe, na íntegra, a coletiva de Bob Bowman, no primeiro Congresso Olímpico Brasileiro:
1) Eu gostaria de saber qual foi o maior legado, que você junto com o Michael Phelps, deixaram para a natação americana?
Eu acho que o maior legado é realmente ampliar a imaginação das pessoas sobre o que é possível de fato. A gente claro expandiu essa noção de treinamento, que se reproduz na expansão dos objetivos que estávamos, bem acima do que era normal até então. E a gente consegue agora compartilhar essas notícias, os bastidores, que explicam o que aconteceu.
2) Qual sua opinião sobre Thiago Pereira? Que por muitos anos esteve nas provas de Michael Phelps, tem uma medalha olímpica e se aposentou recentemente.
Eu conheço o Thiago há muito tempo, ele teve uma carreira brilhante. Ele é um atleta espetacular, inclusive, ganhou do Michael em 2012. Risos. Então, eu tenho um respeito muito grande e desejo toda sorte do mundo na aposentadoria.
3) O Thiago é um grande nadador e terminou a carreira com “apenas” (entre aspas) uma medalha olímpica. O Phelps tem mais de cinco. O que você pensa do nadador como Thiago que termina a carreira com uma medalha?
Ele se coloca naquele 1/2% dos atletas olímpicos na história, risos. O fato do Phelps ter ganho tantas medalhas é algo assim extraordinário, mas cada uma delas tem um significado grande.
4) Qual sua opinião sobre a natação brasileira de forma geral?
Eu não tenho uma opinião específica sobre a natação brasileira, mas eu sei que existem atletas fenomenais. Existe um grupo muito grande de atletas treinando agora e alguns tiveram aqui presentes. Existe grande potencial aqui para produzir medalhas. Eu não sei sobre o sistema ou organização a fundo a ponto de expressar a minha opinião.
5) Qual foi o ciclo olímpico mais difícil?
O mais difícil de longe foi 2008 e 2012. Por muitas razões, mas principalmente pelo fato dele (Michael Phelps) ter conseguido repetir o quase impossível de 2008. Ele não tinha metas pra 2012, mas repetir a gente sabia que era impossível repetir. E acabou perdendo a motivação.
6) Como você trabalhava para blindar realmente o Phelps durante os Jogos Olímpicos?
Não é fácil. Varia muito de Olimpíada para Olimpíada, mas sempre tinha alguém junto com ele que não era treinador, não era técnico, não era atleta, nada… Mas alguém que estava ali para protegê-lo. O mais difícil, o problema é sempre o caminho, o transporte, durante o local de competição, na Vila Olímpica também… O mais complicado mesmo era durante o transporte.
7) O Phelps teve um momento de crise, quando não sabia se ia nadar ou não, como foi essa gestão de crise?
O Michael teve que descobrir sozinho o que era importante para ele. O que ele era, o que ele queria e eu estava ali para dar esse apoio sempre que necessário. Depois ficou fácil, né? Porque ele voltou a ser quem ele era e depois ficou tranquilo.
8) Esse foi o primeiro Congresso Olímpico Brasileiro e o COB conseguiu reunir mais de mil pessoas para absorver conhecimento. O que você acha que pode gerar um encontro como esse no desenvolvimento esportivo?
Eu tiro minha opinião a partir da minha experiência pessoal, quando eu participo de uma conferência, de uma clínica, etc, eu procuro absorver o máximo que eu consigo. No final acabam ficando uma ou duas coisas que passam a ser o meu foco. Então eu acho que é muito mais importante no sentido da motivação e na inspiração. É muito legal você estar perto de atletas que conseguiram sucesso e você leva pra você essa motivação.
9) Qual era a principal motivão do Michal principalmente no início de carreira e depois das medalhas?
Eu não sei, risos. Ele tem energia de sobra. Ele era muito focado no objetivo, traçou uma meta, ele ia atrás para bater.
10) Qual sua avaliação geral do evento e o que achou da estrutura?
Eu achei a estrutura muito inovadora. Uma estrutura com três palcos, com eventos simultâneos, eu adorei. Eu também gostei das áreas com interação e o nível, e a qualidade, dos palestrantes muito alta.
11) Você além de ter treinado o Phelps, treinou dezenas de medalhistas olímpicos. Você acha possível alguém chegar, pelo menos perto, do número de medalhas que o Phelps conquistou na carreira nas Olimpíadas?
Eu acho muito difícil. O atleta pode até ter um desempenho muito bom em um Jogos Olímpicos, mas o complicado mesmo é você manter esse desempenho. Ele bateu recorde durante uma década. Pode acontecer? Pode. Mas eu acho que vai ser muito complicado.
12) Falando dos medalhistas… O que essas pessoas têm de tão especial. Porque você comentou que o Thiago, por exemplo, conseguiu uma medalha. E isso já é um grande feito. O que esses atletas que você trabalhou tem em comum de tão especial para se destacarem?
Eu acho que o que existe em comum é que eles conseguiram dominar essa capacidade de relaxar e ter um desempenho sob pressão. É essencial. Todo mundo tem talento, todo mundo se dedica, treina bastante nesse nível de Jogos Olímpicos. Então, é mais uma questão de mentalidade e como a pessoa encara a competição.
13) Você falou sobre os atletas e o que eles fazem para serem diferentes. O que faz com que você, como treinador, ser diferente e descobrir tantos talentos?
Eles me encontraram. Foi por acaso, risos. Eu abordo a questão do treinamento como eles abordam a natação em si. Tentando sempre progredir, sempre melhorar e eu tive sorte de ter encontrado também atletas com muito talento.
14) Eu fico muito emocionada quando eu vejo a foto do Phelps com todas as medalhas da Olimpíada. O que você sente sabendo que você conheceu ele uma criança, apesar de imaginar o que ele podia alcançar, é muito diferente de quando a pessoa realiza. Qual é o seu sentimento?
Eu sinto muitas coisas, mas a coisa mais importante que eu sinto sobre o Michael é a pessoa que se se tornou durante esse processo inteiro. Porque é muito difícil de diferentes maneiras. E ele cresceu sob os holofotes. Cometeu erros. Aprendeu com eles. Depois de ter se tornado pai, ele cresceu como pessoa que ele é. Tentando levar essa mensagem da conscientização do esporte, sobre os problemas mentais, a conservação e preservação da água. Essas coisas são as mais importantes pra mim, as medalhas são maravilhosas, mas nós não falamos sobre as medalhas, risos. A gente fala sobre as coisas da vida, os filhos dele me chamam de vovô. Essa é a melhor parte.