PARIS – Da piscina às pistas, dos ginásios aos estádios, da Torre Eiffel ao Palácio de Versalhes, um nome se tornou unanimidade nos Jogos Paralímpicos de Paris. Gabriel Araújo, o Gabrielzinho. Ou, como muitos franceses o apelidaram, “dauphin” – o golfinho. As três medalhas de ouro, a comemoração que já virou marca registrada, as dancinhas. De cabo a rabo, o atleta brasileiro passou como um furacão na capital francesa, cativou os locais, alterou coberturas jornalísticas e se consolidou como o rosto do movimento paralímpico no mundo.
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Após subir ao topo do pódio pela terceira vez nos Jogos, Gabriel concedeu uma entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia. Nela, tentou explicar como foi ser tão amado por pessoas que nem mesmo entendem o que ele fala e qual é o sentimento de ser uma estrela global.
“Nem se eu sonhasse eu acho imaginaria viver isso tudo. Eu sonhava de conhecer Paris desde que eu me entendo por gente, eu acho. E chegar aqui e ser reconhecido, fotos e mais fotos… Fui assistir a competição na arquibancada, muita foto, muita loucura, muita animação, muito carinho. Não existem palavras para agradecer. Eu saio com a minha maior medalha de ouro. É isso tudo mesmo, de poder motivar as pessoas e ser o cara, ou a cara dos Jogos – não só pelos resultados, pela pessoa que eu sou. Pra mim, isso sim é ser um campeão”.
Nossa entrevista com o tricampeão paralímpico em Paris, inclusive, aconteceu na sequência de outra feita com o concorrido atleta. No caso, essa foi uma das várias realizadas com ajuda de uma tradutora, já que era para o jornal francês Le Parisien.
ESTRELA FRANCESA
Samuel Gothot, repórter do renomado veículo, foi um dos inúmeros profissionais do mundo todo que levou Gabrielzinho e seu carisma para terras distantes. O Olimpíada Todo Dia bateu um papo com o jornalista e tentou entender como nosso fenômeno das piscinas mudou os Jogos Paralímpicos para os franceses.
“Desde a sua primeira vez na água, a celebração, a dança… Assim por diante, o público foi à loucura. Então começamos a acompanhar todas as provas dele. E começamos a fazer perguntas a ele todas as vezes. E fazemos isso só por ele, porque quanto ao resto, fazemos isso apenas para os franceses. Nós cobrimos as provas dos atletas da França e as do Gabriel, porque ele é uma verdadeira estrela. Nas redes sociais falamos muito sobre ele. É uma loucura. Ele é realmente a cara desses Jogos. Carisma, muito carisma.
As cenas foram comoventes. Quem estava presente na Arena La Defense ou acompanhando de casa pela TV viu que o hino brasileiro, quando a bandeira subiu e Gabriel chegou ao topo do pódio, foi complementado por palmas no ritmo da melodia. Os franceses não entendiam uma palavra, mas queriam fazer parte e enobrecer a festa do ídolo brasileiro. E isso significa muito para nosso nadador.
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“Significa que eu estou no caminho certo, que eu estou cada vez mais próximo dos meus maiores sonhos, que é cada vez mais entrar na história. Fazer o nome na história da natação paralímpica, do esporte paralímpico, do esporte brasileiro, mundial. De consolidar mesmo o nome Gabriel Araújo, um atleta referência para muitas pessoas, para as crianças, para a pessoa com deficiência, para a pessoa sem deficiência”, analisou Gabrielzinho.
GABRIELZINHO E O AMOR FRANCÊS PELO BRASIL
Os franceses podem não entender a língua portuguesa, mas Samuel faz questão de explicar que o carinho pelo Brasil é imenso. O jornalista, que é de Paris, ainda fez uma comparação com outra celebridade brasileira do mundo do esporte, que deve significar muito para Gabriel, já que o nome citado é de um de seus ídolos. E se muitos podem ter dificuldades de pronunciar “Gabrielzinho”, eles já encontraram uma solução.
“Nós gostamos dos brasileiros. Não sei se tem alguma coisa no sangue que você pode explicar, a dança e tal… Neymar foi igual, há algo em seu estilo, seu sorriso e assim por diante, isso realmente atrai as pessoas, e Gabriel tem muito disso. Nós nos sentimos atraídos por ele. Chamam ele de “o golfinho”. Ele realmente é um marco, e as pessoas estão seguindo ele”, avaliou o jornalista francês.
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Aos poucos, após duas Paralimpíadas e seis medalhas (cinco de ouro e uma de prata), Gabrielzinho já vai começando a sentir o gosto da imortalidade. Com um lugar mais do que consolidado no Olimpo dos atletas brasileiros com apenas 22 anos, o jovem vai subindo degraus como uma lenda global. A euforia é tanta, que veículos franceses não titubeiam ao compará-lo a Leon Marchand, nadador também nascido em 2002 e dono cinco medalhas nos Jogos Olímpicos de 2024, disputados em sua casa: quatro ouros e uma prata.
“Passa muito rápido tudo isso de resultado. Toda essa euforia passa rápido, tanto positivamente, e caso também aconteça algo errado, depois passa rápido também. Mas o legado que a gente tenta deixar é uma marca registrada”, reflete Gabriel.
UMA NOVA VIDA PARA GABRIELZINHO?
E agora, o que vai mudar? Em Tóquio, estreando nos Jogos, o nadador conquistou dois ouros, uma prata e o coração de milhões de brasileiros. Em Paris, chegou com a moral de ser porta-bandeira, trocou a prata por mais um ouro – promessa feita por ele de que nunca mais erraria o que lhe fez perder aquele tricampeonato na estreia – e quebrou barreiras: não é mais um ídolo nacional, mas sim global. Uma nova vida vem por ai?
“Espero que sim. Que aproveite e crie novas oportunidades, apareçam novas coisas lá no Brasil quando eu voltar para eu ter um conforto melhor, conseguir uma tranquilidade melhor pra trabalhar. E com essa tranquilidade, a certeza de que os resultados vão melhorar é muito grande”, manifestou o multimedalhista.
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“Não dá nem pra imaginar, eu não tenho noção. A gente torce por muita visibilidade, fazer as pessoas entenderem que o esporte paralímpico tem que ser reconhecido como um esporte de alto rendimento também. A gente não pode ficar com a mente fechada para que o esporte paralímpico. ‘Ah, é superação, legal’… É legal, mas é muito mais importante porque a gente trabalha muito para estar aqui”, completou com o também já registrado cativante sorriso no rosto.
Os Jogos Paralímpicos de Paris têm um dono, e ele é brasileiro.
*em parceria com Paula Zarif, de Paris