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Paris 2024

Após cogitar aposentar, Wendell dá a volta por cima com prata

Medalhista de prata em Paris-2024, Wendell Belarmino cogitou se aposentar por conta de lesões após Tóquio-2020

Wendell Belarmino com a medalha de prata no peito nos Jogos Paralímpicos de Paris-2024; ele segura a medalha em uma mão e o mascote dos Jogos na outra
Wendell Belarmino, que está de agasalho amarelo, segura com uma mão a medalha de prata que está em volta de seu pescoço, e o mascote dos Jogos na outra (Foto: Silvio Ávila/CPB)

Paris – Wendell Belarmino pode dizer que deu a volta por cima. Depois de ser campeão paralímpico em Tóquio-2020, o nadador chegou a cogitar se aposentar do esporte por conta de lesões e passou por um quadro depressivo. No entanto, ganhou forças das pessoas ao seu redor e conseguiu seguir adiante. Neste sábado (1º), voltou a conquistar uma medalha paralímpica, agora com uma prata nos 50m livre S11 (para atletas cegos) em Paris-2024.

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“Eu estou até agora tentando processar tudo. Em 2021, eu considerei até me aposentar, por conta de lesão. Minha família não deixou, ainda bem. O Praia Clube me deu todo o suporte, me deu todo o apoio, me acolheu e me deu tudo que eu precisava pra poder voltar. Óbvio que eu queria o ouro, mas acho que todo mundo queria também, e poder estar aqui no pódio de novo, depois de até nem pensar em competir de novo, é surreal”, falou Wendell.

Sofrimento em 2021

Wendell foi medalhista de ouro nos 50m livre em Tóquio-2020, ocasião em que fez sua estreia em Paralimpíadas. Quatro meses antes de ir para a capital japonesa, descobriu uma lesão no ombro direito e optou por fazer um tratamento simples para poder aguentar até o final dos Jogos Paralímpicos. No entanto, passou a sentir dores também no ombro esquerdo durante a competição – em que ainda conquistou mais duas medalhas.

Wendell Belarmino em concentração antes de competir na prova dos Jogos Paralímpicos de PARIS-2024
Wendell está com touca, sem camisa e com calção. Ele abaixa a cabeça, à beira da piscina, e junta as duas mãos ao rosto, em uma espécie de oração (Foto: Silvio Ávila/CPB)

“Voltei para Brasília e o médico falou que ia tentar fazer um tratamento, mas se não resolvesse, ia ter que operar e corria o risco de perder 30% de performance. E eu falei: ‘Acho que vou aposentar então’, porque 30% de performance é do primeiro ao oitavo lugar. Foi um momento bem difícil, considerei realmente me aposentar. Tive um quadro depressivo bem forte por conta disso, de não saber o que eu ia fazer, mas graças a Deus, graças à minha família também e ao clube, estou de volta”.

Wendell passou pelo tratamento e, aos poucos, deixou de lado a ideia de se aposentar. Já em 2022, disputou o Mundial da Ilha da Madeira, em Portugal, e, apesar de não ter conquistado medalhas, foi finalista em quatro provas (100m livre, 1000m costas, 100m borboleta e 50m livre). Em 2023, ele ficou de fora do Mundial de Manchester, mas disputou os Jogos Parapan-Americanos de Santiago-2023, onde levou cinco ouros.

Festa em Paris

Depois de todas essas agitações no ciclo, Wendell Belarmino chegou em Paris-2024 para disputar três provas individuais. A primeira delas foi o 50m livre, em que entrou em cena para defender o título paralímpico de três anos atrás. Nas eliminatórias, marcou 26s76 e avançou com o sexto melhor tempo. Já na final, fez uma grande recuperação e anotou 26s11 para levar a medalha de prata.

“O 50m livre é a minha prova. Desde sempre, gostei muito dela. E poder voltar a competir assim na Paralimpíada e ganhar a medalha, mesmo depois de considerar me aposentar, é incrível. Para mim, é como se eu tivesse ganhado a medalha de ouro, então estou muito feliz”, falou o brasiliense de 26 anos de idade, que tem glaucoma congênito e já passou por dez transplantes de córneas.

Wendell Belarmino e chinês no pódio do 50m livre S11 em PARIS-2024
Wendell Belarmino, de agasalho amarelo e detalhes verde, ergue os braços e comemora no pódio. Ao seu lado, está um chinês, com agasalho branco, que aplaude (Foto: Silvio Ávila/CPB)

Wendell largou atrás, mas cresceu na disputa e conseguiu a medalha em uma situação inusitada: ele terminou empatado com o chinês Hua Dongdong e os dois tiveram que dividir a segunda colocação. Ambos os atletas ficaram a 17 centésimos da quarta colocação. O japonês Keiichi Kimura conquistou a medalha de ouro com 25s98.

“Com certeza deve ter um pessoal da família passando mal agora, mas eu sempre aviso que se não for pra ter emoção, então é melhor nem vir”, brincou o atleta. “Quem me acompanha mais, sabe que minhas provas eu decido realmente no finalzinho. Eu acho que se tiver alguém vivo, não vai ter problema cardíaco nem tão cedo depois dessa”, completou.

Próximos compromissos

Depois da quarta medalha paralímpica, Wendell vai seguir firme em Paris para ampliar o leque de conquistas. Ele ainda vai disputar os 100m costas e os 100m borboleta, ambas as provas da classe S11, na capital francesa. Mesmo tendo tirado da mente a ideia de se aposentar cedo, o nadador já sabe de uma coisa para seu pós-carreira: quer trabalhar com o esporte quando parar de competir.

“Eu gosto muito de esporte, sempre gostei desde pequeno, e pretendo continuar assim na carreira e no meio esportivo. Principalmente se eu puder trabalhar com natação, que é coisa que eu mais amo de paixão, eu vou fazer o possível para continuar. Vocês não vão me livrar tão cedo”, brincou.

Paulistano de 23 anos. Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Estou no Olimpíada Todo Dia desde 2022. Cobri a Universíade de Chengdu, o Pan de Santiago-2023, a Olimpíada de Paris-2024 e a Paralimpíada de Paris-2024.

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