PARIS – Menos de 24 horas antes dos primeiros brasileiros caírem nas piscinas pelas Paralimpíadas, os atletas seguiam treinando na Arena La Defense, em Paris. A natação, que chega como esperança de muitas medalhas para o país, é segunda maior fonte de pódios da história do Brasil nos Jogos Paralímpicos, com 125, atrás apenas do Atletismo, com 170 – e a confiança está alta para que o número aumente bem.
No mundial de natação paralímpica 2023, a delegação brasileira foi a quarta com mais medalhas, com 16 ouros, 11 pratas e 19 bronzes. E parte da equipe de 37 nadadores, que conversou com o Olimpíada Todo Dia, sabe que o trabalho bem feito vai seguir dando resultado na água.
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BONS TREINOS, BONS RESULTADOS
“Estou me sentindo muito bem, muito em paz, leve. Tenho muita certeza do trabalho que a gente fez, do quão preparada estamos. Me emocionei quando cheguei aqui na piscina, eu sonhei com isso por muito tempo. A gente evoluiu demais de Tóquio para cá, é surreal para três anos. Por conta disso, vieram as conquistas. Estou me concentrando em nadar da melhor forma que aí vou ter muitas chances de brigar por medalha”, disse Mariana Gesteira, bronze nos 100m livre S9 em Tóquio e tricampeã mundial, que busca seu primeiro ouro paralímpico.
“Foram três anos de preparação intensa. Agora chegou a hora de mostrar o resultado. É fazer o que a gente faz todo dia”, reforçou Lídia Cruz, que nada na classe S4 e é campeã mundial no revezamento 4x50m livre misto em 2022.
Talisson Glock, nadador que vai para sua terceira participação em Jogos, assim como Mariana, também mira o pódio. Além disso, aceitou o papel de ser mais experiente para competir com mais assertividade e ajudar a nova geração.
“Nesses jogos eu acabei tirando algumas provas, priorizando as minhas principais mesmo – só quatro, normalmente eram sete, oito. Eu sinto que já sou de uma geração passada, ver essa galera chegando é animador. Nem sabia que dava para nascer em 2008, estou ficando velho. Tem uma parte de mim que pensa em parar, talvez isso aconteça. Ainda não tenho certeza, mas queria desempenhar o melhor possível nas provas que tenho mais chance, performar melhor nessas que tenho mais possibilidade de medalha.”
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O CAÇULA
Victor dos Santos, de apenas 16 anos, é o atleta da natação é mais novo da delegação brasileira nos Jogos Paralímpicos, mas isso não lhe tira a confiança e a fome de vencer. Há um ano, nos Jogos Parapan-Americanos, o garoto já conquistou um ouro, uma prata e dois bronzes na classe S9.
“Estar aqui e não ter esse espírito competitivo é a maior burrice do mundo, né? Se a gente está aqui, não vem para participar, vem para competir, brigar por medalha. Mas tem que entender o momento. Eu sou o mais novo, os favoritos pra minha prova tem 24, 26 anos… Eu tenho 16. Estar no meio deles é uma felicidade imensa. Eu via eles na TV em Tóquio e agora estou aqui. Falando em realidade sobre chance de medalha: é difícil mas não impossível. A gente vai para cima. A gente teve 19 semanas de treino até a seletiva. Depois, até Paris, mais 16. Treino não faltou, a gente está bem.”
DE VOLTA E CADA VEZ MAIS FORTE
Mariana Gesteira, que chega no melhor momento da carreira, já se considera medalhista de ouro pela volta por cima que deu. A atleta, que tem a síndrome de Arnold Chiari, sentiu que a fraqueza intensa e o desequilíbrio estavam se agravando em 2019 e precisou parar de treinar para realizar um procedimento de colocação de válvula no cérebro.
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“Eu quase parei de nadar em 2019, não tinha condições, podia morrer na piscina. Agora, com ajuda do meu técnico, poder fazer isso de outra forma, com os treinos estruturados para eu não chegar naquele ponto, e ainda assim nadar cada vez melhor. Para mim isso já é um ouro, mas eu espero buscar o de verdade aqui. Se eu ganhar vou chorar horrores”.
A esperança no ouro não é infundada. Após a cirurgia, ela voltou para os Jogos Paralímpicos de Tóquio e conquistou uma medalha de bronze. Depois, no mundial de 2022, foram dois ouros, e no de 2023, mais um. Após um dos momentos mais difíceis da carreira, ela está de volta e com muito apetite.
“A gente vai vivendo e só vai vivendo. Colocar em perspectiva, olhar tudo o que aconteceu, só agrega mais valor. Eu quero muito fazer história aqui.”