A piscina do Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste fez duas gerações da natação brasileira brilharem. Primeiro com Nicholas Santos, prata nos 50 m borboleta aos 42 anos tornando-se o mais velho medalhista na história do campeonato. Depois com Guilherme Costa “Cachorrão”, de 23 anos, finalista em três provas, batendo o recorde sul-americano em todas e conquistando o bronze nos 400 m livre. As outras duas foram os 800 m livres e os 1.500 m livres. Cada um à sua maneira, eles detalharam o que passaram na capital da Hungria.
“É uma conquista para a minha carreira, que é um marco sensacional. Sou o nadador mais velho da história da natação, o segundo tinha 35 anos, que era um alemão. Fica essa questão da longevidade, exemplo para os mais novos. E até aos que já estão na idade, pensando se param ou se não param, tentando se estender um pouco mais”, disse Nicholas Santos, em entrevista coletiva concedida na segunda-feira (18) ao lado de Guilherme Costa e Ana Marcela Cunha na Unisanta, equipe dos três.
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Disciplina e resiliência
“O desafio maior pra mim é me manter competitivo com 42 anos. Cada ano é um desafio. É muito pessoal. Esse Mundial tinha o Caeleb Dressel com 25 anos. Sabia que era um adversário muito pesado, embora eu estivesse com o primeiro tempo do mundo. Sabia que poderia disputar de igual para igual com ele”, continuou. Caeleb, de fato, venceu a prova, mas com Nicholas no cangote. O estadunidense marcou 22s57 contra 22s78 do brasileiro. “Não estava me sentindo muito bem (no dia da final), nadei a semi e fiz 23s04, tempo que fui prata em Kazan, então para entrar na final, precisou de um tempo muito forte. Nesse dia fui para a academia, malhei, fui para o quarto e perguntei pro Leo (de Deus, nadador brasileiro): ‘qual o tempo que eu vou fazer?’ e ele disse 22s78. Fiz os ajustes que precisava com o treinador e consegui.”
Nicholas Santos explica que o ponto principal para se manter no topo da natação mundial com a idade que tem é “disciplina, resiliência, ter muito mais cuidado com alimentação do que há dez, cinco anos. Todo treino é um desafio constante, uma correção o tempo todo, entendendo o trecho da prova que preciso nadar mais rápido.” Com 17 Mundiais nas costas, ele afirma sentir a admiração dos adversários. “Tenho uma relação muito respeitosa com todos. Só questão de admiração mesmo, de saber que tenho 42 anos e que estou indo competir mais uma vez. Esse Mundial eu me classifiquei nas beiradas da semifinal, com o oitavo tempo. Só que entrei para a final com grandes chances de medalha. Os outros adversários falavam: ‘poxa, acho que o Nicholas lá no canto tem chances de medalha’.”
Nado Cachorrão
Ao lado de Nicholas na mesa da coletiva, um companheiro de seleção brasileira de natação 19 anos mais novo, diferença já evidente na forma de se expressar. Os motivos e objetivos de cair na água, porém, pouco mudam, e Guilherme Costa também trouxe uma medalha para casa, um bronze nos 400 m livre. “Algo que busco há muito tempo, sempre falei sobre isso. Finalmente consegui. Consegui ser bem objetivo nas três provas e a medalha mostra que estou no caminho certo. Agora é buscar cada vez mais. Preciso competir mais nesse nível e a medalha ajuda muito”, disse.
Além da final dos 400 m, Guilherme nadou a final dos 800 m e dos 1500 m, as três no estilo livre e em todas o brasileiro bateu o recorde sul-americano. “Foi muito importante nadar três finais, preciso pegar experiência, ritmo de competição nesse nível. Era um objetivo pegar as três finais e consegui. Mas quero mais. Quero chegar muito competitivo nas três provas, disputando medalha, ouro, e vou buscar a cada dia. Ano que vem tem Mundial de novo e quero fazer muito melhor lá”, garantiu. ‘Minha prova favorita é a dos 400 m livre, a gente escolheu já tem um tempinho. Meu técnico viu que era uma prova que estava renovando muito no Mundial, tanto que nesse, os três primeiros nunca tinham pego medalha.”
Maratona aquática
Cachorrão nada também provas de maratona aquática e em Budapeste competiu na de 10km, que é a distância olímpica, sem ter completado, e no revezamento 4x1500m, chegando em quinto ao lado de Viviane e Cibele Jungblut e Bruce Almeida. No próximo, em Fukuoka ano que vem, ele não deve disputar, já que o programa mudou e as provas em águas abertas serão antes das de natação na piscina. “Vai ser bem difícil de nadar. A gente gostou muito de fazer altitude bem em cima do Mundial, e eu teria de descer um pouco antes. Mas pretendo nadar algumas provas de Copa do Mundo para pegar experiência. Na Olimpíada vai ser depois. São provas totalmente diferentes, dois extremos, tenho de tomar bastante cuidado para conseguir chegar competitivo nas duas.”
O motivo do apelido? Zoeira de garoto. “Fui mordido por um cachorro na praia. Logo depois, a gente voltou para a praia e ele não estava lá e começaram a zoar dizendo que o cachorro tinha morrido”, explicou Guilherme Costa, arrancando gargalhadas de todos os presentes.
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