Já passava das 23h30 da noite em Tóquio quando Felipe Domingues foi surpreendido enquanto estava no refeitório. “Felipão! Olha, o pessoal está gostando da sua liderança, hein, e eu também.” Era Jorge Bichara, diretor de esportes do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Ali ficou bem claro que o trabalho do novo head coach da natação brasileira estava no caminho certo.
Como em uma prova de 50 m livre, tudo foi muito rápido para Felipe Domingues. Um mês antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, o cargo de chefão da natação estava vago, Alberto Silva, que comandou o Brasil na Rio-2016, já não queria mais seguir e a CBDA junto ao COB procurava um nome.
“Depois da seletiva, a CBDA precisava de um head coach, mas eles não queriam alguém muito ligado aos clubes, eles queriam alguém da natação, alguém dedicado à natação.” Pois bem, Felipe Domingues era o cara perfeito na hora exata.
Treinador de natação desde 1999, Felipão fez parte da seleção paralímpica nos jogos de Londres-2012 e Rio-2016, somando 14 medalhas. Ao lado de Nicholas Santos, ele também desenvolveu a Oxygen Swimming, plataforma com foco em treinamento de alta performance.
Gabaritado, Felipe Domingues assumiu o comando da natação brasileira e liderou na conquista de duas medalhas em Tóquio, os bronzes de Fernando Scheffer e Bruno Fratus. “O Scheffer foi um tipo de surpresa, porque ele é um tremendo nadador, que nadou na hora certa e na raia certa. O Fratus já era uma chance real de medalha.”
+ Confira as principais notícias da modalidade
Meu jeito, minha vida
As medalhas certamente tiveram seu peso, mas a forma como Felipão encara o trabalho de treinador e todas suas tarefas foi fundamental para sua permanência como chefão da natação até Paris-2024. “Todo mundo gostou do jeito que foi feito, os atletas falaram ‘ah, ele não tem vínculo com ninguém e não é de nenhum clube’. Foi desafiador e gratificante, e eu nunca trabalhei tanto na minha vida”, completa rindo.
Felipe Domingues tem uma fala muito clara, firme e objetiva, mas leve e de fácil compreensão. “Eu gosto de escutar, mas não tenho bandeira nenhuma. Também falo que eu penso, e o meu pensamento está na natação brasileira, principalmente no desenvolvimento do alto rendimento.”
Firme sem perder a ternura. Cobrar performance, mas fornecer condições para isso. Embasamento científico e gerenciamento de pessoas em perfeita harmonia. A natação brasileira nada em águas mais calmas.
“Uma liderança fácil e tranquila, essa é a ideia. O ambiente já é estressante, é muito legal, mas é muito pesado para quem quer uma medalha e uma final, não dá para você deixar mais estressante. A gente tenta deixar os treinadores mais à vontade e os atletas mais relaxados.”
Sob nova direção
O novo head coach sabe que não tem como mudar tudo que quer de um dia para o outro, mas quer deixar sua marca a longo prazo. “Eu tenho uma linha que gosto, mas tem outras linhas, isso eu não quero me meter. Esses aspecto fica mais para frente. De imediato, quero dividir nossos atletas entre velocistas, meio fundo e fundo.”
Para 2022, Felipe Domingues vai acompanhar mais de parto eventos nacionais e internacionais, incluir especialistas de outras áreas, criar normas de conduta e incluir cada vez mais os mais jovens no processo.
“Por exemplo, eu vou criar critérios para algumas ações específicas, para campings e intercâmbios, tudo dentro da meritocracia, é ela que vai definir quem vai participar. E um ponto muito crucial vai ser sempre puxar a régua para cima.”
Diversos atletas de ponta na natação já estão fora do país e a distância não será um entrave. “Quero estar em constante contato com os técnicos desses atletas. Proporcionar conhecimento para todos.”
Como fazer isso? “Fazer um questionário bem simples, para saber como os atletas estão, reunir dados para gráficos, ver como eles estão respondendo a carga de treino, exames de sangue e assim vai, dando sempre uma resposta para os treinadores. São eles que estarão de perto e são fundamentais no processo.”
As bases desse novo trabalho são bem claras: ética, transparência e tecnologia. Um tripé que sempre norteou Felipão em sua trajetória e que promete dar muitos frutos para a natação brasileira.”