Por Felipe Domingues, que analisa a convite do OTD a Seletiva Olímpica Brasileira de natação*
A seletiva olímpica tem proporcionado surpresas, tanto pelo lado positivo de atletas quebrando seus recordes pessoais superando os obstáculos da adaptação ao treinamento em tempos de pandemia, quanto pelo lado negativo, com alguns nadadores ficando aquém do potencial demonstrado em outras temporadas.
Nesta sexta-feira porém, tivemos a pior das surpresas. Antes das finais do penúltimo dia de competição, o comunicado de resultado analítico adverso da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem para o atleta André Calvelo transformou em agonia o êxtase que havíamos experimentado na véspera na prova dos 100m livre.
Como head coach e um dos idealizadores da Oxygen, devo salientar que, dentro do que lhe competir, o projeto irá endereçar o episódio dentro dos parâmetros de profissionalismo, ética e transparência que defendemos para a natação brasileira e seus atletas de alto rendimento.
Ao mesmo tempo em que daremos total respaldo para o nadador realizar sua defesa técnica e exercer a ampla defesa de seus direitos, demandaremos as explicações necessárias para preservação dos ideais de espírito esportivo apregoados pela Oxygen e seus integrantes.
Entendemos que o caso deverá ser debatido em esferas administrativas e judiciais, fora das piscinas – uma raia onde não temos competência para exercer nosso trabalho.
Paralelamente seguiremos executando nossa metodologia de treinamento especializada e individualizada. Acreditamos no trabalho honesto, na inesgotável busca pela melhor técnica e na exaustiva repetição para buscar a excelência em natação de forma limpa. Só assim as vitórias merecem ser comemoradas.
Agora tratando do que vimos na água na sexta-feira. Os eventos realizados foram 200m costas masculino, 100 livre feminino, 200m medley masculino, 200m peito feminino e 1.500 m livre masculino.
Na primeira prova o índice era 1:57.50 e o único nadador que havia feito abaixo estava na raia 4, Leonardo de Deus. Ele nadou acima desta vez, para 1:58.74, 1.2s acima do índice portanto. Gabriel Fantoni foi segundo e Brandonn Almeida terminou em terceiro lugar e era sua terceira tentativa de índice nesta seletiva. Infelizmente ele não conseguiu e não vai estar em Tóquio nos Jogos Olímpicos.
O Leo de Deus trabalhou bem nas duas primeiras passagens de 50m, mas caiu um pouquinho nas duas últimas parciais e não conseguiu a vaga nesta prova -antes já havia garantido nos 200m borboleta.
Vale ressaltar que o 200m costas é uma prova onde o trabalho submerso é muito importante. E os atletas, especialmente os três primeiros foram perdendo a eficiência ao longo da prova. Isto é, eles viravam iam perdendo eficiência e velocidade. Isso pesou para a queda de rendimento no final da prova.
Nos 100m livre feminino, o índice era 54.38. Já no início da prova a Larissa Medeiros e a Etiene Oliveira saíram muito bem do bloco, realizando um bom submerso e uma boa transição. Etiene no primeiro parcial 25.97 e Larissa logo atrás com 26.01. Mas Larissa fechou para 28.38, a terceira melhor volta da prova, somando 54.39 e ficando a apenas um centésimo do índice. Foi uma bela prova da Larissa.
Ana Carolina Vieira passou com 26.57, meio segundo atrás de Larissa e Etiene. Porém voltou muito bem para 28.32. O tempo total 54.89, seu melhor tempo pessoal, que valeu o segundo lugar.
Stephanie Balduccini foi uma grata surpresa. A atleta é da categoria júnior 1 e terminou em terceiro. Foi apenas a quinta na passagem dos 50m, mas teve a melhor marca no retorno, 28.25, fechando a prova para 55.06. Foi sua melhor marca pessoal e recorde da categoria. A nadadora veio muito bem treinada.
E fechando o quarteto que vai nadar para a tentativa do revezamento 4×100 livre, Etiene Medeiros. Passou em primeiro lugar nos 50m, mas cansou um pouquinho na volta. As quatro primeiras nadadoras nadam juntas no domingo para tentar melhorar o tempo para a repescagem visando a Olimpíada de Tóquio.
Nos 200m medley masculino o Brasil conquistou dois índices com Caio Rodrigues Pumputis e Vinicius Moreira Lanza. A primeira parcial de 50m borboleta foi muito disputada e a prova toda teve alternâncias na primeira posição.
Lanza começou liderando com 25.04, seguido por Gabriel Ogawa, Leonardo Coelho Santos e Pumputis. No nado costas houve uma recuperação incrível do atleta Leonardo, passando na liderança com 54.85, à frente de Pumputis e Lanza. No nado de peito, Pumputis, que é especialista da prova, foi o mais veloz, passando para a liderança à frente de Lanza e logo em seguida Leonardo. Naquela altura os três ainda lutavam pelo índice faltando os 50m finais.
Fechando a prova o melhor parcial final foi de Lanza, mas insuficiente para ultrapassar o vencedor Pumputis. Nenhum deles obtiveram a melhor marca pessoal, mas ficaram com as vagas.
Nos 200m peito feminino a atleta vencedora foi Gabrielle Assis da Silva. Pamela Alencar, que era a favorita ficou em segundo e Bruna Leme em terceiro. A atleta Gabrielle manteve um ritmo muito bom a prova toda, nadando para 34.0, 38.0, 38.4 e 39.1. Ou seja, manteve uma linha, caindo um pouquinho só no final. Se ela acerta o final chegaria mais próxima do índice olímpico. Ela ficou a 4s da marca, mas o importante é ir trabalhando para aproximar da meta.
Já a atleta Pamela passou na frente os primeiros 100m, segurou ainda nos 150m na frente, mas no final pregou muito, piorando demais na última parcial. Já Bruna Leme teve um perfil de prova similar ao da Gabrielle (elas treinam no mesmo clube), mas caindo um pouquinho no final.
Para fechar o dia houve o 1.500 masculino com o Guilherme Costa alcançando seu terceiro índice para Tóquio, nadando para 14:59.21. Em segundo ficou Diogo Villarinho e em terceiro Miguel Valente. Foi uma prova muito constante de Guilherme Costa, mantendo uma média de 29s ou 30s a cada 50m, não fugindo disso. É muito importante nessa prova manter ritmado assim e ainda mais fechando muito forte com 28.22 os últimos 50m. Parabéns ao atleta e ao seu treinador.
*Felipe Domingues é o head coach da Oxygen, plataforma de treinamento individualizado e especializado em nadadores de alto rendimento. Em décadas dedicadas à preparação de atletas de primeira linha, participou da conquista de mais de uma dezena de medalhas Paralímpicas, Pan-Americanas e Mundiais