A obsessão da maioria dos atletas olímpicos gira em torno do resultado. O foco é a conquista do pódio, da medalha, seja ela de bronze, prata ou ouro. Alguns, entretanto, começam a ficar mais velhos e maduros, e passam a entender que há muito mais na vida de um esportista do que treinar para celebrar um resultado. É o caso do experiente nadador e especialista no nado peito, João Gomes Jr., 34 anos, exemplo de superação e vitória da natação brasileira.
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“Hoje, eu percebo que a medalha é uma consequência do trabalho; mas o que você deixa de legado para as pessoas é o mais importante. O que eu tenho realmente a passar pro público é a essência que o esporte traz,” comentou João Gomes Júnior em live ao Olimpíada Todo Dia, nesta quarta-feira (24).
Anos difíceis
Essas palavras só poderiam vir de um atleta que passou por situações complicadas no esporte e que precisou de enorme trabalho mental e maturidade para superá-las.
João Gomes Júnior viveu anos difíceis entre 2012 e 2014. Com forte concorrência no estilo peito, acabou, por pouco, fora da equipe brasileira que integrou a seleção brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres. Dois anos depois, viveu o momento mais complicado em sua carreira. Foi pego no doping após testar positivo para uma substância utilizada no tratamento da hipertensão arterial, e acabou perdendo as medalhas que havia conquistado no Mundial de piscina curta daquele ano.
Volta por cima
João não se abalou; tampouco ficou obcecado em treinar pesado para voltar dali a seis meses, cair na água e ter um grande resultado como triunfo de superação. Optou por algo que as pessoas de mais experiência geralmente costumam fazer.
“Eu acho que essas coisas vêm na hora certa pra te colocar no seu caminho de novo. Da onde você veio e pra onde você está indo. Então os meus seis meses foram bem reflexivos. Tentei entender o real motivo disso [ter sido pego do doping]. Eu tenho a consciência limpa de tudo que fiz,” disse o nadador.
Volta por cima
As reflexões deram resultado. João voltou a cair na água e passou a ter resultados mais expressivos do que tinha antes, mesmo tendo parado por um tempo considerável e já acima dos 30 anos de idade. Conseguiu a classificação para os Jogos Olímpicos Rio-2016. e, de quebra, obteve o melhor desempenho individual do Brasil no evento, ficando em quinto lugar nos 100 metros peito.
Após a prova no Rio, o amadurecimento se fez notar no nadador de 30 anos de idade. Ao ser questionado por um repórter sobre como se sentia ao ter chegado em quinto, mesmo tendo entrado na competição com o segundo melhor tempo, o novo João agiu de maneira diferente.
“Eu olhei dentro do olho do repórter e pensei: ‘ele não vai entrar na minha mente’. Acho que ele quis vender o lado emocional, de chorar, por eu não ter conquistado medalha e tal. Mas eu falei: ‘Pera aí. Quantas pessoas são quinto? Quantos são quinto dentro de casa, com a sua torcida? Aí eu virei o jogo,” disse João Gomes Júnior.
Coreia 2019
E quando João Gomes Júnior entendeu que a medalha não é o que mais importa, ela acabou vindo. Dois anos depois da Olimpíada do Rio, o nadador foi até o Mundial de Desportes Aquáticos em Gwangju, na Coreia do Sul, e protagonizou um momento histórico da natação do Brasil. Com o bronze e ao lado de Felipe Lima, dona da prata, nos 50 metros peito, o capixaba esteve no primeiro pódio composto por dois brasileiros em uma mesma prova em Campeonatos Mundiais.
Mesmo assim, reforçou seu aprendizados durante o período em que esteve afastado por doping e que seguem sendo renovados e atualizados diariamente em seus treinamentos.
“Não é só levantar e mostrar a medalha. Não. É você ser grato por todo mundo que passou pela sua carreira, pela sua história. Acho que todo mundo tem um porquê. E eu tento mostrar pra molecada mais nova que treina comigo esse lado mais humano,” finalizou João Gomes Júnior.