Elas contagiam. Fica quase impossível não se divertir e entrar na onda positiva e cheia de entusiasmo das gêmeas Beatriz e Débora Carneiro. O Olimpíada Todo Dia teve o prazer de entrevistar a dupla à beira da piscina do Centro Aquático, após um treino realizado em Lima, capital do Peru, que está recebendo os Jogos Parapan-Americanos 2019. As irmãs da natação competem na Classe SB14, que engloba deficientes intelectuais.
“Gente muito assim, eu sou velha na natação e na seleção, mas é o meu primeiro Parapan. Eu estou muito empolgada, eu perco o fôlego pra poder falar, mas é uma emoção, estar aqui em Lima, Peru, nunca imaginei estar aqui”, já sai falando Beatriz, a mais experiente das gêmeas.
De bate pronto, Débora já emenda. “É um sonho estar aqui. Vendo na tv, eu via o povo nadando o Pan. E nadando abaixo do recorde, pegando final, medalha. Eu via uma Etiene Medeiros, Thiago Pereira, Léo de Deus, tricampeão do Pan. É uma inspiração, ainda mais nadando na mesma piscina. É muita emoção, é um turbilhão de sensações, de alegria e tristeza, muito trabalho, suor, mistura tudo e vira uma sensação boa e que te faz ir para frente”. Mais espontaneidade impossível.
Enquanto Beatriz chegou antes à seleção brasileira de paranatação, Débora ficou mais tempo na seleção de jovens. Contudo, ambas tiveram seu grande primeiro momento internacional em 2017, no Mundial da INAS, em Aguascalientes, México. Mais experiente, Beatriz conquistou a prata nos 100m peito.
“Eu vim bem depois, estava em observação na seleção de jovens, mas peguei índice e é o meu primeiro ano com a seleção principal. Estou muito feliz”, disse Débora. Antes que a irmã pudesse completar a frase, Beatriz soltou um: “Eu quero com a medalha de ouro no Paraná!”. No embalo, Débora emendou: “Fazer 1:17 no peito e pegar pódio, pegar primeiro lugar e falar essa medalha é do Paraná!”.
E a entrevista seguiu assim, muita descontração, mas sem perder o foco. “A minha expectativa é muito grande, eu quero pegar final A, e já primeiro, pá, as gêmeas no pódio. E eu imagino que vai dar dobradinha nos 100m peito, estou confiante”, completa Débora. “Eu também! E muito!”, chega junto Beatriz.
A sintonia é enorme. Mas elas competem as mesmas provas. E como lidar com isso? Ora, da melhor forma possível. “A gente é rival dentro da piscina, a gente torce uma pela outra, puxa a outra e assim a gente vai ganhando,
quem sabe uma dobradinha aqui no Parapan, né?”, diz Débora, pulando e apontando para o lugar onde fica o pódio no Centro Aquático.
E falando em pódio, as gêmeas da natação terão algumas chances de subirem no lugar mais desejado do Parapan. “Então, a gente vai competir nos 100m peito, tem o medley, tem os 200m livre, os 100m livre e os 100m borbo, que era a prova que eu não nadaria no Parapan. Foi até uma surpresa, me colocaram nos 100m borbo, agora quero pegar final A, essa eu não pego medalha, eu não consigo disputar, sou ruim, não sei, até sei, mas não sou rápida”, explica Débora.
Na sequência, Beatriz completa: “Eu não queria nadar borbo, não, mas passar para a final A em todas as provas já está espetacular, mas acho difícil”. Borbo é como os nadadores chama o estilo borboleta, que, claramente, ainda não é o forte das irmãs.
Porque o forte delas, pelo menos fora das piscinas, é causar e agitar as coisas. “A gente adora ficar zuando com a galera, brincando dentro do busão, dar muita risada”, emenda Débora. “A gente gosta de brincar e comer doce”, diz Beatriz e cai na gargalhada.
E a entrevista acaba com as duas conversando como se estivessem na sala de casa.
– Eu tô amando isso aqui, curtindo a vila, o Parapan, tudo – disse Beatriz.
– A piscina é rápida, eu vou pegar índice aqui, você vai ver – Débora estica o dedo aponta para a piscina.
– Está tudo muito gostoso isso aqui – reflete Beatriz.
– Eu não sabia que era tão gostoso viver desse lado, ela já sabia como era, eu não. Parece que eu to nas Paralimpíadas – disse Débora admirando o Centro Aquático.
– E se ela pegar pódio, ela chora certeza – Beatriz abraça a irmã.