Se os Jogos Olímpicos são, de fato, o auge da carreira de um atleta como acredita Gustavo Borges, o nadador brasileiro teve a oportunidade de viver seu nirvana quatro vezes. Foi na primeira delas que teve seu ápice e começou a fazer história na natação brasileira. Ali, enfrentou um drama pessoal até conseguir subir no pódio. Hoje, 15 anos depois de aposentado, acompanha a Seleção na expectativa de ver seus feitos sendo repetidos, tanto na Olimpíada quanto nos jogos Pan-Americanos.
A menos de um mês da disputa em Lima, no Peru, começar, o ex-atleta acredita que verá um Brasil forte. “Temos uma transição. A gente conta com uma renovação nas provas de 100 e 200m com atletas muito bons, uma geração fortíssima, a maioria deles não participou na Olimpíada do Rio”, analisa o segundo maior ganhador de medalhas do país em Jogos Pan-Americanos com oito ouros, oito pratas e três bronzes. “Chegam aí atletas de 1998, 1999, 2000, com uma potência e força muito grande. A expectativa é que a gente tenha uma boa participação nos jogos Pan-Americanos e no Mundial”.
Apesar de longe das piscinas e mesmo já sem subir nos pódios enquanto nadador, Borges segue ganhando títulos pelo seu bom desempenho nas águas. O principal deles, avalia, foi um espaço no Hall da Fama da categoria. “É um reconhecimento grande da vida de qualquer atleta ou cidadão que teve uma história dentro do esporte. Ele é muito especial, é um título que foi muito celebrado, com minha família presente, pessoas envolvidas que foi uma celebração muito boa e foi um orgulho muito grande tanto pra mim quanto para os meus filhos que estiveram ali presentes”.
Mas o momento mais importante de sua carreira, acredita, foi justamente sua primeira Olimpíada. Corria o ano de 1992 e a disputa era a prova dos 100m de natação dos Jogos daquele ano, em Barcelona, na Espanha. De um lado, na raia seis, estava o campeão de Seul 88, o norte-americano, Matt Biondi. No bloco quatro, o russo Alexander Popov preparava-se para mais uma de suas grandes atuações. Entre os dois, o destaque brasileiro, Gustavo Borges. Na ocasião, o representante do verde e amarelo despontava como revelação.
Ainda na qualificação, horas antes, o brasileiro fez o segundo tempo, anotando 49s49, atrás apenas de Popov. Sabia que, na final, tinha chance de medalha. Na decisão, entre outros dois grandes nomes da prova, entrou confiante. Deslizou nas águas de Barcelona mirando o lugar mais alto do pódio. Mas segundo depois, quando ele não veio (por um erro no placar final da prova), Gustavo desabou. “Eu estava preparado, focado para ter um bom resultado”, relembra, em entrevista ao Olimpíada Todo Dia.
Naquele dia, segundo a marcação no placar, Gustavo teria terminado a prova em oitavo – ele, entretanto, estava convicto de que tinha tido um resultado melhor. Minutos depois, após uma revisão, o brasileiro subiu para quarto. Mas aquele ainda não o resultado que Gustavo tinha planejado e conseguido. Sua irmã, registrada nas câmeras, amargava um duro choro compartilhando a dor do irmão e crendo que ele tinha ido melhor do que se dizia.
Cabisbaixo, o brasileiro sentou-se na lateral da piscina de aquecimento. Não queria falar com ninguém. Só saiu de lá quando o então presidente da Confederação Brasileira da modalidade chegou com a noticia que tiraria o jovem do desolo. “Foram 40 minutos de desespero e, acho que o maior exercício naquele momento foi a paciência”, recorda o dono da prata. “E, quando eu vi o resultado, foi aquela alegria geral. Subi no pódio e trouxe a medalha pro Brasil”.
Medalhas, inclusive, Gustavo conheceu bem. Ostenta elas. E assim como os pódios, vieram os recordes. Naquele dia, nos 100m livre, bateu o sul-americano, chegando atrás apenas de Popov. “O recorde é uma consequência do trabalho que você faz, então, todos eles têm uma dificuldade particular”, avalia o nadador. “O reflexo do que acontecia no treinamento vinha a ser a competição e o resultado principal. quando você treina bem, você tem muita confiança para chegar em uma competição importante e dar o resultado”, ressalta.
Os Jogos Olímpicos, palco dos momentos destaque da carreira de Borges, selou, também, a despedida do atleta das águas. O ano era 2000. “Não sabia se ia até a olimpíada de 2004. Aí, foi uma decisão de encerrar no palco olímpico com qualquer resultado. Eu peguei um 12o lugar e foi realmente um momento fantástico e correto para ser a aposentadoria”.