“Saio deste Mundial uns 20 anos mais madura”, diz Etiene Medeiros durante a viagem de volta ao Brasil após a participação no Mundial de Natação em Piscina Curta, realizado na China. A brasileira possou por altos e baixos na competição, começando pelos resultados abaixo do esperado nos 50m e 100m costas até a conquista do bronze nos 50m livre.
Quem ouve a voz de alívio de Etiene Medeiros – apesar de toda a logística para a volta da delegação brasileira ao país e depois para o Open (que será realizado no Rio Grande do Sul ainda nesta semana) – nesta segunda-feira, 17, não imagina de fato o que a nadadora do SESI-SP viveu nesta última semana em Hangzhou, na China.
Depois de um ano de adversidades – de cirurgia no ombro direito à doença do irmão – era hora de cair na água para uma das maiores expectativas em torno de um resultado da uma mulher na natação brasileira: a busca do tricampeonato em piscina curta nos 50m costas.
Após nadar o revezamento e não ir para a semifinal nos 100m costas nos primeiros dias, a prova – até então – mais importante da sua programação inicial estava batendo à porta: era o momento de colecionar mais um feito histórico à sua bagagem. Porém na semifinal dos 50m costas, na saída do bloco, um deslize tirava a pernambucana, favorita da prova, da grande final.
“Foi um aprendizado muito grande. A expectativa nessa prova era muito grande, eu estava atrás do tricampeonato, mas infelizmente aconteceu o que aconteceu na semifinal. Não foi problema de aparelho, foi que eu realmente escorreguei na saída e quem conhece o esporte viu que eu tentei durante a prova correr atrás do prejuízo, mas em uma prova de 50m fica difícil. Queimei muito o meu início e no final eu senti e cada detalhe é uma medalha”, relembrou Etiene.
Os minutos seguintes ao resultado não foram fáceis. Nem mesmo as horas seguintes até cair novamente na água para a disputa dos 50m livre. “Sei que dentro de mim eu tenho um poder de superação muito grande, mas quando você está ali e se depara com obstáculo que você tem que mudar esse pensamento ou virar a página muito rápido, menos de 12 horas é bem desafiador. Foi um trabalho mental muito grande. Um trabalho desses anos do meu amadurecimento tão grande que consegui reverter isso muito rápido. O atleta tem de estar preparado para isso, mas é difícil quando acontece e estar preparado para reverter, mas graças a deus eu consegui e é só mais uma lição para mim de superação. Fico muito feliz de ter conseguido superar isso”, contou sobre como fez para virar a chave de uma prova para outra.
Com muitas coisas acontecendo fora do que imaginou para a semana Etiene repetiu algumas vezes na zona mista que a competição estava sendo diferente. “Falei isto por que a gente sempre se planeja um pouco antes da competição, mentaliza algumas coisas que a gente quer que aconteça e realmente essa competição para mim foi diferente nesse sentido. Das coisas que eu planejei nada aconteceu (risos), exatamente nada. Como temos que estar preparados para as adversidades e isso foi um ponto principal no Mundial”, revelou.
As mudanças não pararam por aí. Caso tivesse conseguido ir à final dos 50m costas – em seu planejamento inicial – havia grande dúvida se Etiene Medeiros cairia na água para os 50m livre. Com a saída precoce da sua prova principal em Hangzhou, a pernambucana e seu técnico, Fernando Vanzella, não tinham dúvidas de que os 50m livre estariam de volta à programação. Porém era preciso ir além de apenas nadar mais uma prova – e prova olímpica.
O técnico Fernando Vanzella que está com Etiene desde 2013 sabia que neste momento era preciso esquecer a decepção e pensar em algo a mais. “Se no início da competição tínhamos uma dúvida se ela iria nadar ou não os 50m livre por que era uma prova muito próxima da final dos 50m costas, depois do que aconteceu já não tínhamos mais essa dúvida. Voltamos para o hotel firmes de que poderíamos fazer o melhor, ainda sentidos por não estão na tão esperada final, mas já com a cabeça para recomeçar nas eliminatórias dos 50m livre, semifinal e final. Aos pouco ela foi criando confiança e sentindo que poderia disputar a medalha. Eu já no revezamento 4x50m livre misto no início da semana, quando ela fez o terceiro melhor tempo entre as mulheres, já acendeu uma luz de que os 50m livre seriam o diferencial deste mundial”, revelou o treinador.
Com a ‘chave alterada’ e mentalmente mais forte, Etiene Medeiros passou pelas eliminatórias da prova e, na sua bateria de semifinal, terminou em primeiro lugar com o tempo de 23s82, marcando o novo recorde sul americano da prova. Na grande final, no último domingo, conquistou a medalha de bronze com o tempo de 23s76 que deu a ela o recorde das américas. As duas primeiras colocadas, as holandesas Ranomi Kromowidjojo (23s19) e Femke Heemskerk (23s67) são as melhores nadadoras da prova e campeãs olímpicas.
E quem diria que não teria novo feito de Etiene Medeiros do outro lado do mundo. Ao lado de Daiane Dias (que 25 minutos antes havia conseguido a primeira medalha em mundiais em provas olímpicas), a pernambucana havia conseguido a segunda medalha feminina em mundiais em provas olímpicas e seu primeiro pódio em provas do tipo em mundiais.
Os mesmos 50m livre que, em 2016 levou a brasileira à final Olímpica no Rio de Janeiro. “Amo desde nova essa prova. Sempre fui velocista, sempre gostei mais da ação e nessa prova vejo que tenho muito ainda para me dedicar. Muitas vezes eu fico nesta de nadar costas/crawl e é bem complicado. Você tem poucas atletas que nadam costas e nadam crawl em um nível que estou hoje. Dentro do cenário sou uma das poucas, então é uma situação que estou estudando muito bem com o Vanzella para ver quais as nossas metas para 2019 e 2020, mas com toda certeza os 50m livre em 2018 acabou sendo minha prova principal. Não pelo fato da medalha neste Mundial, mas por me mostrar mais uma vez que posso me dedicar melhor nela. Com toda certeza já estamos conversando qual melhor estratégia para 2020 e ela estará dentro”, revelou.
Depois de tantas reviravoltas Etiene Medeiros sabe que o Mundial de Hangzhou, na China, ficará marcado não só pelo erro na saída dos 50m costas ou pela redenção nos 50m livre. “Foram seis dias de pura adrenalina, de pura emoção, dias de muita tristeza, de muita alegria, então foi uma mistura muito louca mentalmente. Fisicamente eu estava muito bem, estou muito bem. Não tinha dúvida disso. Sabia que meu potencial seria na cabeça e se eu quisesse essa mudança seria mental. Foi uma competição bem difícil, uma das mais difíceis da carreira. Saio muito mais forte, saio realmente com aquele sentimento de ter ‘colocado minha cara para bater’ e de que estou preparada’ para as adversidades que encontrar. Superação mesmo. De querer algo além do que simplesmente ficar se corroendo por aquilo que havia acontecido e seguir em frente. Saio do Mundial disposta a seguir em frente e batalhar para ter um excelente 2019 e 2020”, finalizou.
Etiene Medeiros e Fernando Vanzella chegam ao Brasil nesta terça-feira, 18, e em poucas horas na capital paulista já embarcam para Porto Alegre para a disputa do Torneio Open no Grêmio Náutico União. As provas a serem disputada pela atleta do SESI-SP serão estudadas até a próxima quarta-feira, 19.