Ainda sem medalhas e com poucas chances de mudar este quadro, o Brasil tem tido uma participação discreta no Mundial de atletismo. Mas duas performances servem de alento ao fraco desempenho brasileiro na pista do Estádio Olímpico de Londres. Uma, da já consagrada Rosângela Santos, que bateu o recorde sul-americano e ficou em 7º nos 100 metros. A outra foi da revelação Thiago André, sétimo colocado na final dos 800 m.
Se o ótimo desempenho de Rosângela (bronze no 4 x 100 m de Pequim-2008, em decisão revisada pela Iaaf no ano passado) não chega a ser exatamente uma surpresa, o de Thiago foi uma agradável novidade. Aos 22 anos (completados no dia de abertura do Mundial), o atleta do clube B3 Atletismo mostrou uma maturidade de veterano. Na eliminatória, esteve sempre entre os líderes, fazendo uma corrida bastante conservadora. Na semifinal, avançou no sufoco. A quarta posição lhe rendeu uma das duas vagas por tempo para a final.
Foi a primeira vez que um atleta brasileiro alcançava a final dos 800 m desde o Mundial de 2003, com Osmar Barbosa dos Santos, em Paris. E olha que é uma prova com muita tradição do atletismo nacional, desde Agberto Guimarães, quarto colocado em Moscou-1980 e ouro no Pan-Americano de Caracas-83. Foi também nos 800 m que Joaquim Cruz entrou para a história olímpica do Brasil, com o ouro fantástico em Los Angeles-1984 e a prata em Seul-1988. Em Mundiais, são três medalhas nesta prova: prata e bronze com Zequinha Barbosa, em Tóquio-1991 e Roma-1987, além do bronze de Joaquim em Helsinque-1983.
Thiago André não conseguiu repetir a tradição brasileira nos 800 metros. O carioca sofreu com a inexperiência e acabou se atrapalhando com o bate-e-bate entre os atletas, bastante comum nesta prova. Mas a principal qualidade do garoto, a sinceridade, pôde ser percebida em sua entrevista pós-prova, para a repórter Marina Izidro, do “Sportv”. Confessou que levou alguns “cutucões” dos concorrentes durante a disputa e até exibiu as canelas com ferimentos. Porém, em nenhum momento quis justificar seu resultado por causa disso.
Thiago André poderia fazer mais uma prova neste Mundial. Inscrito nos 1.500 m (prova na qual disputou a Olimpíada Rio-2016), o brasileiro viu seu treinador, Ricardo D’Angelo, solicitar sua retirada da prova, alegando desgaste físico e emocional do atleta.
Sem querer dar pitaco na área alheia, vejo um erro nesta decisão. Emocionalmente, Thiago André demonstrou estar com a cabeça boa nas entrevistas em que pude presenciar. Fisicamente, a menos que tenha ocorrido um desgaste acima do normal nos últimos dias, trata-se de um jovem atleta, apenas 22 anos, em plena forma, e a eliminatória ocorrerá apenas nesta quinta-feira. Que mal haveria em deixá-lo correr?
Uma pena que o Mundial de Thiago André tenha terminado nesta terça-feira. Tem potencial para brilhar nos próximos anos e, acima de tudo, não tem mimimi.
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