De olho na sonhada medalha olímpica, Fernando Reis quer se acostumar a levantar a quantidade de peso que lhe aproximaria do pódio nos Jogos. Por isso, no Pan-Americano, a competição vai ser contra os números
Ser o melhor das Américas não é uma novidade para Fernando Reis. Desde 2011, o halterofilista brasileiro domina as competições no continente. Foi medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2011 e 2015 e levantou o título pan-americano em 2012, 2013 e 2014. Só não foi campeão em 2016 porque estava machucado e em 2017, quando competiu, bateu o recorde pan-americano, mas não subiu ao lugar mais alto do pódio por estar em atrito com a Confederação Brasileira e não pôde oficialmente representar o país. Por conta dessa hegemonia, o atleta entra na disputa do torneio deste ano, que acontece em Santo Domingo, na República Dominicana, com uma nova estratégia: não basta ganhar. Será preciso superar os limites e as metas estabelecidas.
A mudança de estratégia tem a ver com o maior sonho da carreira de Fernando Reis. “Meu objetivo é a medalha olímpica. Eu tenho certeza de que isso vai acontecer. Só vou parar quando isso acontecer. Então custe o que custar, o tempo que for, eu vou atrás dessa medalha. Vou colocar todos os meus esforços, tudo o que eu precisar fazer para pegar essa medalha”, afirma o atleta, que vai encarar o Campeonato Pan-Americano como uma competição contra ele mesmo.
“Eu já passei do Pan-Americano. Sou campeão pan-americano nem me lembro quantas vezes, mas para galgar mais um degrau no Mundial. Por mais que eu queira me desafiar mentalmente, você acaba ficando confortável com a situação por já ter ganho a competição algumas vezes, por não querer se machucar, você acaba tirando o pé um pouco antes. Só que quando chega o Mundial eu não posso me dar esse luxo. Tem que estar com o pé no fundo. É uma estratégia que a gente vem mudando para quando chegar o Pan-Americano, eu nem competir contra ninguém, competir com os números estabelecidos e, se eu não conseguir atingir esses números, eu vou perder”, explica.
Para mentalizar o objetivo para conseguir alcançá-lo na competição, Fernando Reis espalha o peso desejado em seu cotidiano. “Os números que eu quero levantar eu coloco em tudo quanto é lugar: senha do banco, cartão de crédito, tudo… senha do facebook… em tudo eu coloco os números que eu quero fazer na competição. Então, constantemente, eu estou escrevendo e colocando aqueles números”.
O duro, desse jeito, é Fernando Reis abrir para a reportagem qual é o peso colocado como objetivo para o Pan. “Não pode falar, não pode, não pode! Tá guardado! Até porque é minha senha do banco (risos)”, se diverte.
Como não costuma competir com frequência contra os principais atletas do mundo, Fernando Reis quer se acostumar a levantar a quantidade de peso que o deixe ainda mais próximo do pódio em competições como o Mundial e a Olimpíada. “Eu já estou estourando, injuriado porque não chega esse resultado. A gente sempre tá chegando e patinando. Fazendo um levantamento frio, a gente já fez muita coisa. Mas eu sei que eu posso fazer um pouco mais e que eu tenho ainda lenha para queimar, mas uma coisa que eu sinto dificuldade é chegar num cenário grande, como a gente só tem uma vez por ano o Mundial e eu não consigo competir contra os atletas europeus antes disso, é sempre uma novidade. Um ambiente que para mim não é mais novo, mas é sempre um ambiente diferente, enquanto eles competem uns contra os outros em qualquer campeonato europeu, em qualquer campeonato asiático”, explica o brasileiro.
Fernando Reis acredita que falta muito pouco para que ele consiga realizar o sonho de sua carreira. Chegar ao pódio é muito possível, mas na medalha de ouro é quase impossível. “Para a medalha de ouro, tem o Lasha Talakhadze (Geórgia), que está fora dos padrões. O cara está puxando o carro na frente de todo mundo, não tem como. Mas para medalha, eu fiquei a quatro quilos do bronze no último Mundial. De sexto para terceiro, quatro quilos me tiraram desta posição. Então é realmente muito próximo. É uma questão de estratégia, de estar bem e fazer o que tem que ser feito. Isso a gente vem trabalhando de uma maneira que eu me sinto mais maduro de competir no Grupo A, no grupo mais forte. Eu tenho certeza de que é uma questão de tempo e que essa medalha vai acontecer”.
Fernando Reis tem tanta fé de que vai chegar lá, que já sabe o caminho que tem que seguir. “Eu sou um cara consistente. Consigo fazer um total bom e chegar bem, tanto que fiquei em quinto na Olimpíada do Rio, quarto no arranco no Mundial e sexto no total. O arremesso foi um pouco mais baixo. Eu preciso levantar as duas ao mesmo tempo. Não adianta agora eu fazer um arranco muito forte e manter meu arremesso baixo. Eu preciso subir as duas para conseguir um bom total olímpico. Eu sei que se eu melhorar um pouco o arranco e o arremesso, eu consigo no total olímpico porque meus adversários ou são muito bons no arranco e meio ruins no arremesso e vice versa, enquanto eu passo desapercebido pela competição pelo meio. Então, se eu conseguir manter um padrão bom, eu vou conseguir pegar essa medalha, enquanto eles se matam no arranco e no arremesso”.