Longe de ter pretensão a ser uma espécie de coaching de botequim, os últimos meses me trouxeram a certeza de que o esporte é uma grande metáfora da vida. Este blog é o maior exemplo disso. Há seis meses, publiquei o último post por aqui, sobre a definição dos locais de competição dos Jogos Pan-Americanos de Santiago-2023. Uma espécie de bloqueio criativo, causado por diversos problemas pessoais e dúvidas sobre a continuação do blog me travaram de tal forma que simplesmente não conseguia mais escrever.
(É importante registrar um agradecimento especial aos amigos do Olimpíada Todo Dia. Eles me deram toda a força e mantiveram o espaço aberto para quando eu desejasse voltar a postar, como já venho fazendo regularmente desde 2015, quando o Laguna Olímpico iniciou sua trajetória).
Ficar longe do teclado não significa ter estado alheio ao que aconteceu nestes últimos meses no esporte olímpico. Não faltaram histórias incríveis, resultados históricos, ídolos brilhando, no Brasil e no exterior. Daí é possível explicar a frase do primeiro parágrafo deste post. Assim como na vida, o esporte é feito de ciclos, superações de obstáculos às vezes aparentemente instransponíveis, como lesões ou derrotas inesperadas. No final, se o trabalho for bem feito, o resultado fatalmente será positivo.
Os últimos meses, quando se coloca em perspectiva a presença do Brasil nos Jogos Olímpicos Paris-2024, reforçam que este ciclo traz uma expectativa mais positiva do que muitos poderiam imaginar.
Melhor do que em Tóquio? Sim, por que não?
Sem qualquer traço de pachequice (google, por favor), é possível assegurar que a caminhada do chamado Time Brasil até Paris-2024 supera as previsões mais otimistas. Os números comprovam a tese. Neste primeiro ano do ciclo, mais curto do que o habitual em razão da pandemia do coronavírus, os resultados dos atletas brasileiros superaram o desempenho nos Jogos de Tóquio-2020.
A temporada 2022 registrou a conquista de 23 medalhas nos diversos campeonatos mundiais realizados este ano, nas modalidades que compõe o programa olímpico. Isso representa duas a mais do que o Brasil obteve em 2021 no Japão. Com este desempenho, em um hipotético “quadro de medalhas de mundiais”, o Brasil apareceria em 11º lugar, um posto melhor do que em Tóquio.
Por outro lado, a temporada consagrou ainda ídolos já conhecidos e outros com tudo para escreverem uma história repleta de conquistas no esporte brasileiro. Entre eles, Alison dos Santos, campeão mundial dos 400 m com barreiras, no atletismo; Mayra Aguiar e Rafaela Silva, ouro no Mundial de judô; Rayssa Leal, ouro no Mundial de skate street; ou Rebeca Andrade, campeã do individual geral no Mundial de ginástica artística.
Vale registrar ainda os triunfos da dupla Ana Patrícia/Duda no Mundial de vôlei de praia; e de Filipe Toledo no Circuito Mundial de surfe (WSL) deste ano, equivalente ao mundial da modalidade.
Hora de rever conceitos
A surpresa (positiva, ao meu ver) é notar que quem apostava numa retração de resultados do Brasil, passada a Olimpíada de Tóquio, precisa rever os conceitos. Claro que o Brasil ainda está longe de ser considerada uma potência olímpica. No entanto, quem esperava por uma queda de rendimento com a redução do apoio de patrocínios (estatais e privados) após o ciclo anterior, percebe que há uma sequência de resultados positivos em um número cada vez maior de modalidades. Eis a chave do segredo para um país evoluir enquanto nação multiesportiva.
Que os ciclos, do esporte e de nossas vidas, sigam trazendo notícias agradáveis como as que os últimos seis meses reservaram para o torcedor brasileiro (e para o blogueiro).
Esperança para Rússia e Belarus?
As bombas não pararam de cair na Ucrânia, na sangrenta guerra travada desde fevereiro com a Rússia. O conflito já causou cerca de 240 mil mortes, entre soldados e civis, de acordo com reportagem da BBC. Esportivamente falando, a guerra teve algumas consequências mais radicais. Entre elas, o banimento de atletas russos da de Belarus (apoiador do governo de Moscou) das mais variadas competições. Todavia, este expurgo, que conta inclusive com o aval do COI (Comitê Olímpico Internacional), pode estar com os dias contados.
A presidente do comitê olímpico e paralímpico dos Estados Unidos, Susanne Lyons, sinalizou que já chegou o momento de se repensar a extensão da sanção à Rússia e Belarus. Dessa forma, permitindo o retorno de atletas destes países às competições internacionais. Porém, com algumas condições específicas.
Durante a reunião da Olympic Summit, na Suíça, foi proposto o retorno dos atletas russos e bielorrussos. Contudo, desde que estejam sob o status pleno de “atletas neutros”. Segundo Lyons, seria uma forma de evitar as punições de araque que aconteceram na Olimpíada de Tóquio ou nos Jogos de Inverno de 2018, na Coreia. Nestes eventos, os russos estavam lá. Contudo com uniformes cujas cores eram as mesmas de seu país, sob o ridículo nome de “Atletas Olímpicos Russos”, ou coisa do gênero. O famoso “me engana que eu gosto”.
A conferir as cenas dos próximos capítulos.
A frase
“Nós esperamos e faremos o melhor para que os atletas russos retornem ao esporte mundial com dignidade e possam se apresentar sob a bandeira e o hino russo”
Ministro do esporte russo Oleg Matytsin, comentando o fim da suspensão do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) em razão do não cumprimento das regras de conformidade ao combate ao doping pela Rusada (agência antidopagem russa). O retorno dos russos ainda precisa ser referendada pela Wada (Agência Mundial Antidoping) e pelo COI