“E aí Laguna, me atualiza das últimas novidades do mundo olímpico. O que você viu de notícia por aí?” Era desta maneira que nos últimos anos sempre começavam as conversas com meu amigo Edgard Alves, com mais de quatro décadas trabalhando na “Folha de S. Paulo”, onde mantinha uma coluna sobre esporte olímpico. Desde esta última sexta-feira (4), não receberei mais esta ligação. Um dos maiores nomes do jornalismo esportivo brasileiro, Edgard morreu aos 73 anos, em casa, vítima de um ataque cardíaco. O velório acontece neste sábado (5) e o sepultamento será amanhã (6) em Botucatu (SP), onde nasceu.
Criterioso como era em seus textos, Edgard certamente ficaria bravo comigo em razão dos adjetivos que irão sobrar neste post. Mas saibam que são absolutamente todos justos. Não é exagero apontá-lo como uma referência na cobertura do esporte olímpico, ainda de uma época em que não se usava esta nomenclatura nas redações. Falava-se então na cobertura dos “esportes amadores”, ou seja, tudo o que não era futebol.
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Edgard Alves foi um farol e modelo para qualquer jornalista que quisesse trabalhar com esportes. Tinha um conhecimento absurdo de várias modalidades, mas tinha uma predileção especial nas coberturas de atletismo, basquete e boxe. No currículo, foram nada menos do que sete Olimpíadas, quatro Jogos Pan-Americanos, inúmeros Mundiais e outras competições. Foi repórter, chefe de reportagem e colunista. Acima de tudo, foi um exemplo para todos nós e alguém a quem sempre nos aconselhávamos, com a certeza de encontrar a melhor resposta.
Dividimos juntos inúmeras destas coberturas e foi um aprendizado que nenhuma faculdade de jornalismo poderia ter me proporcionado. Degas, como o chamávamos, foi uma das pessoas mais generosas que conheci, ajudando sempre os novatos que chegavam à redação na Barão de Limeira, ou os colegas de outros veículos em uma sala de imprensa qualquer pelo mundo.
Tive uma única oportunidade de trabalhar ao lado de Edgard Alves numa mesma redação, em uma curta passagem temporária pela Folha, em 2018. Degas vibrou quando soube e sempre me pedia para revisar o texto da coluna dele, antes de mandar para a chefia. “Por favor, veja com cuidado pra ver se não escrevi nenhuma bobagem. E pode mexer à vontade”, ele dizia. Por educação, eu concordava, como se houvesse algo a mudar naquelas linhas precisas e praticamente irretocáveis.
O jornalismo esportivo brasileiro ficou mais pobre com o adeus de Edgard Alves.