Houve quem achasse que era blefe ou jogo de cena. Mas a WTA (Associação de Tênis Feminino) causou uma bela surpresa no mundo do esporte nesta quarta-feira (1º) ao confirmar as ameaças e cancelar todos os seus torneios na China. O motivo é a falta de transparência das autoridades chinesas em relação à situação da tenista Peng Shuai.
No começo de novembro, Peng Shuai denunciou em uma rede social ter sido abusada sexualmente pelo ex-vice premiê chinês Zhang Gaoli durante anos. Horas depois, a postagem foi apagada e Peng Shuai praticamente saiu de circulação, sem ser vista ou dar declarações públicas. Seu nome não aparecia nem nos mecanismos de busca acessados na China.
Primeira atleta do país a chegar à liderança do ranking mundial da WTA nas duplas e campeã de Roland Garros e Wimbledon, Peng despertou uma reação em cadeia de muitos tenistas e outros atletas, entre eles Serena Williams, Naomi Osaka e Gerard Piqué. O caso teve repercussões fora do esporte, inclusive com manifestações de associações em defesa dos direitos humanos e da ONU.
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Nem mesmo o aparecimento de Peng em um vídeo onde conversava com Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), acalmou o presidente da WTA, Steve Simon. Ele vinha exigindo provas de que a tenista estava realmente em segurança, mas era ignorado pelas autoridades chinesas. Quando falou pela primeira vez em retirar os torneios do circuito feminino no país asiático, muitos não levaram a sério. Afinal, a China despeja milhões nos cofres da WTA recebendo algumas das etapas mais importantes da temporada.
Até que veio o duro comunicado desta quarta-feira. “Não vejo como posso pedir às nossas atletas para competir lá, enquanto Peng Shuai não tem permissão para se comunicar livremente e aparentemente foi pressionada a contradizer sua alegação de agressão sexual”, escreveu Simon no comunicado.
A decisão foi amplamente apoiada por grandes nomes do tênis internacional. A ex-jogadora americana Billie Jean King, um dos ícones do tênis feminino, aplaudiu a retirada dos torneios. “A WTA escolheu estar do lado certo da história, ao defender os direitos das jogadoras”.
Reação chinesa
É claro que o ato não passaria batido pelos chineses. Nesta quinta (2), a associação chinesa de tênis mostrou “indignação e forte oposição ao anúncio da WTA”, segundo publicou o jornal estatal “Global Times”. A publicação, inclusive, escreveu um duro editorial sobre o caso, apontando para um alvo ainda maior: intenção de provocar um boicote à Olimpíada de Inverno de Pequim, marcada para fevereiro de 2022.
O Ministério das Relações Exteriores da China recusou-se a comentar diretamente a decisão da WTA. Porém, afirmou que o país se opõe à politização do esporte. O COI também começou o dia soltando um novo comunicado sobre o caso Peng Shuai, no qual reforça seguir em sua política de “diplomacia silenciosa”. Reforçou que fez nova chamada de vídeo com a tenista nesta quinta, além de oferecer amplo apoio e diz ter acertado um encontro presencial para janeiro que vem.
É louvável a atitude da WTA ao resolver usar a pressão econômica contra a China para dar um desfecho para o caso envolvendo Peng Shuai. Resta saber quem terá mais força neste triste cabe de guerra.