Nas últimas semanas, o mundo do tênis acompanha com apreensão um caso que já ultrapassou a esfera esportiva e que pode ter reflexos nos Jogos de Inverno de Pequim-2022. A tenista Peng Shuai, primeira atleta do país a chegar ao topo do ranking mundial em duplas, usou uma rede social no começo do mês para denunciar que foi vítima de ataques sexuais de Zhang Gaoli, ex-vice premiê chinês.
Na postagem, a tenista revelou que durante anos foi obrigada a fazer sexo e manter um relacionamento com Zhang, considerado um dos políticos mais poderosos do país. Coincidentemente, poucas horas depois de publicado na plataforma Weibo, o equivalente ao Twitter na China, o texto sumiu. Desde então, Peng simplesmente desapareceu, dando margem a especulações de que ela pudesse estar sofrendo algum tipo de sanção do governo chinês.
Uma suspeita nada exagerada, diante do histórico da China em relação à liberdade de expressão. Só que a coisa saiu do controle. Além de virar manchete internacional, desencadeou um movimento de atletas, mulheres e homens, exigindo uma resposta oficial sobre o paradeiro de Peng, de 35 anos.
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Tenistas como Naomi Osaka, Serena Williams, Patrick McEnroe e até o jogador de futebol Piqué estão postando textos exigindo uma resposta oficial, com a tag #WhereIsPengShuai (Onde está Peng Shuai).
Quando na última quarta-feira (17) surgiu uma suposta carta da tenista, divulgada pela mídia oficial chinesa, a preocupação aumentou. A ponto do presidente da WTA (Associação Feminina de Tênis), Steve Simon, publicar um comunicado oficial. Com todas as letras, ele diz não acreditar que o texto tenha sido escrito pela tenista, duas vezes campeã em duplas dos torneios de Roland Garros e Wimbledon.
Efeito “olímpico”
Mas você, que chegou até aqui neste texto (muito obrigado!), talvez esteja perguntando o que esse episódio envolvendo Peng Shuai tem a ver com os Jogos Pequim-2022. Muito a ver, eu respondo.
Não é de hoje que esta edição da Olimpíada de Inverno sofre críticas de entidades que lutam pelos direitos humanos. Recentemente, na cerimônia de acendimento do fogo olímpico de Pequim-2022, na Grécia, um grupo de ativistas fez um protesto pela liberdade do Tibete. A região é considerada pela China como uma área autônoma do país mas que há muitos anos luta por sua independência. Eles reclamam ainda da repressão chinesa aos uigures, povo de etnia muçulmana que habita a região de Xinjiang.
O fato é um só: o sumiço de Pen Shuai não irá ajudar a melhorar a imagem da China em relação à liberdade de expressão.