Interessante efeméride relembrada nesta terça-feira no site do COI (Comitê Olímpico Internacional). Há exatamente 40 anos, em 28 de setembro de 1981, era encerrado aquele que talvez tenha sido o mais importante congresso organizado pela entidade. Na cidade de Baden-Baden (Alemanha), o caminho para modernizar o movimento olímpico começou a ser construído. Temas como a valorização da presença feminina, a discussão sobre o profissionalismo no esporte e a criação de uma comissão de atletas começaram a surgir deste congresso na Alemanha.
Temas como estes, que para quem acompanha os Jogos Olímpicos atualmente parecem corriqueiros, eram verdadeiros tabus naquela época entre os conservadores dirigentes do COI. Por isso, o primeiro congresso da entidade sob o comando do espanhol Juan Antonio Samaranch, um ano depois da boicotada Olimpíada de Moscou-1980, foi revolucionário sob vários aspectos.
Primeiro, em razão da quantidade de participantes. Foram 469 inscritos no congresso de Baden-Baden, entre membros do COI, comitês olímpicos nacionais, federações internacionais e pela primeira vez, representantes de atletas e treinadores. Entre os temas que dominaram a pauta do congresso, o mais significativo deles era “O futuro dos Jogos Olímpicos”.
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E para buscar estes novos caminhos, algumas decisões relevantes foram tomadas em Baden-Baden. Por exemplo, a criação da primeira comissão de atletas do COI. Entre os que integraram o primeiro grupo de atletas olímpicos com direito a representação, estava o atual presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, medalhista de ouro na esgrima em Montreal-1976. Outro nome importante que participou das discussões no congresso em Baden-Baden estava o britânico Sebastian Coe, na época campeão olímpico dos 1.500 metros e prata nos 800 m do atletismo.
Os debates no congresso do COI na Alemanha em 1981 também apontaram para dar às mulheres um espaço mais relevante dentro do Movimento Olímpico, não apenas dentro das competições como também nas áreas administrativas e de comando. Diante disso, uma das decisões tomadas foi que a partir de então qualquer nova disciplina aprovada no programa dos Jogos teria de ter eventos para homens e mulheres.
Espaço feminino ampliado
O efeito prático disso veremos nos Jogos de Paris-2024, quando o COI promete finalmente uma Olimpíada com igualdade de gênero entre seus participantes. Uma vitória a ser festejada sempre.
Os debates em Baden-Baden acabaram tendo efeito na 84ª Sessão do COI, realizada na sequência do congresso. Foi aprovada a entrada de sete novos integrantes do comitê olímpico. Entre eles as duas primeiras mulheres: Pirjo Haggman, da Finlândia, e Flor-Isava Fonseca, da Venezuela.
Por fim, foi altamente relevante a discussão em torno do profissionalismo no movimento olímpico. Pela regra 26 da Carta Olímpica, era vedada a presença de atletas considerados profissionais nos Jogos Olímpicos. O conceito do amadorismo puro, defendido pelo Barão de Coubertin, é que deveria imperar. Uma grande hipocrisia, essa é a verdade.
No congresso em Baden-Baden, coube ao próprio Thomas Bach na época levantar a questão da necessidade do atleta ter algum tipo de remuneração ao longo de sua carreira. Se não aprovou a entrada do “esporte profissional”, ao menos o COI aceitou que a regra 26 não criasse mais uma desigualdade entre os competidores.
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Isso abriu brechas, por exemplo, para o retorno do tênis no programa do Jogos em Seul-1988, permitindo a entrada dos atletas que disputava o circuito profissional (ou seja, todos). Por fim, a permissão da entrada dos profissionais da NBA no basquete a partir da Olimpíada de Barcelona-1992, com a presença do histórico “Dream Team” dos Estados Unidos.
O movimento olímpico ainda precisa evoluir em vários aspectos, inclusive em dar ainda mais voz aos atletas, a principal razão de ser da Olimpíada. Ou discutir de forma mais ampla o papel do COI em dar respaldo a regimes autoritários ou que ferem os direitos individuais. Porém, é inegável que os efeitos do congresso de Baden-Baden colocaram ajudaram muito a colocar os Jogos Olímpicos no caminho para os novos tempos.