Liberdade, porém sem abusar. Não foi com exatamente estes termos, mas o comunicado desta sexta-feira (2) do COI (Comitê Olímpico Internacional), a respeito das flexibilizações para a chamada “Regra 50” da Carta Olímpica, teve este espírito. Estas mudanças serão colocadas em ação já nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, que começarão no próximo dia 23.
A Regra 50 é um dos itens que compõe a Carta Olímpica, documento que rege as normas do movimento olímpico. Por este artigo, nenhum tipo de manifestação política, religiosa ou racial é permitida em qualquer evento olímpico. O objetivo, segundo o COI, é “proteger a neutralidade do esporte e dos Jogos Olímpicos”.
Atualmente, só são permitidas manifestações dos atletas nas zonas mistas e em entrevistas. Atletas americanos realizaram manifestações ajoelhando-se no pódio durante os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 e foram punidos pelo comitê olímpico dos Estados Unidos.
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A pressão da comunidade esportiva desde o ano passado, especialmente na sequência das manifestações contra o racismo que ocorreram nos Estados Unidos, obrigou o esporte olímpico a se posicionar. Para surpresa de muitos, Thomas Bach, presidente do COI, acenou com uma promessa de diálogo com a comunidade esportiva. E colocou a Comissão de Atletas do COI para iniciar uma pesquisa com mais de 3.500 atletas de 185 comitês olímpicos nacionais, envolvendo todas as modalidades olímpicas.
Sem novidades
O resultado da atualização das diretrizes da Regra 50, que oficializado nesta sexta-feira, foi frustrante, mas não surpreendente. A íntegra das alterações pode ser conferida aqui.
Em resumo, manteve-se para Tóquio a permissão para manifestações em entrevistas na zona mista, IBC (International Broadcasting Center), MMC (Main Media Center), coletivas de imprensa ou canais de redes sociais. A “novidade” foi a permissão para se expressar no campo de jogo, antes do início da competição, mas com ressalvas.
Imagina-se que não serão punidos atletas que se ajoelharem com punho erguido antes dos eventos começarem, assim como tem sido visto em várias partidas da Euro 2020 de futebol, por exemplo. Mas não serão permitidos gestos “perturbadores”, segundo o documento da comissão de atletas do COI, durante execução de hinos nacionais. Exibições de bandeiras ou faixas nestes locais seguem proibidas.
O COI nunca quis dar um passo adiante, essa é a verdade. Aceitou, sob pressão geral e em um momento político complicado, abrir espaço para discussão da flexibilização da tal Regra 50. No final, permitirá que as manifestações ocorram, mas controladas. Além disso, que não causem constrangimento a dirigentes esportivos e regimes políticos.
Curioso para ver como se dará na prática as novas diretrizes, em uma Olimpíada que será marcada por limitações jamais vistas antes, por causa da pandemia do coronavírus. Não ficarei surpreso se alguns atletas resolverem testar os novos limites da glorioso Regra 50.