Não bastasse todos os desafios para encarar os Jogos Olímpicos mais tumultuados da história, por causa da pandemia, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) ainda precisa lidar com um problema surreal, para dizer o mínimo. A polêmica envolvendo o surfista Gabriel Medina, em embate com a entidade para levar a esposa Yasmin Brunet a Tóquio, beira o inacreditável. E demonstra que o maior nome da história do surfe brasileiro não entendeu ainda o significado de estar em uma Olimpíada.
A confusão toda explodiu há cerca de dez dias. Em uma entrevista à “CNN”, Gabriel Medina reclamou que não estava tendo o mesmo tratamento do COB do que seus colegas de modalidade, os surfistas Tatiana Weston-Webb e Ítalo Ferreira.
O bicampeão mundial reclamou que o Comitê Olímpico não concordou em dar uma credencial para Yasmin. Ela, diz Medina, é fundamental para sua performance e que o acompanha no circuito mundial. Em compensação, segundo o surfista, Tatiana levará o marido como técnico, enquanto Ítalo terá um amigo pessoal.
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Em resposta, o COB disse que em razão das restrições impostas pela pandemia, só pode credenciar uma pessoa para atuar na área técnica. Afirmou ainda que no começo do ano, a pedido de Medina, trocou o nome do técnico, credenciando Andy King, que vem acompanhando o brasileiro no circuito mundial, desde que ele deixou de trabalhar com Charles, seu padrasto.
O tom choroso, com direito a uma frase patética (“Eu vou ter que viajar sozinho”) foi deixado de lado em uma entrevista ao jornal “O Globo”, neste domingo (27). Em longas respostas, enviadas por e-mail, Gabriel Medina volta à carga e diz que está se sentindo injustiçado pelo COB.
Apoio técnico e psicológico
O surfista brasileiro argumenta que pede a presença de Yasmin Brunet em Tóquio não como esposa e sim como seu estafe pessoal. Explicou que ela filme seus treinos, faz análises estatísticas dele e dos adversários nas baterias, lhe dá suporte psicológico e cuida de sua alimentação durante as etapas. Ah, o próprio Medina admite que sua esposa não tem formação como psicóloga ou nutricionista.
Ao que me parece, Yasmin Brunet não tem também no currículo algum trabalho técnico de apoio a outro surfista.
“Eu estou sendo muito prejudicado e injustiçado”, enfatizou Medina na entrevista, apontando o dedo tanto para o COB quanto à CBS (Confederação Brasileira de Surfe) e dizendo que deu todas as justificativas para ter Yasmin Brunet com ele na Olimpíada. Segundo o COB, o assunto está sendo discutido diretamente com o atleta, sem entrar no mérito dos argumentos do surfista.
Gabriel Medina tem todo o direito de reclamar por não ter a presença de sua esposa ao seu lado em Tóquio-2020. Mas ao expor a reclamação de forma pública desta maneira, mostra que seu declarado sonho de criança em defender o Brasil nos Jogos Olímpicos é apenas uma frase de efeito.
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Medina demonstra não entender o real significado de estar em uma Olimpíada. Vários atletas se submetem a enormes desafios pessoais para buscar o sonho de uma medalha olímpica. Ele mostra ainda uma falta de empatia com as restrições impostas pelos organizadores em razão da pandemia. Além disso, não respeita os critérios estabelecidos pelo próprio COB na formação da delegação brasileira.
Com o Brasil próximo de uma campanha que pode marcar um recorde de medalhas olímpicas em todos os tempos, na qual o surfista é candidato fortíssimo a levar o ouro, Gabriel Medina mostra estar pensando apenas no próprio umbigo.