A pressão popular no Japão contra a realização da Olimpíada de Tóquio, em razão do estágio da pandemia do coronavírus no país, ganhou nesta quarta-feira (26) uma voz de peso. O jornal japonês “Asahí Shimbum”, publicou um duro editorial no qual pede para que o primeiro-ministro Yoshihide Suga cancele a edição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Detalhe importante é que o periódico é nada menos do que um dos patrocinadores oficiais de Tóquio-2020.
Sob o título “Primeiro-ministro Suga, cancela as Olimpíadas”, o editorial do “Asahí Shimbum” aponta que existe uma possibilidade bem real de que o estado de emergência em vigor atualmente em Tóquio e várias outras cidades seja ampliado até 20 de junho.
“O governo central, o governo metropolitano de Tóquio e as autoridades olímpicas estão avançando implacavelmente, recusando-se a responder às perguntas e preocupações legítimas do público. A desconfiança e apreensão das pessoas estão crescendo”, diz o texto do jornal japonês.
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Coincidentemente, o editorial é publicado poucos dias após a última reunião de coordenação do COI (Comitê Olímpico Internacional), na semana passada. No encontro, o vice-presidente do COI, John Coates, respondeu a um jornalista que os Jogos de Tóquio poderiam acontecer normalmente mesmo se a capital japonesa se encontre sob estado de emergência.
“O pensamento de Coates estava claramente em desacordo com o sentimento popular no Japão, e sua atitude de dize ‘sim’ aos Jogos sem apresentar nenhuma evidência de apoio serviu para nos lembrar novamente da hipocrisia do COI”, prossegue o texto, sem meias palavras.
As últimas pesquisas de opinião pública vão de encontro ao editorial. Os números variam de acordo com o veículo, mas de modo geral, 80% dos entrevistados gostariam de um novo adiamento ou mesmo cancelamento da Olimpíada de Tóquio.
A Covid-19 continua sem perspectivas de controle no Japão. Embora com tendência de queda, o número de novos casos nas últimas 24h chegou a quase 4 mil casos. Desde o início da pandemia, o país teve 12.398 óbitos. O sistema de saúde japonês está sob intensa pressão e o ritmo de vacinação no país segue em ritmo muito lento.
Protocolos eficientes?
O editorial fala ainda de uma preocupação extra: mesmo com tantos protocolos de segurança sanitária, não é possível apostar na eficiência deles. “Mais de 90 mil pessoas e pessoal técnico entrarão no Japão. E mesmo sem espectadores, mais de 100 mil pessoas estarão reunidas, incluindo os voluntários. Todas estas pessoas irão para casa quando os Jogos acabarem. Não há como descartar a possibilidade de que, após os portadores de vírus de todo o mundo convergirem para o Japão, estes vírus se espalhem pelo mundo”, diz o jornal japonês.
Ao apontar ainda que o espírito olímpico se perdeu com as dificuldades de treinamento ou mesmo para disputar classificações olímpicas, o editorial comenta que por causa do coronavírus, uma das coisas mais importantes ligadas à Olimpíada não ocorrerá este ano. A integração dos atletas à vida da cidade, numa troca cultural que sempre ocorreu, desta vez não será permitida. Os atletas terão que se contentar em sair da Vila Olímpica para competir e voltar para o alojamento. Que tristeza…
O duro texto do “Asahí Shumbum” não deve ser encarado apenas como uma voz mal-humorada e pessimista. A reflexão sobre os efeitos causados pelos Jogos Tóquio-2020 é necessária, sem esquecer nenhum dos lados envolvidos nesta complexa equação.