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Tóquio 2020

Vaga emocionante do handebol não apaga trajetória complicada até Tóquio

Vitória de virada sobre o Chile tem que ser comemorada, mas é preciso evitar que os erros neste ciclo voltem a acontecer

Handebol Brasil Felipe Borges
O ponta Felipe Borges faz arremesso na vitória do Brasil sobre o Chile, que rendeu a vaga nos Jogos de Tóquio (Stefan Ivanovic/Divulgação)

Sem medo de abusar do clichê surrado, a classificação da seleção brasileira masculina de handebol para a Olimpíada de Tóquio foi histórica. De forma emocionante, a vaga chegou neste domingo (14) com uma vitória de virada sobre o Chile, na última rodada do Pré-Olímpico de Montenegro, ao ganhar do rival sul-americano por 26 a 24. Será a sexta participação em Olimpíadas do handebol masculino. Aliás, foi a primeira vez que o Brasil confirmou sua classificação pelo pré-olímpico.

A campanha no torneio realizada na cidade de Podgorica também consagrou os dois goleiros brasileiros. No sábado, o experiente Cesar Bombom, de 32 anos, foi um dos destaques na vitória diante da Coreia do Sul, enquanto o igualmente rodada Ferrugem, de 33, foi o grande herói no jogo da vaga diante dos chilenos, pegando até pensamento.

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É natural que o fã de handebol tenha um sentimento de orgulho após a conquista da classificação olímpica, ainda mais da maneira como ela veio. Porém, isso não impede que se faça uma reflexão necessária em cima da conturbada trajetória que levou o handebol masculino a carimbar seu passaporte rumo a Tóquio.

O ponto principal é que, quando se tem um olhar geral, constata-se que o handebol brasileiro fez tudo errado neste ciclo olímpico.

E quando se fala em erro, a maior parcela da culpa precisa ser apontada para a cartolagem. A terrível gestão de Manoel Luiz de Oliveira, que comandou a modalidade por quase três décadas, asfixiou a modalidade. Por problemas de mau uso de dinheiro público, a CBHb (Confederação Brasileira de Handebol) é devedora da União e não pode receber recursos públicos.

Manoel foi afastado pela Justiça e sucedido sem deixar saudades pelo vice Ricardo Souza, o Ricardinho. Um dirigente que superou todas as expectativas negativas ao ser suspenso por dois anos pelo Conselho de Ética do COB, por assédio sexual a uma funcionária da CBHb. Por incrível que pareça, ele permaneceu no cargo por força de uma liminar na Justiça Comum. Só renunciou por medo de ser responsabilizado caso a seleção masculina não recebesse recursos do COB para se preparar e disputar o Campeonato Mundial do Egito, realizado em janeiro deste ano.

Reflexo na quadra

Obviamente que a guerra política na confederação respingou dentro de quadra. E teve influência direta na quadra.

Sem resultados significativos em 2017 e 2018, a seleção masculina conseguiu mudar esta situação em 2019. Uma campanha excepcional no Mundial da Alemanha, com direito a quatro inéditas vitórias contra equipes da Europa (Sérvia, Rússia, Croácia e Islândia) e um 9º lugar na classificação final. Por isso, era natural que o time chegasse como grande candidato ao ouro no Pan de Lima-2019 e automaticamente com a vaga em Tóquio.

Só que havia um Chile (quem diria!) no meio do caminho, na semifinal. O Chile, é bom lembrar, que sempre foi um eterno freguês do handebol brasileiro. Mas uma atuação horrível deixou a seleção pelo caminho. Pior: nem teria direito a disputar o Pré-Olímpico.

Só conseguiu porque Espanha e Egito, que ficaram à frente do Brasil no Mundial, venceram os respectivos torneios continentais. Assim, abriu a vaga para que a seleção fosse ao Pré-Olímpico.

Troca de comando

A crise política na CBHb também fez com que fosse mudado três vezes o comando técnico da equipe. Washington Nunes, que dirigiu o time no Mundial de 2019, foi demitido por Ricardinho após o vexame no Pan, recontratado por Manoel em agosto de 2020 e dois meses depois novamente demitido pelo presidente em exercício Ricardinho, que contratou Marcus “Tatá” Oliveira, atual treinador da seleção.

Nesta comédia de erros, o Brasil viveu até um surto de Covid-19 em sua preparação para o Mundial do Egito, em Portugal, que deixou o capitão Thiagus Petrus e Marcus Tatá fora da competição.

O que se espera é que agora sob nova direção – Felipe Regobarros venceu a eleição no dia 1º de fevereiro – o handebol brasileiro faça de fato uma correção de rota. Sobre a seleção masculina, comemore e muito a vaga para os Jogos de Tóquio. Só não se deve empurrar para debaixo do tapete todos os problemas que marcaram essa trajetória até a Olimpíada.

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