Chocante, para dizer o mínimo, o depoimento dado por Bruno Schmidt, campeão olímpico do vôlei de praia na Olimpíada Rio-2016, na edição de hoje do jornal “O Globo”. O texto da ótima reportagem, assinado pela jornalista Carol Knoploch, pode ser visto também na versão online (clique aqui).
Para quem não sabe, Bruno Schmidt é mais um que derrotou a Covid-19, depois de ter passado 13 dias internado, cinco deles em uma UTI, em um hospital de Vila Velha (ES). Chegou a ter 70% dos pulmões comprometidos. Ele não mediu as palavras para falar sobre o medo que sentiu em não conseguir superar o coronavírus.
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“Sei que quase morri. Até então, o máximo para mim era ir à fisioterapia ou ao ortopedista pegar a receita para um anti-inflamatório. Do nada, corri risco de morte. Tinha receio de entrar em coma, de não acordar ou de acordar dias, semanas depois. Duvidava se sairia dessa, qual seria a resposta do meu corpo e se os remédios dariam conta da infecção”, afirmou Bruno ao “Globo”.
Tudo isso vindo de um atleta ainda jovem de 34 anos. Ou seja, o tal “histórico de atleta”, argumento usado pelo presidente Jair Bolsonaro para minimizar o coronavírus no ano passado, não poupa ninguém. Não à toa que discursos negacionistas como este contribuíram muito para que hoje o Brasil viva hoje seu momento mais dramático na pandemia, com recordes de novos casos e mortes batidos a cada dia.
Igualmente chocante, contudo, foi ver a opinião de Bruno Schmidt a respeito da realização de Olimpíada de Tóquio. Chocante, porém totalmente compreensível. E que convenhamos, desperta uma reflexão necessária.
“Depois de tudo o que passei, tenho o direito de dizer que a Olimpíada não deveria ser disputada este ano. Por que não em 2024, no lugar de Paris, e Paris em 2028? É o mais sensato e respeitoso. Mais do que ninguém, quero disputar esta Olimpíada e continuarei a me preparar. Mas o evento está encaixado em um momento delicado no mundo. Está fora do contexto”, disse o jogador, que ao lado do parceiro Evandro, já está classificado para os Jogos de Tóquio.
Oposição à Olimpíada
Pode parecer contraditório, mas as palavras de Bruno merecem uma avaliação menos apressada. Claro que atletas e o público em geral estão ansiosos para ver a Olimpíada acontecer, após ter sido adiada em um ano por causa da pandemia.
Mas não é possível que todos consigam fechar os olhos diante dos problemas que cercam este evento. O governo japonês já falou que não pretende permitir a entrada de torcedores estrangeiros para ver os Jogos. Tem atleta que nem consegue competir em eventos preparatórios ou mesmo classificatórios.
Os Jogos estão manchados pelo coronavírus, não importa o discurso marqueteiro que o COI (Comitê Olímpico Internacional) ou os japoneses queiram emplacar, de que Tóquio-2020 “venceu a Covid”. No máximo, será um plano B para que o evento possa ir em frente.
Isso sem falar na situação que o esporte brasileiro tem convivido com a pandemia. Competições importantes, como a Superliga de vôlei, têm convivido com diversos surtos da doença entre os atletas, alterando calendário de competições. O próprio vôlei de praia só conseguiu seguir com seu calendário por ter criado uma “bolha” de segurança no CT de Saquarema (RJ). Mesmo assim, duplas já tiveram que desistir de torneios por estarem contaminadas.
Bruno Schmidt não merece ser criticado por se opor à Olimpíada. Suas palavras deveriam sim servir para que atletas e dirigentes fizessem uma reflexão. Será que o caminho escolhido para colocar a roda do esporte girando nesta pandemia foi o melhor a ser feito?