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Leila erra feio ao insistir em prioridade de vacinas para atletas

Por mais que a intenção seja boa, proposta da senadora e medalhista olímpica Leila Barros é no mínimo antiética

Leila Barros senadora
A senadora Leila Barros (PSB-DF) vai tentar novamente aprovar um projeto de lei que (Jane de Araújo/Agencia Senado)

Leila Barros teve uma brilhante história no esporte olímpico do Brasil. Atleta do vôlei, foi a três Olimpíadas (Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), tendo sido medalhista de bronze nas duas últimas. Conquistou ainda inúmeros títulos nacionais por clubes e todo este currículo ajudou em sua trajetória na vida pública no pós-carreira.

Atualmente senadora pelo PSB-DF, Leila Barros teve ainda um papel importante no ano passado, ao sair em defesa da jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que foi julgada pelo STJD da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) em razão de uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro. O que Leila fez foi o óbvio: defender a liberdade de manifestação de Carol e condenar a tentativa de censura feita pela CBV.

Porém, nos últimos dias a senadora Leila Barros tem se esforçado para manchar sua biografia ao insistir, segundo informa o jornal “O Globo”, em um projeto de lei para garantir que a delegação brasileira que irá aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio-2020 possa ser vacinada antes contra a Covid-19.

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Ontem (4), Leila viu rejeitada uma emenda ao Projeto de Lei de Conversão (PLV) 43/2020, que previa que as doses das vacinas fossem adquiridas pela iniciativa privada, sem prejudicar o programa nacional de imunização do SUS (Sistema Único de Saúde). Projeta-se que somadas as delegações olímpicas e paralímpicas, seriam em torno de 1.700 doses. Com a rejeição da emeda, Leila Barros promete apresentar um projeto de lei ainda nesta sexta-feira (5).

Por mais que esteja repleta de boas intenções, e não duvido disso, a proposta da senadora Leila Barros é no mínimo antiética. Dessa maneira, ela se iguala à outras que já apareceram pelo movimento olímpico recentemente, desde que a pandemia do coronavírus retomou com força no Japão, obrigando inclusive à ampliação do estado de emergência no país.

Proposta não é inédita

Figuras como o decano do COI (Comitê Olímpico Internacional) Dick Pound, ou o presidente do Comitê Olímpico da França, Denis Masseglia, defendem de forma até imoral, na minha opinião, que os atletas possam se vacinar antes para disputar a Olimpíada.

E por que seria tão imoral assim pensar nesta prioridade para vacinação, já que seriam cerca de 11 mil doses (pensando apenas nos atletas dos Jogos Olímpicos), em relação à população mundial?

Simplesmente por uma questão matemática e de empatia. Não é necessário nenhum supercomputador da Nasa para saber se que o ritmo da vacinação em todo o mundo é bem abaixo do que o necessário. Em muitos países, ela sequer começou ainda.

Para ficar apenas no nosso quintal, a vergonha é ainda maior. Com uma inacreditável politização na mais grave crise de saúde pública em cem anos, o Brasil está engatinhando no ranking mundial de população imunizada. Segundo a Universidade de Oxford, foram vacinadas até agora no país 3,07 milhões de pessoas. A população do Brasil, segundo o IBGE, é de 211,8 milhões. Ou seja, 1,4% teve a sorte de tomar a vacina.

Qual a justificativa moral para comprar, mesmo via iniciativa privada, 1.700 doses para delegações olímpicas e paralímpicas irem competir em Tóquio? E a quantidade de idosos, pessoas em situações de risco, profissionais da linha de frente que ainda aguardam sua sonhada vacina? Por que não brigar para que estas doses adquiridas pela iniciativa privada possam ajudar uma parcela mais necessitada da população?

É difícil fechar essa equação na minha cabeça.

Tenho saudades da Leila que encarava os bloqueios das cubanas e vibrava a cada ponto marcado. Desta Leila Barros, que mesmo com boas intenções pisa feio na bola ao defender um privilégio injustificável, quero distância.

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