Em alguns momentos, é preciso dar às coisas o nome que elas merecem ter. Sem mais delongas, é imoral a possibilidade de atletas tomarem a vacina contra a Covid-19, antes de grupos prioritários, para salvar a realização da Olimpíada de Tóquio-2020.
Tal tese estapafúrdia vem sendo propagada com alguma insistência nas últimas semanas, especialmente em razão do aumento da pandemia do coronavírus no Japão, que inclusive pensa em prolongar o estado de emergência no país, que iria até 7 de fevereiro.
Bom lembrar que a necessidade/obrigatoriedade de vacinar atletas para que a Olimpíada aconteça não encontra eco nem dentro do COI (Comitê Olímpico Internacional). O presidente da entidade, o alemão Thomas Bach, já afirmou mais de uma vez que não será exigido que os atletas se vacinem antes dos Jogos de Tóquio-2020. Mas, incentiva que quem puder e tiver condições, que se vacine.
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Duro é que uma recomendação até positiva esteja servindo de desculpa para ideias nada ética. Primeiro, veio o decano do COI, o canadense Dick Pound, que em uma entrevista recente afirmou que os atletas deveriam ter uma prioridade para receberem as doses das vacinas. “Esta é a única maneira de irmos em frente”, disse Pound à rede britânica “BBC”.
Nesta segunda-feira (25), de forma menos enfática e usando de eufemismos, o presidente do Comitê Olímpico da França, Denis Masseglia, em entrevista à agência “AFP”, disse que quem não estiver vacinado, terá muitos problemas para disputar os Jogos de Tóquio-2020.
“Os atletas terão que passar por quarentena de 15 dias e se submeter a exames de manhã e à noite. Está em jogo a realização dos Jogos Olímpicos”, afirmou o cartola. Masseglia ainda tentou disfarçar ao dizer que “furar a fila” dos grupos prioritários está fora de questão. “Mas podemos supor que até os Jogos é possível vaciná-los [atletas] sem penalizar outras pessoas”, imagina o dirigente francês.
Realidade distinta
O que algumas pessoas do Movimento Olímpico talvez não enxerguem é que o ritmo de vacinação em todo o mundo ainda é muito lento. Dados levantados pela Universidade de Oxford mostram que pouquíssimos países estão avançando. Israel ostenta uma ótima taxa de mais de 46% de vacinados para cada 100 pessoas. Em compensação, países mais populosos como os Estados Unidos têm somente 7,11%. O continente africano, por exemplo, praticamente não começou a aplicar vacinas em sua população.
A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) encerra a discussão sobre a possibilidade dos atletas serem vacinados como prioridade. “Não há vacina suficiente no momento para atender aqueles em maior risco. Enfrentamos uma crise global que exige que profissionais da saúde na linha de frente, os idosos e os mais vulneráveis em nossas sociedades tenham acesso à vacina primeiro”, disse Mike Ryan, diretor da OMS.
COI se reúne
Em meio a toda esta crise, a cúpula do COI estará reunida nesta quarta-feira (27). Obviamente a questão sobre a confirmação de Tóquio-2020 será a pauta principal do encontro do comitê executivo da entidade. Mas ninguém aposta que neste momento, a proposta de cancelamento dos Jogos seja posta na mesa.
Na última semana, uma reportagem do jornal britânico “The Times” disse que dentro do governo do Japão, já se admitia que a Olimpíada seria cancelada, pela falta de meios de controlar a pandemia a tempo dos Jogos acontecerem. A informação foi desmentida veementemente tanto pelo COI quanto pelos japoneses.
O COI ainda insiste que apoia firmemente a realização de Tóquio-2020, bem como diz não ter um plano B para o evento. Ou acontece este ano ou será cancelado.
Seria mais prudente que do resultado do encontro desta quarta-feira sejam anunciadas, de forma mais objetiva, medidas efetivas de segurança que serão colocadas em prática para a realização do evento. Sem contar com a tal opção irreal e imoral de ter todos os participantes vacinados previamente antes das pessoas que realmente precisam.