A longevidade, que deveria ser sinônimo de sabedoria e bom senso, não funcionou muito para o canadense Dick Pound, membro mais antigo do COI (Comitê Olímpico Internacional). Em uma entrevista desastrosa para a BBC, Pound colocou um belo ponto de interrogação sobre a realização da Olimpíada de Tóquio, em razão do atual estágio da pandemia do coronavírus no Japão. Para piorar, demonstrou uma falta de empatia inacreditável, ao defender que os atletas tenham prioridade para vacinação contra a Covid-19, como forma de assegurar a realização dos Jogos.
Esta semana, a preocupação global sobre a realização a Olimpíada, adiada de forma inédita para este ano após a explosão da pandemia no ano passado, aumentou consideravelmente. Na última quinta-feira (7), o governo do Japão decretou estado de emergência em Tóquio e outras três cidades, pelo aumento de casos. O Japão teve 6.906 novos casos de Covid-19 nas últimas 24h. No total, 265.299 pessoas foram infectadas desde o início da pandemia e 3.857 óbitos.
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Tal quadro deve ter provocado um momento “sincerão” no decano Pound, ao falar à BBC. Primeiro, colocou um belo ponto de interrogação sobre a realização dos Jogos de Tóquio. “Não posso ter certeza porque o grande problema são os contínuos surtos do vírus”, afirmou. Isso depois do próprio COI ter assegurado publicamente a confiança de que a Olimpíada acontecerá normalmente em julho, de forma segura para atletas e torcedores.
Para quem gosta de coincidências, foi Pound a primeira voz oficial do COI a admitir abertamente que a Olimpíada seria adiada, logo após a pandemia da Covid-19 ser declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Uma pessoa com bom trânsito dentro do COI já me disse uma vez que Pound não costuma ter “papas na língua” e só fala com absoluto conhecimento do que rola nos bastidores da entidade.
Prioridade nas vacinas?
A parte mais polêmica da entrevista, contudo, veio quando o dirigente falou sobre vacinas. Mesmo com o presidente do COI, Thomas Bach, e o comitê organizador dos Jogos terem dito que estar vacinado não será condição obrigatória para disputar a Olimpíada, Dick Pound foi na direção contrária.
Para o dirigente canadense, os atletas olímpicos deveriam ter uma espécie de prioridade para receber as vacinas em seus países, como uma forma de salvaguardar a própria Olimpíada. “É uma decisão de cada país e certamente haverá quem diga que estão pulando a fila. Mas acho que esta é a única maneira de podermos ir em frente”, declarou Pound.
Pode ser que para um canadense, país que encarou a pandemia de forma responsável e já tem a vacinação de sua população em andamento, esta forma de pensar seja pragmática e até normal. Já para quem vive no Brasil e seus 200 mil mortos pela Covid, a falta de empatia chega a revoltar.
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Até porque não há garantia alguma que haverá vacina em quantidade suficiente para vacinar os grupos prioritários. Leia-se idosos, profissionais da saúde, pessoas com comorbidade, entre outras. Cada país sabe da sua necessidade. Não o Comitê Olímpico Internacional.
“No Canadá, deveremos ter entre 300 e 400 atletas na Olimpíada. Seriam 300 ou 400 vacinas em relação a milhões de pessoas para que o Canadá seja representado em um evento desta estatura. Não creio que haveria qualquer espécie de protesto público”, afirmou Dick Pound.
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O COI já declarou que pretende estimular os atletas a tomarem vacina. Até como uma forma de servirem de exemplos para a população de modo geral. Até aí, tudo certo. Difícil é ouvir um dirigente afirmar, sem o menor constrangimento, que se priorizem os atletas para garantir o sucesso da Olimpíada.
Farinha pouca, meu pirão primeiro.