É necessário ter tranquilidade para avaliar os efeitos da notícia que abalou o esporte mundial nesta quinta-feira (17), que foi o banimento da Rússia de todas as competições até 2022. A pena, confirmada pelo CAS (Tribunal Arbitral do Esporte), abrange as Olimpíadas de Tóquio-2020, Pequim-2022 (Inverno) e até a Copa do Mundo de futebol na Qatar, no final de 2022, caso a seleção russa se classifique. Mas se você quer saber, a Rússia saiu no lucro ao final de toda esta história.
E por que eu digo isso? Primeiro, por uma questão matemática. No final de 2019, a Wada (Agência Mundial Antidoping) condenou o esporte da Rússia a um banimento de quatro anos. Um ciclo olímpico de verão inteiro, pelo menos antes da pandemia do coronavírus bagunçar o calendário mundial e empurrar os Jogos de Tóquio para o ano que vem.
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O motivo para tal punição foram indícios que que o laboratório da agência antidopagem da Rússia seguia manipulando dados de exames. Na prática, suspeita-se que o esquema de acobertamento de doping, que foi exposto em 2015 e tirou os russos da Paralimpíada da Rio-2016, por exemplo, seguia em funcionamento.
O caso foi parar então no CAS, que nesta quinta-feira deu uma bela amenizada na pena. Além de diminuir o tempo do castigo, segue permitindo que atletas russos sem histórico de doping ainda possam participar de eventos esportivos mundiais.
Para isso, contudo, terão que competir sob bandeira do COI (Comitê Olímpico Internacional), sem bandeira russa, sem hino ou mesmo os símbolos do país em seus uniformes. Seria algo como já ocorreu na Olimpíada de Inverno de 2018, em PyeongChang, na Coreia do Sul. Na ocasião, eles competiram pelo nome de OAR (Atletas Olímpicos da Rússia).
Indignação
É claro que houve quem ficasse indignado com a decisão. A agência americana antidoping soltou nota criticando a redução da pena. A entidade Atletas Globais (Global Athlete) bateu forte também na resolução do CAS. “A decisão desferiu mais um golpe prejudicial no esporte limpo (…) O fato de atletas russos poderem competir como ‘Atletas Neutros da Rússia’ é outra fachada da farsa que zomba do sistema. A Rússia não foi banida, eles foram simplesmente renomeados”, diz a entidade em nota oficial.
O silêncio de Moscou até agora pelo resultado do julgamento também é um indicativo de que a decisão foi melhor que eles esperavam. Minha maior dúvida é ver qual será de fato o efeito prático de tudo isso. Não me parece que o combate ao doping teve algum tipo de vitória efetiva nesta quinta-feira, ao menos a longo prazo. Vamos aguardar o desenrolar da novela.