Aqueles que acreditavam que o esporte mundial passaria a viver um ambiente mais democrático, pelas manifestações de atletas neste ano, podem refazer seus conceitos. O movimento que vinha pedindo o fim ou a flexibilização da Regra 50 da Carta Olímpica, que proíbe protestos de atletas em competições ou cerimônias, sofreu um duro golpe neste sábado (24). Um artigo assinado no jornal “The Guardian” por Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), traz uma sinalização forte de que estas mudanças não acontecerão tão cedo.
O artigo de Thomas Bach foi claro ao mostrar que nem mesmo a crescente participação de atletas em movimentos como “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam), causou abalo nas convicções conservadoras do COI.
+ O blog está no Twitter. Clique e siga para acompanhar
“Os Jogos Olímpicos são, em primeiro lugar, sobre esporte. Os atletas personificam os valores de excelência, solidariedade e paz. Eles expressam essa inclusão e respeito mútuo também por serem politicamente neutros no campo de jogo e durante as cerimônias. Às vezes, esse foco no esporte precisa ser conciliado com a liberdade de expressão de que todos os atletas também desfrutam nos Jogos”, escreveu o presidente do COI.
Na sequência do texto, porém, Thomas Bach mostra que esta liberdade de expressão é bem limitada. “O poder unificador dos Jogos só pode se desenvolver se todos mostrarem respeito e solidariedade uns com os outros. Caso contrário, os Jogos irão cair em um mercado de manifestações de todos os tipos, dividindo e não unindo o mundo”, afirmou.
Discurso diferente
É uma posição bem diferente do que o próprio dirigente alemão mostrou meses atrás, no auge dos protestos pelo assassinato de George Floyd por policiais brancos nos Estados Unidos. Diante da presença de importantes atletas americanos nas manifestações, Bach disse que a Comissão de Atletas do COI iria conversar com esportistas em todos os países, buscando sugestões para flexibilizar a Regra 50.
+ Curta a página do blog no Facebook
Recentes atitudes do COI mostram que a última coisa que a entidade quer mudar é esta tal “neutralidade”. Em outras palavras, isso nunca existiu, porque o COI é uma entidade política, acima de tudo.
Como por exemplo, em relação à situação esportiva de Belarus. Reeleito presidente do país de forma polêmica em agosto, Alexander Lukashenko também comanda o comitê olímpico nacional. O problema é que uma atleta olímpica de Belarus, a jogadora de basquete Yelena Leuchanka, foi presa durante 15 dias por protestar contra a violência policial no país.
+ O blog também está no Instagram. Siga
O que fez o COI em relação a isso? Apenas uma nota oficial protocolar, dizendo que estava “observando a situação” em relação a outros atletas que estariam protestando contra Lukashenko. Ou seja, nenhuma novidade na postura da entidade.
Portanto, não duvido que a pressão sobre o COI da comunidade internacional dos atletas irá aumentar consideravelmente após este artigo de Thomas Bach. O jogo político está longe de terminar.