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Troca de técnicos expõe crise sem fim no handebol brasileiro

Mudanças na seleção masculina são a ponta do iceberg dos problemas da CBHb, cujo atual presidente desafia até uma suspensão por assédio sexual

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A seleção brasileira masculina trocou de treinador duas vezes em dois meses, como resultado de uma guerra política (Divulgação/CBHb)

A carta aberta publicada nesta terça-feira (13) pelo capitão da seleção brasileira masculina, Thiagus Petrus, expôs as entranhas de uma crise sem fim no handebol brasileiro. Mas engana-se quem pensa que os problemas estão apenas na bizarra troca de treinadores que ocorre na equipe masculina desde o último mês de agosto. O handebol do Brasil caminha como se fosse um navio desgovernado, rumo a um iceberg que irá afundar toda a modalidade.

A grande responsável por este momento complicado é uma inacreditável disputa de poder no comando da CBHb (Confederação Brasileira de Handebol). De um lado, o eterno Manoel Oliveira, há 31 anos à frente do handebol brasileiro, mas que foi afastado pela Justiça em 2018 por má utilização de dinheiro público na confederação.

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O veterano cartola conseguiu retornar ao cargo também por via judicial em abril deste ano. Voltou a ser afastado em setembro, por decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região

Do outro lado desta novela, está Ricardo Souza, conhecido como Ricardinho dentro da modalidade, o primeiro vice-presidente da CBHb. Ele foi punido pelo Conselho de Ética do COB (Comitê Olímpico do Brasil) em outubro, após ser julgado e condenado com uma pena de dois anos de suspensão. O motivo é vergonhoso: assédio sexual e moral de uma funcionária da confederação, durante os Jogos Pan-Americanos de Lima-2019.

Aparentemente Ricardinho não deu muita bola para tal punição, tanto que conseguiu uma liminar na Justiça Comum e segue despachando normalmente. Ele, inclusive, foi responsável pela última troca na seleção masculina. Demitiu Washington Nunes há seis dias, que fora reconduzido ao cargo por Manoel em agosto. Agora, até segunda ordem, o treinador é Marcus Tatá, que comanda o Taubaté.

O que dizem os envolvidos

Para tentar entender e explicar um pouco deste enredo surrealista, o blog procurou algumas das partes envolvidas neste imbróglio. Que diga-se de passagem, pode trazer consequências ruins para o handebol brasileiro.

Handebol brasileiro Ricardo Souza
Ricardo Souza, vice-presidente da CBHb, condenado por assédio sexual pelo Comitê de Ética do COB (Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Um retrato de como a situação está complicada pode ser visto em um manifesto criado por membros da Assembleia da CBHb. Ele foi assinado por estrelas da modalidade, como o próprio Thiagus Petrus, Duda Amorim, Diogo Hubner, Dani Piedade, além de várias federações estaduais.

O documento é muito claro: uma parte significativa da comunidade da modalidade não reconhece a legitimidade de Ricardinho no comando da confederação.

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“Os membros da Assembleia da Confederação Brasileira de Handebol e apoiadores que abaixo subscrevem esta Carta Aberta, declaram que não apoiam que o 1º Vice-Presidente da CBHb exerça a presidência da CBHb, tampouco qualquer pessoa afastada pela Justiça, propondo que, como último ato de dedicação sincera ao Handebol Brasileiro que renuncie ao cargo de 1º Vice-Presidente, para quem de direito tome posse e convoque Assembleia Geral Extraordinária”, diz um trecho do documento.

Poderes limitados

O COB, parte interessada no caso, em razão da suspensão aplicada pelo seu Comitê de Ética, alega que as atividades do presidente em exercício da CBHb restringem-se apenas à própria entidade.

“Ricardo de Souza foi suspenso pelo conselho de ética do COB e obteve na justiça uma liminar que permite a ele permanecer como vice-presidente da CBHb, uma vez que tal decisão limitou a suspensão dele às atividades do COB. Qualquer atitude dele no âmbito da CBHb está respaldada pelo judiciário. Desta forma, ele está suspenso no COB e não poderá integrar missões, ser eleito ou designado para nenhum cargo da entidade. Já os atos que ele vier a praticar em nome da CBHb perante o COB, estão validados pela decisão judicial”, disse o COB, em resposta ao blog.

Fogo amigo

Por fim, a própria CBHb admite, por meio de mensagem eletrônica, que as coisas não andam lá muito normais dentro da entidade.

“Reafirmamos nosso compromisso e dever para com o cumprimento das decisões judiciais. Isto posto, esclarecemos que a Confederação Brasileira de Handebol em consonância com seu Conselho de Administração, reconhece a soberania das Decisões do Comitê Olímpico do Brasil e de seus Conselhos no âmbito olímpico brasileiro e, portanto, o Sr. Ricardo Luiz de Souza ocupa o cargo de 1º Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Handebol apenas por decisão judicial. Como já de conhecimento público, o Sr. Ricardo Luiz de Souza foi julgado e condenado pelo Conselho de Ética do COB por desvio de conduta ética ao ter assediado sexual e moralmente uma funcionária da CBHb durante os Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019.”

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“Apesar da liminar que concede ao Sr. Ricardo tão somente o retorno à Vice-Presidência da CBHb, o contínuo desrespeito dele à Decisão do CECOB – afastamento do cargo e suspensão por 2 anos do Movimento Olímpico por atos de assédio sexual e moral contra uma funcionária da CBHb – incorrerá, possivelmente, na desfiliação da CBHb do Movimento Olímpico do Brasil, conforme notificação do CECOB”, respondeu a assessoria da CBHb (grifos são da mensagem original).

O resumo de toda esta crise é bastante fácil de adivinhar. Enquanto os cartolas brigam para não largar o osso do poder, os atletas, mais uma vez, serão os grandes prejudicados. No caso da seleção masculina, vale lembrar que a equipe ainda busca classificação para a Olimpíada de Tóquio-2020.

O Brasil, definitivamente, não é para amadores.

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