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Laguna Olímpico

CBV e seu tribunal promovem uma Inquisição a Carol Solberg

Julgamento da próxima terça-feira pode impor uma pena extremamente rigorosa para a jogadora, que só exerceu sua liberdade de expressão

Carol Solberg vôlei de praia
A jogadora de vôlei de praia Carol Solberg, que será julgada pelo STJD da CBV na semana que vem (Wander Roberto/Inovafoto)

O dia 6 de outubro poderá entrar, de forma triste, na história do esporte olímpico brasileiro. Na próxima terça-feira, a jogadora de vôlei de praia Carol Solberg será julgada pelo pecado mortal de ter se manifestado publicamente, em uma entrevista após uma partida do Circuito Brasileiro, contra o presidente Jair Bolsonaro. E as chances de receber uma punição rigorosa são consideráveis. Se for condenada, pode pegar uma suspensão de seis torneios e até R$ 150 mil.

Nestes estranhos tempos que vivemos, nos quais as democracias no mundo todo estão sendo ameaçadas por uma onda reacionária, Carol Solberg viverá sua própria Inquisição. E tal qual nos tribunais comandados pela Igreja Católica na Era Medieval, a sensação de condenação no STJD parece inevitável.

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Tudo isso com participação direta da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) e, por incrível que pareça, da comissão de atletas da entidade, cujo presidente é o campeão olímpico de vôlei de praia Emanuel Rego. Os dois lados ficaram chocados, ao que parece, com um “Fora, Bolsonaro” proferido por Carol no final de uma entrevista na decisão do bronze, na primeira etapa do Circuito Brasileiro, em Saquarema (RJ), no último dia 20.

O que revolta mais neste episódio é o cinismo disfarçado de seletividade nos movimentos protagonizados pela CBV e sua comissão de atletas.

É cínico porque com a desculpa de defender a imagem da entidade e da modalidade, a CBV está mais preocupada mesmo é em defender o cofre. A Confederação morre de medo de sofrer alguma retaliação de setores ideológicos radicais do Palácio do Planalto, através de uma ordem para cortar o patrocínio do Banco do Brasil.

Motivo financeiro

Realmente, seria um baque nas contas da CBV perder os milhões pagos anualmente pelo banco, parceiro de quase três décadas da entidade. Portanto, o único motivador deste processo contra Carol Solberg é o financeiro. Um detalhe importante: a jogadora não é patrocinada pelo Banco do Brasil, ao contrário do que propagam as “fake news” que invadiram as redes sociais nas últimas semanas.

Já a seletividade aparece em razão da CBV ter feito uma nota defendendo a liberdade de expressão quando alguns atletas fizeram explicitamente campanha ao então candidato Jair Bolsonaro, no Mundial de vôlei masculino de 2018. Daquela vez podia, mas agora não? Curioso…

Pode-se até discutir se aquele seria o momento certo para a manifestação de Carol Solberg (eu pessoalmente não vejo problema algum). Mas é falácia dizer que até a Carta Olímpica proíbe este tipo de manifestação. A proibição em questão – que inclusive está sendo combatida por atletas no mundo todo – se restringe às cerimônias de premiação. A fala da filha da grande Isabel Salgado aconteceu em uma entrevista!

O mais irônico de tudo, como revelou o blog “Olhar Olímpico”, do “UOL”, é que o relator do processo, o subprocurador Wagner Vieira Dantas, é declaradamente um crítico do presidente Bolsonaro, compartilhando em suas redes sociais mensagens contra o governo.

Censura não é novidade

Na verdade, trata-se de uma clara tentativa da CBV em controlar todo e qualquer tipo de posicionamento que vá contra seus interesses. Em português claro, chama-se censura. O fato de colocar no regulamento do torneio um artigo proibindo declarações que prejudiquem a imagem do evento nem é inédito em relação à CBV.

Em 22 de fevereiro de 2008, na coluna Diário Esportivo, que assinava no “Diário de S. Paulo”, registrei o seguinte:

“Proibido criticar
Se é ruim em fazer regulamentos, a CBV também possuí um outro grave defeito: o autoritarismo. Há anos existe um item nos regulamentos da Superliga que proíbe jogadores, técnicos, dirigentes e outras pessoas ligadas diretamente à competição de fazerem comentários que a entidade classifique como “depreciativos”.

Capitão punido
E foi justamente por expressar seu descontentamento com a nova fórmula de disputa que o ponteiro Nalbert, do Minas, foi advertido no ano passado. E qual foi o grande pecado do capitão da equipe medalha de ouro em Atenas? ‘Eu discordo completamente do fato de a final ser realizada em um único jogo. O grande filé mignon vai durar muito pouco’”.

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