A próxima quinta-feira (1º) marcará o final das comemorações pelo vigésimo aniversário da Olimpíada de Sydney-2000. A edição considerada marcante dos Jogos Olímpicos foi tratada com carinho aqui no blog nas duas últimas semanas. Esta saborosa viagem no tempo é encerrada hoje (29), falando sobre uma espécie de rejeição que o torcedor brasileiro demonstra sobre a primeira edição olímpica do novo milênio.
Convenhamos, o “esquecimento” dos Jogos de Sydney-2000 na memória afetiva do fã olímpico brasileiro até tem razão de existir. Afinal, aquela ficou conhecida maldosamente como a Olimpíada “prateada” por estas bandas. Foram seis medalhas de prata e outras seis de bronze trazidas na bagagem, mas nenhuma de ouro. O sentimento de frustração foi marcante, até com requintes de crueldade em algumas derrotas.
Em parte por culpa de uma expectativa (exagerada) que havia sido criada dentro do próprio Brasil.
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No primeiro ciclo olímpico completo sob o comando de Carlos Nuzman, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) chegou confiante em uma grande campanha em Sydney-2000. Um ano antes, a equipe brasileira cumpriu uma campanha brilhante nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999, onde alcançou a maior quantidade de medalhas até então (101). Parte do entusiasmo do torcedor foi imediatamente transferido para a Olimpíada, embora as diferenças técnicas entre as duas competições sejam gigantes.
Na preparação olímpica, o Brasil mostrou uma organização jamais vista até aquela edição. Pela primeira vez, criou-se uma base para a aclimatação dos atletas brasileiros, no Instituto Australiano de Esportes. Foram feitos estudos para adaptação ao fuso horário e ao clima (a Olimpíada foi realizada na primavera no hemisfério sul, em setembro, com muitas variações de temperatura). A cobertura da imprensa também foi a maior até então, graças também aos canais especializados em esporte e também os portais de internet.
A grande festa que estava programa, porém, não cumpriu a expectativa.
Coleção de decepções
A primeira medalha brasileira, a do bronze no revezamento 4 x 100 m livre, teve um sabor heroico e histórico, com o primeiro negro a ganhar uma medalha na natação brasileira. Assim como foram bem festejadas as pratas no judô, com novos nomes subindo ao pódio. O problema foi quando os favoritos começaram a cair.
A eliminação vexatória do futebol masculino para Camarões, em uma derrota no gol de ouro, foi uma delas. Mas esta ainda aconteceu nas quartas de final. Pior foi na final feminina do vôlei de praia, com Adriana Behar e Shelda. Líderes do ranking mundial, elas perderam o ouro de forma surpreendente para as australianas Natalie Cook e Kerri Pottharst. O choro compulsivo das duas brasileiras, mesmo com a medalha de prata no pescoço, dava bem a dimensão da decepção.
Igualmente dramática foi a perda do ouro por parte de Robert Scheidt na vela. A derrota na classe Laser, onde o brasileiro buscava o bicampeonato, para o britânico Bem Ainslie, teve até “fechadas” do barco do rival em cima do brasileiro. A estratégia de não deixar Scheidt ficar à sua frente deu certo e Ainslie comemorou o ouro por apenas um ponto de diferença.
A derradeira frustração apareceu justamente no último dia da Olimpíada, na final individual dos saltos, no hipismo. Após cumprir sem faltas o percurso na qualificação, o cavaleiro Rodrigo Pessoa viu a derradeira chance de ouro para o Brasil evaporar após a dupla refugada do cavalo Baloubet Du Rouet para saltar um obstáculo na final.
Resultado desprezado
O que pouca gente lembra é que Sydney-2000 também viu, pela última vez, o basquete do Brasil ir ao pódio em uma Olimpíada, com a seleção feminina levando o bronze, após uma campanha irregular na fase de classificação. Assim como o vôlei feminino, que voltou a ser superado por Cuba na semifinal, mas retornou para casa novamente com uma medalha de bronze. E como esquecer a prata do revezamento 4 x 100 metros do atletismo, imortalizada com o “É prata, é prata, é prata”, da narração de Galvão Bueno?
Os que criticam a participação brasileira em Sydney-2000 talvez não tenham notado que aquela foi até então a segunda melhor presença do Brasil em Olimpíadas, no total de medalhas. Só ficou atrás da campanha de Atlanta-1996, que teve 15 no total, mas três ouros. Talvez o maior legado dos Jogos de Sydney tenha sido a sinalização de que o esporte olímpico brasileiro tinha potencial para ser muito mais do que um mero coadjuvante, embora ainda estejamos longe de ser a potência olímpica como alguns incautos previram que aconteceria na Rio-2016.
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