Parece que os exemplos que os jogadores da NBA deram recentemente ainda vão demorar a chegar no Brasil. Enquanto nos Estados Unidos os atletas paralisaram praticamente todas as ligas em protesto contra a violência policial aos negros, por aqui entidades esportivas defendem o direito de calar a liberdade de expressão. É o que acontece no episódio envolvendo Carol Solberg, CBV e sua comissão de atletas.
Parece surreal que em pleno 2020 ainda nos deparemos com posicionamentos quase ditatoriais de entidades esportivas, querendo determinar o que um atleta pode ou não pode falar.
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No caso, a Confederação Brasileira de Vôlei fico extremamente incomodada com o posicionamento pessoal da jogadora de vôlei de praia Carol Solberg neste último domingo (20). Após a decisão do bronze na etapa de abertura do Circuito Brasileiro, quando ela e a parceira Talita estavam sendo entrevistadas na quadra, Carol disse antes de deixar a quadra, “só para não esquecer: fora, Bolsonaro!”
Uma posição pessoal, permitida em países que vivem sob uma democracia. E que nem poderia ferir a famosa Regra 50 do COI (Comitê Olímpico Internacional), que proíbe manifestações políticas em pódios ou cerimônias de premiação.
Só a que a CBV não pensa assim e ainda no domingo, emitiu uma nota oficial na qual manifestou “veemente repúdio” pela cena e disse que Carol Solberg cometeu um ato que não condiz com a ética. E ainda usou um termo considerado racista, ao dizer que “fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte”. Uma coleção de erros, na minha opinião.
Primeiro, por questionar uma manifestação pessoal, de uma atleta que não compactua com o presidente Jair Bolsonaro. Governo que por sinal, tem promovido seguidos desmontes na estrutura do esporte brasileiro. Em segundo lugar, a mesma CBV já defendeu o direito de livre expressão quando alguns atletas da seleção masculina claramente fizeram apologia ao então candidato Bolsonaro, durante o Mundial de 2018. Hipocrisia ou conveniência?
Até a comissão de atletas faz nota oficial
Como tudo pode piorar, eis que nesta segunda-feira (21), a comissão de atletas da CBV emitiu uma outra nota, inacreditável para dizer o mínimo. Nela, a comissão, presidida por Emanuel Rego, candidato a vice em uma das chapas na eleição do COB, disse que é favorável a nenhum tipo de manifestação de cunho político. A nota lamentou a atitude de Carol e lutará ao máximo para que este tipo de situação não aconteça novamente. Ou seja, a comissão de atletas defende o direito de não deixar o atleta se expressar!
É irônico ver tudo isso e lembrar que durante muitos anos, a CBV foi comandada com mão de ferro por Carlos Arthur Nuzman. Alguém que puniu e até perseguiu atletas que ousavam questionar suas regras. Depois que Nuzman saiu, a CBV também chegou a colocar no regulamento da Superliga um item proibindo que os atletas fizessem críticas à competição.
Um detalhe que não pode passar batido é a preocupação da CBV em não incomodar o governo federal. Isso poderia implicar na perda de seu contrato quase vitalício com o Banco do Brasil, que patrocina a entidade desde 1991. Só que Carol Solberg nem patrocinada pelo banco é. Ou seja, só a vontade de censurar explica.
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Os novos tempos no esporte chegaram mas parece que a CBV e sua comissão de atletas ainda não entenderam que a democracia precisa ser respeitada sempre. Querer calar o atleta é o pior caminho e não pode ser tolerado.