Era para ser uma manhã comum na cobertura da natação da Olimpíada de Sydney-2000 naquele 19 de setembro. Mal tinha acabado de me sentar na tribuna de imprensa quando vi a cena inusitada: um nadador sofrendo muito para completar a primeira série eliminatória dos 100 metros livre. Como os outros dois rivais tinham sido eliminados por queimar a largada, ele nadava sozinho, totalmente descoordenado e praticamente se arrastando na água. Em resumo, foi um fiasco.
Só que o público que lotava o Centro Aquático percebeu o esforço e aplaudiu de pé a chegada de Eric Moussambani, de Guiné Equatorial, que apesar do desempenho pífio, se tornou o herói inesperado naquela Olimpíada.
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O tempo de 1min52s72 foi tão ruim que conseguiu ficar abaixo do obtido pelo ganhador da primeira medalha de ouro olímpica nos 100 m livre. Em Atenas-1896, o húngaro Alfred Hajós completou o percurso em 1min22s2.
Veja como foi a inusitada prova de Eric Moussambani em Sydney-2000:
A exaltação da torcida australiana logo transformou Moussambani em uma celebridade em Sydney-2000. Pudera, a história dele era sensacional. Primeiro nadador da história de Guiné Equatorial, ele soube que o comitê olímpico do país recebeu em janeiro de 2000 do COI (Comitê Olímpico Internacional) um convite para disputar a Olimpíada.
Sem piscina e sem sunga
Mas havia um pequeno problema: não havia uma piscina olímpica de 50 metros em Guiné. Com ajuda do gerente de um hotel em Malabo, capital do país, pôde treinar em uma piscina de 20 metros. Chegou sem técnico a Sydney e ainda ganhou de presente de um membro da equipe da África do Sul os óculos e a sunga que usou na prova. “Às vezes, ficar em último é melhor do que terminar em quarto lugar” disse Eric Moussambani à “Folha de S. Paulo” na época.
Quem não gostou muito do exemplo de superação demonstrada pelo nadador de Guiné Equatorial foi o COI. Sucessor de Juan Antonio Samaranch na entidade, o belga Jacques Rougge liderou um movimento para que convites a atletas fora dos padrões de alto rendimento não ocorressem mais.
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“Queremos evitar situações como as de Sydney-2000. O público adora esse tipo de performance, mas eu não. Os Jogos Olímpicos são qualidade pura. Lá devem estar os melhores atletas do mundo e os outros que almejam ser os melhores”, disse Rogge, em uma entrevista ao jornal inglês “The Guardian”, em 2003.