No jornalismo esportivo, costuma-se dizer que não existe “pauta ruim” em Olimpíada. Mas algumas são bem especiais. Há 20 anos, minha escala para aquele 16 de setembro pelos Jogos de Sydney-2000 reservava a cobertura da natação. Logo no primeiro dia de disputas, pude testemunhar o ídolo australiano Ian Thorpe levar a torcida ao delírio e quase colocar o Centro Aquático abaixo. Como bônus, acompanhar a primeira medalha brasileira conquistada na Austrália, o bronze no revezamento 4 x 100 m livre. Foi a noite em que Edivaldo Valério, o Bala, levou o Brasil ao pódio em Sydney.
A expectativa para aquela primeira noite da natação estava toda voltada para o que Ian Thorpe iria fazer na piscina do Centro Aquático. Com apenas 17 anos (completaria 18 em outubro), o “Torpedo” era a grande esperança para que a natação australiana pudesse encarar o fortíssimo time dos Estados Unidos. E no primeiro dia, ele não decepcionou os 17 mil torcedores que lotaram a arena aquática.
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Na final dos 400 m livre de Sydney-2000, prova na qual havia sido campeão mundial dois anos antes, Thorpe foi absolutamente dominante, sem dar chance aos rivais. Chegou com quase três segundos de vantagem sobre o segundo colocado, o italiano Massi Rossolino, e ainda bateu o recorde mundial. Nas arquibancadas, os gritos “Thorpie, Thorpie” embalavam a festa. Mas o melhor estava por vir.
Revezamento histórico
A última prova da noite previa a final do revezamento 4 x 100 m livre. Que por motivos diferentes, dividiam as atenções de brasileiros e australianos. Provocados pelo americano Gary Hall Jr, que dias antes da prova havia dito que eles seriam “amassados”, os australianos entraram com a faca nos dentes. Os Estados Unidos largaram na raia 4, após cravar o melhor tempo na eliminatória. Segunda mais rápida, a Austrália estava na 5. Era o cenário perfeito para uma prova inesquecível.
E foi mesmo. A última passagem reservou a briga entre Hall Jr e Thorpe. O americano até se aproximou após a virada dos 50 m, mas o “Torpedo” estava iluminado naquele dia. Uma vitória com direito a recorde mundial (3min13s67) e impondo aos americanos a primeira derrota nesta prova desde que ela apareceu no programa olímpico, em Tóquio-1964.
Bala desequilibrou para o Brasil
Enquanto americanos e australianos disputavam palmo a palmo pelo ouro, o Brasil entrava na prova com o foco na medalha de bronze. Sem ter a presença do forte quarteto da Holanda, desclassificado na eliminatória, o time brasileiro sabia que a Alemanha seria sua principal rival por um lugar no pódio.
Fernando Scherer, que vinha de uma lesão no pé, abriu a disputa e entregou a prova em quinto lugar para Gustavo Borges. O experiente medalhista olímpico em Barcelona-1992 e Atlanta-1996 fez a troca em quarto lugar, assim como Carlos Jayme, o terceiro a cair na piscina.
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Até que chegou a vez do baiano Edvaldo Valério. Ele justificou na prática o apelido de “Bala” e depois de ter virado em quinto para os últimos 50 metros, teve uma performance excepcional e ao completar sua parcial em 49s12, deixou o Brasil em terceiro, com o tempo total de 3min17s40, 37 centésimos à frente da Alemanha, em quarto.
Uma chegada emocionante, como você pode relembrar pela narração de Galvão Bueno abaixo. Foi a primeira medalha brasileira em Sydney-2000. Dava a impressão que seria uma Olimpíada inesquecível para o Brasil. Até foi, mas não da forma como muitos esperavam.