No momento mais delicado do esporte olímpico brasileiro, em razão das incertezas esportivas e econômicas causadas pela pandemia do coronavírus, o adiamento, via judicial, da eleição da Comissão de Atletas do COB (Comitê Olímpico do Brasil) mostra claramente que há muito ainda a melhorar neste espaço democrático conquistado recentemente pelo movimento olímpico brasileiro.
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A eleição da Comissão do COB (chamada de CACOB) deveria ter começado na última segunda-feira (24) e terminaria nesta sexta (28). Mas a CBSk (Confederação Brasileira de Skate) entrou com uma ação na quinta-feira passada (20) e suspendeu o pleito. Estavam inscritos para concorrer às 25 vagas um total de 64 atletas.
E por que aconteceu este imbróglio?
Pelo estatuto do COB, a eleição da Comissão de Atletas deve acontecer durante a Olimpíada ou durante ano em que ela acontece. Mas o adiamento dos Jogos de Tóquio-2020 para o ano que vem simplesmente bagunçou todo este cenário.
O próprio COI (Comitê Olímpico Internacional) adiou a eleição da sua própria comissão para 2021. Já a CACOB optou por manter o pleito para este ano, com a posse marcada para 2021, já visando o ciclo dos Jogos Paris-2024.
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Foi dentro deste cenário que a CBSk resolveu entrar com a ação.
Participação prejudicada
Se a eleição acontecer ainda este ano, não permitirá a participação dos atletas das novas modalidades que deveriam estrear nos Jogos em Tóquio. São elas caratê, skate, surfe e escalada esportiva, além do beisebol, que retornou ao programa olímpico para o atual ciclo.
Do ponto de vista democrático, a reclamação do skate é justa. O caminho ideal para uma solução seria o do diálogo, e caberia à Comissão de Atletas (e ao próprio COB) tentar buscar um entendimento legal que evitasse esta polarização.
Para quem não acompanha de perto os bastidores, a presença de uma Comissão de Atletas tão robusta e representativa, aberta a atletas olímpicos de Verão e Inverno, é uma das maiores conquistas do esporte olímpico brasileiro. Para se ter uma ideia, durante o período em que o COB foi comandado com mão de ferro por Carlos Arthur Nuzman, apenas um atleta tinha direito a voto.
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A reforma do estatuto, feita em 2017, ampliou a participação no colégio eleitoral para 12 atletas. A Assembleia Extraordinária de 2019 aprovou para a partir desta nova eleição a entrada de 25 integrantes, sendo 19 habilitados a votar nas decisões da entidade. Trata-se de peso considerável, dentro de um universo de 49 membros (35 presidentes de confederações olímpicas e os dois representes do COI no Brasil).
Existem combates mais relevantes a travar agora. Brigar dentro das próprias trincheiras, com troca de fogo amigo, não irá ajudar o esporte brasileiro a superar este momento complicado.